O Jantar

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 — Primeiro beijo?

 — Hum... — penso por alguns instantes. — Um garoto chamado Leandro, na festa de aniversário de uma colega. Não foi tão bom. Ele tinha acabado de comer pão com carne e tinha molho na boca. — A careta que Tom faz do outro lado da mesa me faz rir. — Certo, mestre das conquistas. Qual o seu?

 — Marie, 13 anos. A primeira garota da sala a ter peitinhos. — ele responde com orgulho, como se aquela fosse uma conquista digna do prêmio Nobel.

 O chuto por baixo da mesa, vendo sua expressão ir de glória a dor em instantes.

 — Não fale assim! A garota era uma criança.

 — Mas eu também era! — diz ele, ofendido. — Não estou dizendo que beijaria ela agora, mas na época foi bacana! Além disso, ela era lindíssima... E beijava bem.

 Nós nos levantamos para deixar a lanchonete, sendo recebidos pelo sopro frio do exterior do parque. Flashes esporádicos de luz solar se infiltram pelas árvores altas conforme Tom e eu voltamos à caminhada. Quase como num movimento rotineiro, ele tira seus Airpods da caixa e me estende o esquerdo, que encaixo na orelha quando recomeçamos nossa corrida ao som de sua playlist aleatória. Quando descubro que o fone esquerdo foi configurado para trocar as faixas, troco a música toda vez que Tom começa a cantarolar baixo, apenas para irritá-lo. Infelizmente, o desgraçado só ri e volta à música anterior através do celular.

 — Quer fazer algo mais tarde? — Tom volta a falar quando alcançamos o estacionamento.

 Estamos bem perto do lago Serpentine quando desativo o alarme do carro ao alcançarmos a vaga, só parando para encará-lo quando abro a porta do motorista. Tom mantém uma distância segura, os braços firmes cruzados sobre o peito enquanto me encara com um sorriso. Apesar do frio, alguns fios rebeldes grudam em sua testa enquanto os olhos piscam devagar, me analisando como se esperasse que eu corasse.

 Tiro o Airpod e o devolvo para o dono a tempo de ouvir uma notificação de mensagem.

 — Para uma super celebridade, você tem bastante tempo livre... Mas não posso, eu e as garotas cozinhamos juntas aos sábados. — dou de ombros enquanto abro a porta. — É uma tradição. Quer uma carona?

 — Não, meu carro está em outro estacionamento. — ele murmura, distante, enquanto checa o aparelho e crispa os lábios em desagrado.

 — O que foi?

 — Ana!

 É isso. Simples assim, como num piscar de olhos, todos os pelos do meu corpo se arrepiam feito um gato assustado.

 Travis!

 Fecho os olhos bem apertados, como se fosse só um sonho ruim que eu possa encerrar se me concentrar o suficiente. Espero que tudo suma, que o lago e os carros ao nosso redor se desfaçam e que eu acorde na minha cama com uma poça de baba. Talvez eu nem peça mais nada ao universo. Talvez eu simplesmente me enfie num retiro espiritual como os de Maddie e finja que a vida não é nada além de agradecer e fazer sexo tântrico...

 Nada disso acontece.

 Estou bem acordada, no meu próprio pesadelo. E para comprovar o fato, meu ex-noivo traidor está na outra ponta do estacionamento, adiantando o passo em nossa direção. Apesar da quantidade de carros, sei que eles não são o suficiente para nos esconder e que ele já está ciente da presença de Tom aqui, o que faz com que a situação seja ainda mais assustadora. Cada célula do meu ser consegue pressentir o confronto a seguir, e para piorar tudo, Tom inclina ligeiramente o celular, de maneira que eu consiga ver a tela.

Ex | Tom HollandOnde histórias criam vida. Descubra agora