06. The Talk

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Addison suspira, se ajeita, cruza as pernas, tenta não soltar outro palavrão e correr o risco de te que pagar mais do que já está a dever para as crianças Grey. O sofá da sala de estar é confortavelmente grande, não tanto quanto o dela, e com espaço o suficiente para que todos se acomodem, entretanto, a família parece ter o costume de ignorar aquela parte extra, amontoando-se para assistir filmes. No meio deles está a empresária, repentinamente trazido para o olho do furacão, o caos instaurado enquanto o céu cai lá fora. Depois de Rapunzel, que a surpreendeu por achar agradável, e A Nova Onda do Imperador, mais engraçado do que poderia admitir em voz alta, eles decidiram por assistir Vida de Inseto. Engraçado, mas não exigente de atenção como filme da princesa que tem músicas chamativas demais para ignorar. Ela se esgueira tirando o pé de um dos meninos do colo, provavelmente de Bailey quem está estirado prestes a cair no sono, e aos poucos desliza para a parte desocupada do móvel, aproveitando o quão entretidos estão com o enredo, apesar de parecer ser a décima vez que colocam o filme, sabendo detalhe por detalhe e as falas de cor.

As gotas batem com força contra a grande janela de vidro e o vento atravessa as frestas fazendo com que as cortinas dancem atrás deles, o tecido em lavanda a perseguindo, batendo contra suas costas e rosto. Como se tudo o que está a acontecer em seu dia, na verdade semana, fosse contra ela e a paz que tinha até alguns dias atrás. Os motivos de sua perturbação estão logo ao lado. Meredith está sentada no poltrona, evitando ao máximo olhar para ela e age como se sua mera presença fosse o maior incômodo de todos, não a culpa considerando as circunstâncias do término do relacionamento de dez anos. Já Alison, diferente dela, faz questão de a encarar, não achou que os olhos verdes pudessem parecer maiores do que estão, de vez em quando lhe lança uma careta feia ou ri do nada, a analisando dos pés a cabeça. Depois da conversa que tiveram no salão do hotel, a empresária não a julga pela forma que está agindo, está magoada por ter sido tratada de maneira mais do que injusta. A conversa de verdade é com a mãe da fera.

- Mamãe! – a adolescente chama em um sussurro, ambas se viram para ela, ignorando o fato dela também ter respondido, mesmo que por curiosidade – Eles dormiram, pode me ajudar a levá-los para o quarto?

A loira assente. Os gêmeos estão enrolados um no outro, caídos em um sono profundo de roncar baixinhos e suspirar com o conforto de suas posições estranhas. Melinda é a única que continua invicta, prestando atenção a cada detalhe do filme sem nem piscar os olhos e sem demonstrar qualquer sinal de sono, em seu colo outra gata está deitada, Leona, de pelagem branca e um tanto ranzinza.

- Moça, tem que plestar atenção. – a garotinha lhe chama a atenção, apontando para as formiguinhas – Em tudo.

Ela apenas acena e finge fazer isso, as imagens passando em sua frente sem nenhum significado, não consegue se concentrar em nada além do fato de estar onde está. Mil conversas atravessando sua mente, simulando respostas para argumentos e o que pode descobrir. Meredith não negou e nem confirmou se a garota é sua filha, mas o fato de ter aceitado que ficasse inclina a resposta para um lado, qual não sabe se gosta ou não. Se for real, significa que perdeu todo o precioso período da gravidez, o parto, os primeiros meses cheios de primeiras vezes, a chance de vê-la crescer e se tornar uma pessoa completa, então esses momentos lhe vieram à cabeça e imaginou como ela teria sido quando criança. Aposta que espoleta e cheia de respostas na ponta da língua, assim como sua mãe quando a conheceu no ensino médio, ou talvez mais centrada e calma como ela mesma, uma ratinha de biblioteca. É uma possibilidade considerando a quantidade de estantes carregadas destes espalhadas pela casa. E quando pensa em Alison criança não consegue não a imaginar como a caçula dos Grey, de cabelos de fogo longos, olhos verdes, sardas espalhadas pelo nariz arrebitado e tão delicada que parece uma bonequinha.

- Então, você vai a escola? – ela indaga com incerteza, não sabe puxar assunto com alguém dessa idade – Ou ainda não?

- Eu vou sim, é divertido. – Melinda dá os ombros e então lembra-se da conversa que tiveram sobre a faculdade da irmã – Mas a gente vai se mudar e eu vou sair da escolinha.

A Second Chance - MeddisonOnde histórias criam vida. Descubra agora