O Parque

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— Nós temos que conversar! — é a primeira coisa que ouço assim que cruzo as portas do apartamento.

Paro onde estou, os olhos arregalados enquanto observo a porta de madeira. A considerar pelo tom esganiçado que Maddie usa, imagino que ela e Lauren devam ter conversado nesse intervalo e ela não esteja lá muito feliz por ser a última a saber dos acontecimentos recentes.

Que isso sirva de lição: Nunca seja a última a fofocar.

Me viro comprimindo os lábios, a cabeça funda em meio aos ombros erguidos feito uma criança flagrada em meio a alguma bagunça bem comprometedora, como jogar pedras no telhado do vizinho. Maddie está sentada no sofá, os dedos pálidos dos pés bem vermelhos enquanto ela os coloca sobre a mesa de centro, os saltos repousando há alguns centímetros de distância. Seus cabelos vermelhos estão presos no alto da cabeça e ela segura uma taça de vinho com tanta elegância quanto uma chefona da máfia, combinando perfeitamente com os olhos verdes e estreitos.

— Em minha defesa... — começo, erguendo as mãos em rendição.

Maddie aponta um dedo acusatório para mim, o esmalte dourado cintilando sob a luz da sala.

— Você não tem defesa, Mariana! — ela ralha feito uma mãe mandona e dou um passo para o lado só por garantia, me assegurando de estar fora da mira de seu salto. — Você está dormindo com o ex da Lauren!

— Sim, e é só isso! — reviro os olhos, parando assim que vejo sua mandíbula travar. — Lauren está super tranquila sobre isso.

"Ela apenas acertou meu olho" completo mentalmente, mas decido que essa parte deve ficar só para mim. Foi um acidente... Eu acho.

Maddie estreita os olhos e se inclina para frente quando caminho até o meu quarto, parando a centímetros do sofá quando um movimento suspeito cruza o meu campo de visão feito um raio e some para dentro do quarto dela. Meu corpo parece uma estátua enquanto pisco atordoada, mantendo o olhar onde o objeto desconhecido desapareceu como se pudesse convocá-lo de volta por telepatia.

Aparentemente funciona, já que com um longo e dramático miado, um gato enorme e rajado ressurge. Seus olhos amarelos se fixam em mim antes dele se esgueirar rapidamente até o sofá, se deitando ao lado da minha amiga e curvando seu rabo de espanador ao redor do corpo. Não demora muito até que o monte de pelos marrom e preto passe a ressonar.

— Maddie... — começo, ainda absorvendo a estranheza da cena. — Que porra é essa?

Ela encolhe os ombros e parece que nós duas trocamos de lugar. É a minha vez de dar a bronca.

— Ele estava sozinho! — a mulher, anteriormente uma chefona da máfia, agora esganiça feito uma mocinha indefesa.

— Madison, olhe o tamanho desse gato, os donos devem estar desesperados atrás dele! Precisamos devolvê-lo!

Ela o abraça de maneira protetora, como se eu tivesse sequer feito menção de agarrar o monte de pelos. O gato solta um miado descontente, provavelmente se queixando por ter sido acordado de seu sono da beleza.

— Se se preocupassem mesmo, ele não estaria na rua. — resmunga, esfregando o rosto no topo da cabeça do bicho. O bichano esbugalha os olhos e imagino se ele sabe onde se enfiou.

A família de Madison tem no mínimo sete gatos, isso sem contar os que ela conviveu ao longo da infância. Considerando isso, os felinos são quase uma obsessão..

— Ele pode ter fugido, Mads — tento, mas Maddie me mostra a língua, e numa representação perfeita da Felícia do Tiny Toon, espreme o bicho num abraço esmagador. Tenho pena do pobrezinho quando ele finalmente salta de seu colo, mas o gato também não se mostra nenhum pouco inteligente ao rodear as pernas dela enquanto ronrona loucamente.

Ex | Tom HollandOnde histórias criam vida. Descubra agora