Capítulo 01. O Lago

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Quando Priscila Assis completou 22 anos, ganhou de presente de aniversário de seu namorado, Daniel, um cachorrinho.

Para Priscila, muito mais do que reafirmar os votos de namoro, os objetivos do cãozinho eram simples: fazê-la companhia e evitar um provável suicídio, já que ela vinha cada vez mais e mais melancólica.

Priscila batizou o pequeno de Adonis e, a partir de então, entrou totalmente na rotina dele - que, por sinal, era melhor que a dela.

Adonis tinha horário para tudo, inclusive, para passear.

Das 17:00Hrs às 18:00Hrs, ela e o vira-latas tinham destino certo: a pista de pouso de Pedra Dourada.

Construída em 1997, a pista de pouso - por muitos, chamada de Campo de Avião - só era utilizada ali quando algum político vinha até a cidade em época de campanha para Deputado Federal ou algo do gênero, no resto do tempo, servia como área de lazer: ciclismo, pilates, caminhada...

Em meio a tantas outras pessoas e animais de estimação, Priscila e Adonis se destacavam.

Ela sempre usava um boné branco - deixando o rabo-de-cavalo, formado por seus longos cabelos lisos e negros, saltar para fora dele.

As calças eram sempre em estilo legging e, a camiseta, de musculação - além dos tênis confortáveis de uma marca cara.

Adonis, por sua vez, ostentava uma língua cansada para fora e uma coleira de couro legítimo.

Eles desfilavam duas vezes pela pista de pouso - um total de 4 quilômetros - e, depois, voltavam para a cidade.

Há um caminho longo da pista de pouso até a entrada oeste da cidade, mais ou menos 6 quilômetros, e, uma parte desse caminho - praticamente deserto - passa ao lado de um lago artificial.

O lago veio após a escavação da área para apanhar areia que seria usada na construção civil. Com a época das chuvas, a água acabou sendo represada. Ao longo dos anos, o lago foi só aumentando e a vegetação ao redor começou a fazer parte das águas. É difícil dizer onde tem ou não água naquela região.

Eram 18:09hrs, quando Adonis começou à farejar algo na estrada. Ele puxava a coleira, levando Priscila para as margens do lago.

Atrás deles, o sol se punha lentamente, deixando o céu entre tons de azul, laranja e rosa.

- O que foi? - ela questionava o cachorro, enquanto ele a puxava para as margens da represa, um local gélido naquela época do ano.

Adonis começou a latir assim que tocou a pata dianteira na água gelada. Mas, ele não latia pelo frio e, assim que Priscila identificou a razão pelos latidos do cão, ela mesma, tomada por uma agonia sufocante, começou à gritar, enquanto apanhava o cachorro do chão e corria para o asfalto.

Nas águas paradas do lago, boiava um cadáver.

Entardecer No LagoOnde histórias criam vida. Descubra agora