2 || Dane-se a respiração

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Quarenta minutos depois, os dois estavam sentados em celas vizinhas de uma delegacia de polícia no Queens. Anya estava sozinha na sua, mas do lado oposto da cela de Peter, dois outros menores de idade estavam sentados, ambos parecendo chapados, e eles ouviram algo sobre eles terem batido um carro ou algo assim.

  Separados por grades, mas ainda um ao lado do outro, eles estavam em silêncio desde que um policial tirou suas fotos e impressões digitais, e os mandou esperar ali.

Isso foi há quase duas horas atrás. Era sexta feira à noite. A delegacia estava lotada. Ao menos não haviam mais algemas em seus pulsos.

— Desculpa, Pete. — Anya quase sussurrou, olhando para os próprios pés — Foi culpa minha, toda minha, eu não devia...

— Tá tudo bem, Anya. — ele a encarou com a cabeça apoiada na parede de concreto — Você não teria a mala de volta se não tivéssemos ido até lá. — a mala de Anya e a mochila de Peter foram levados por algum policial anteriormente, mas Peter achava que seria devolvida para ela mais tarde, já que era óbvio que era de sua mãe e, portanto, dela.

— Deu tudo errado. O que vai acontecer com você?

Peter sentiu um nó se formar em sua garganta. Essa era a grande pergunta. Ele havia mudado de lar de acolhimento 4 vezes em um ano. Cada vez um incidente diferente. Ele saía todos os dias para patrulhar, então respeitar os toques de recolher era difícil. Além disso, aparecer com hematomas e não poder explicar exatamente de onde eles vieram não lhe dava nenhuma vantagem. Ele havia aceitado, e até se acostumado, todas as vezes que os responsáveis pelos lares pediram por sua saída. Mas agora havia algo mais em jogo.

A assistente social lhe alertou que se ele se mudasse mais uma vez, acabaria em um lar no Brooklin, e sairia do Colégio Midtown. Perderia a única coisa que ainda era familiar em sua vida, e acabaria numa escola que não lhe daria nenhuma chance de entrar no MIT e com apenas aulas básicas sobre ciência, algo que Peter não poderia suportar.

Ele olhou para os próprios pés.
— Eu não sei... — foi tudo o que pôde dizer, pois era como ele se sentia.

— Fui eu. — Anya disse de repente, olhando para Peter com determinação em seu olhar.

— O quê? — ele se virou para encará-la.

— Fui eu que te obriguei. Ameacei contar um segredo seu. Ameacei dizer algo sobre você que te faria sair de sua casa atual.

— Anya, do que você...— antes de terminar a frase, seu olhar se voltou à entrada da cela, de onde, no fim do corredor, Peter viu um oficial se aproximando com as chaves das celas.

— Me desculpe por ter feito você fazer isso, Pete. Mas eu estava desesperada para pegar isso de volta. — ela disse agora mais alto, para que o policial ouvisse.

— Você vai ser expulsa da Midtown. Vai mudar de casa! — Peter sussurrou rapidamente, inclinado para ela, segurando a grade que os separava.

Ela continuou falando como se não tivesse ouvido nada, mas havia reconhecimento em seus olhos.
— Eu não quero perder o mais próximo que eu tenho de um irmão.

Nesse momento o policial chegou e girou as chaves das celas nos dedos.

— Me desculpa, Pete. — ela concluiu rapidamente, olhando para os próprios pés, fingindo não saber que o homem havia escutado o discurso.

O policial colocou as mãos na cintura e falou com ar de desinteresse.
— Ok, pirralhos. Vamos terminar com isso. Suas assistentes sociais logo vão chegar, mas é melhor começarem a dizer o que aconteceu hoje na casa do Sr. Johnson. Um por vez, é claro. Então, quem é o primeiro a falar?

Todos os dias que fiquei sem vocêOnde histórias criam vida. Descubra agora