capítulo 7

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Eu estava no vazio, tudo era frio e escuro, gotículas de água caíam no chão e respingavam ao nada. Não sabia onde estava, se ainda respirava ou este era o inferno, o nada era o meu maior medo, meus trajes estavam molhados, meus fios de cabelos pingavam no chão negro e a diadema ainda estava em minha cabeça. Por baixo da meia calça, consegui ver alguns borrões em um tom roxo escuro, com circulos amarelados e apagados. O meu desespero bateu, quando algo pesado começou a correr, seus passos ecoaram pelo vazio, fechei os olhos com força e quando os abri, estava em uma tenda pouco iluminada.

Siren estava sentada a uma cadeira, perto de minha cama temporária, sua atenção estava pregada ao livro de romance em suas mãos, seu cabelo rosa estava preso a um coque desajeitado, me levantei da cama com cuidado, Siren se levantou rapidamente e deixou o livro na cadeira, ela me deu um sorriso caloroso, mas não o correspondi, estava dolorida demais para fazer qualquer esforço. Visualizei a mesa pequena e  redonda, Renascida do fogo estava guardada à guarda-espadas e minha adaga perto de Renascida do fogo.

─ Você acordou! Como se sente?

─ Dolorida.

─ Vai passar, por sorte, consegui cuidar de seus ferimentos, além de seu corpo ser mais forte por conta... de você... de você ser... uma fêmea loba.

─ Onde me encontraram?

─ Eu não sei, Triz a trouxe para cá depois de terem exterminado as Skamos.

Triz? Não, os olhos não eram dele, eu me lembro bem dos olhos vermelho rubi.

─ Triz? Não...

─ Você acordou. ─ Uma voz masculina e cansada apareceu atrás de Siren, ela se virou assustada e ficamos de frente a Desmond. Siren caminhou com passos largos e apressados até sua cadeira, pegou seu livro e nos deixou sozinhos.

─ Esta melhor? ─ Os olhos de Desmond fitavam cuidadosamente meu rosto, o que me fez prender a respiração.

─ Morde-Costas. ─ Sim, minha primeira palavra fora "Morde-Costas".

Um ponto de interrogação se formou no rosto de beleza sobrenatural de Desmond, então, completei:

─ A adaga se chama Morde-Costas.

O feérico maior que eu sorriso de orelha a orelha para mim e suas bochechas avermelharam, ele abaixou sua cabeça e colocou uma de suas mãos na cabeça.

─ É um belo nome.

Soltei uma risada inalada.

─ Fico agradecida.

─ Pode me explicar o que aconteceu com você?

─ Eu caí.

─ Caiu a 20 metros com uma besta agarrada ao corpo?

─ Isso aí.

─ E como sobreviveu?

Desmond cruzou os braços, atento aos meus lábios, esperando que eu dissesse algo.

─ Umas coisas verdes puxaram a Skamos.

─ Aigua... ─ Desmond fez uma pausa dramática e continuou. ─ demônios aquáticos que vivem de baixo da terra das águas. Agora... uma pergunta, por que não a pegaram ao invés da Skamos?

Cocei a orelha de lobo direita e funguei.

─ A sorte estava comigo. Só isso.

Ficamos em silêncio por alguns minutos, um silêncio constrangedor, eu queria morrer ali mesmo.

─ Eu não acredito.

─ Isso não é problema meu. ─ Caminhei até o final da tenda, quando finalmente senti o vento bater contra meu rosto, uma enorme mão tocou o meu braço e me puxou contra o corpo de Desmond, ele me soltou com cuidado e tirou de minha bochecha uma parte de minha franja.

─ Por quê?

─ O quê?

─ Por que sempre me trata desta forma?

─ Desmond...

O garoto feérico me barrou e começou a falar:

─ No acampamento... eu a coloquei nesta missão.

─ Quer que o agradeça?

─ Quero que me trate como seu igual, pois você é a minha.

Soltei uma risada com escárnio e revirei os olhos.

─ Sinto muito pelo que passou, Flores, mas mesmo que seja por tempo limitado, este é o seu lar agora.

Meu estômago se embrulhou, lar... MoonCity, Dianna, minha melhor amiga, a faculdade de medicina que tanto sonhava em entrar quando saísse da escola, aquele era o meu lar, não Antharia.

─ Sabe, professor... o meu mundo, o meu mundo era diferente do seu... gostaria que você o tivesse visto com seus próprios olhos. ─ Soltei o ar de meus pulmões, uma lágrima escorreu pela minha bochecha e prossegui. ─ Eu tive sonhos, metas e o mais importante... o poder da escolha... eu fui arranca de minha vida, entende como é isso, Desmond?

─ Flores...

Atravessei sua fala e levantei a voz.

─ Fui humilhada, obrigada a servir a um homem de más línguas, obrigada a me adaptar ao meu novo corpo e minhas novas necessidades. Me rebaixaram... me rebaixaram pelo simples fato de ser diferente dos seus.
"Você não é o meu igual, está longe de ser, pois se fosse como eu... tenho a total certeza que estaria morto neste momento."

O rosto de Desmond estava indecifrável, em sua caixa torácica, seu coração batia feito um louco, após alguns segundos, o feérico respirou fundo e fungou.

─ Minha mãe... minha mãe teve um segundo casamento, um casamento em segredo.

─ Como assim?

─ O meu pai... nunca houve amor na história deles, após a morte dele... o outro apareceu.
"Ele era da casa Estrela da manhã, uma casa pouco habitável, seres que nasceram metade demônios. Minha mãe se apaixonou por ele, ela engravidou, mas acabou indo à falência depois de seu parto, uma fêmea, uma fêmea adorável e meiga chegou ao mundo como uma Estrela da Manhã... e acho que já sabe o que aconteceu."

Meu queixo caiu, nem tive a oportunidade de disfarçar.

─ Eu sou irmão de uma Estrela da Manhã, Flores, e todas as noites eu fico imaginando como teria sido ter tido ela ao meu lado, ela como minha igual.

Respirei fundo e soltei o ar lentamente, eu não sabia o que dizer, não sabia ao menos o que fazer... então, fiz o que uma Stella Maeve nunca teria feito, abri os meus braços e envolvi Desmond neles, o abraçando fortemente.

Seus braços contornaram minha cintura com cuidado, sua respiração pesada batia contra minha diadema e tudo ficou em silêncio e em paz.

𝐀 𝐓𝐄𝐑𝐑𝐀 𝐃𝐀𝐒 𝐂𝐈𝐍𝐙𝐀𝐒Onde histórias criam vida. Descubra agora