Capítulo 12: Pequenos Delitos

12 1 0
                                    


O passado de Amelice Ferreira era negro, Gregory sabia disso, mas, o rapaz achava que aquilo tudo havia ficado para trás quando, há algum tempo, eles dois fecharam um trato. Amelice seria sua noiva e, posteriormente, esposa de mentirinha, em troca, ela teria conforto e segurança, coisa que, agora, Gregory começava a achar que não tinha valido muito para ela.

O rapaz estava ansioso pelo encontro que teria à seguir: ele havia marcado de se encontrar com a Irmã Júlia, uma senhora de meia-idade, que, além de ser uma excelente serva do Senhor, era a Secretária do Ministério da Igreja. 

Irmã Júlia era a viúva de Irmão Cleiton, que havia ocupado, por muito tempo, o cargo de Tesoureiro do Ministério, lugar que, logo após sua morte em decorrência de um Câncer, fora ocupado por Amelice, a partir de uma indicação do próprio Gregory.

Amelice era boa com cálculos e, sendo noiva do futuro pastor da Congregação, era, sem dúvidas, a pessoa mais indicada para ficar no cargo.

O encontro com a Irmã Júlia tinha sido marcado na casa dela, a poucos quilômetros do centro de Pedra Dourada, numa região de chácaras.

Gregory estacionara o carro logo na entrada da chácara da Irmã de fé e seguiu até a casa, onde ela já esperava por ele.

* * * 

- Essa história com a irmã Amelice mexeu muito com todos nós, irmão! - disse Júlia, enquanto se preocupava em servir um chá com quitutes de queijo para o rapaz - Imagino que o senhor e toda a sua família estejam passando por um momento muito complicado. Mas, tenhamos fé no Criador, ele sempre sabe o que é melhor para todos nós.

- Com certeza, irmã. Eu não tenho dúvidas disso.

Ele sentiu o gosto adocicado do chá percorrer sua garganta. Sentiu um conforto logo após isso.

- Eu confesso que fiquei um tanto quanto intrigada pela razão de sua vinda até aqui, Irmão Gregory. Disse que era urgente e secreto. O que houve?

Gregory sentiu o peso de sua consciência. Se aquilo fosse tudo fruto de sua imaginação, iria ficar profundamente magoado consigo mesmo e por, em algum momento insano, ter desconfiado da índole de Amelice.

- Eu serei direto, Irmã, acho que já temos ligações suficientes para pularmos as formalidades. 

- Sim, com certeza.

- Irmã Júlia - ele tentava ponderar o tom e as palavras - Me diga: a senhora acha que a Amelice poderia estar, de algum modo, desviando capital da Congregação?

A senhora parou até de respirar. 

Ela sentiu um nó na garganta, mas, não podia deixar-se calar àquela altura.

- Irmão, para ser bem honesta com o senhor e, sobretudo, honesta perante o Pai Celestial, não me leve à mal, mas...

- Não se preocupe, Irmã, Eu confio em sua índole e sei que a senhora jamais faria qualquer coisa para prejudicar quem quer que fosse. Eu quero a verdade, nada além.

A mulher tomou um gole do chá e, junto com ele, levou ar para os pulmões.

- Há algum tempo, a receita da Igreja vinha caíndo... Eu, como Secretária, tinha notado isso. Mesmo com o mesmo quantitativo de entrada, parecia queo dinheiro não rendia. A gente não conseguia mais comprar as mesmas coisas pelo mesmo valor, os preços pareciam exorbitantes e, de fato, eram. Como o senhor sabe, toda a parte financeira ficava à cargo da Irmã Amelice, mas, nada entrava ou saía sem o crivo de seu pai, o Pastor Nataniel. 

- Então, a senhora acha que não havia desvio?!

- Eu acho que havia sim e, não era pouca coisa, mas, por outro lado, imagino que seja muito difícil de conseguirmos provar isso. 

- Por quê?

- A irmã Amelice sabia como fazer... Tanto, que nunca o Pastor desconfiou de nada. Ela sabia mascarar muito bem todo o esquema. Ele é um bom homem, acreditava na palavra dela.

- Quer dizer que a senhora acha que ela manipulava meu pai?

- Sim, manipulava o seu pai e todos nós. Ela tinha uma engenhosidade na fala que poucas vezes vi alguém ter. Ela conseguia te convencer daquilo que ela queria, mesmo que fosse a coisa mais absurda desse mundo. Era algo sobrenatural. O Pastor é uma vítima, tanto quanto nós.

Gregory ficou calado, queria digerir aquela informação.

- Irmã Júlia, a senhora acha que meu pai possa saber de algo?!

- Não - ela foi firme - Seu pai sempre foi muito ingênuo. O problema não estava na aprovação dele, estava nas cotações dela, Irmão. Eram notas frias, muitas vezes. Outras tantas, superfaturadas. 

- De onde vinham essas notas, Irmã?

- Do mercado do irmão Miguel Maya.

Mais uma vez, Gregory sentiu um nó na garganta.


* * * 

Carlos Daniel sabia que já tinha visto aquele Fiat Palio Branco em algum lugar, mas, não quis criar expectativas nas duas parceiras de investigação antes da hora. 

Primeiro, ele queria provar que aquela sua teoria estava certa. E estava!

Após ir até o local onde o carro ficava, ele voltou para a Sorveteria da mãe, com o celular recheado de fotos do veículo e do local, para provar sua teoria.

Ele sabia que aquilo seria uma super reviravolta no caso e que, por A mais B, provaria que Amelice Ferreira tinha sido assassinada ou que, pelo menos, havia um motivo bizarro por trás de sua morte - mesmo que fosse um suicídio, como a policia havia dito.

Mandou mensagem para Priscila e Leyla que, em poucos minutos, chegaram até a Sorveteria.

Sentaram-se na mesa dos fundos, próxima à parede branca com pinturas rosas e amarelas. Precisavam de privacidade.

-... Como assim, achou o carro?! - Leyla, mais que surpresa, parecia indignada - E por que não nos disse nada antes?

- Por que as coisas não funcionam bem assim, Leyla - ele foi firme - Eu precisava ter certeza antes de comunicar à vocês duas. Seria muito frustrante estar enganado e, ainda mais frustrante, passar meu engano para vocês.

- Então, estamos mais perto, não é?! - Priscila parecia ignorar totalmente aquele ar de competição que havia entre Leyla e Carlos Daniel - De quem é aquele carro, Carlos Daniel?

O jovem apanhou o celular do bolso e correu até o Rolo da Câmera do aparelho, para mostrar as fotografias que tinha tirado mais cedo, quando encontrara o veiculo estacionado. 

- Voilà! - ele disse, entregando o celular para Leyla - Se deliciem.

Priscila aproximou-se da amiga e, juntas, foram vendo as imagens que estavam no celular.

De fato, era o mesmo carro: Fiat Palio Branco com uma rachadura no vidro traseiro. 

Elas foram passando foto por foto e, cada vez mais, sentiam que estavam perto da verdade.

- De quem é esse carro, Carlos Daniel? - questionara Leyla.

- Passe mais algumas fotos, bebê! - ele estava com um sorriso triunfal no rosto, as mãos cruzadas apoiavam o queixo.

Mais algumas fotos e as duas mulheres sentiram um arrepio na espinha: O Fiat Palio Branco com uma rachadura no vidro traseiro estava estacionado na Igreja de Gregory Aguiar.

Entardecer No LagoOnde histórias criam vida. Descubra agora