capítulo 23

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O sol tocava a raiz de minha trança, era frio, fresco, quente... minhas pálpebras estavam pesadas, eu sentia dor em lugares que nem ao menos eu sabia que existia; quando senti o toque de mãos frias, desabei. Desabei contra o chão rochoso e gelado, a última sensação que tive, foi a do floco de neve caindo sobre meu nariz sensível, a adaga havia escorregado de minhas mãos, o Mandgorgon havia voltado para o seu lugar de origem, para os feéricos, o demônio estava morto, mas o meu povo sabia o verdadeiro destino da besta. A missão havia sido comprida.

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Quando acordei, estava em um amontoado de travesseiros fofos e quentes, estava no mesmo lugar do primeiro dia ali, o quarto do castelo. Em minha frente, estava minha mãe, seu olhar estava vazio, ela limpava as unhas sem perceber que sua filha havia acordado. Eleonoora lia um livro sentada em uma cadeira prateada e chique. Ela havia percebido a movimentação de meus cílios não tocando mais minhas bochechas que agora estavam mais ossudas do que antes e magras. Os cachos dourados da feéricas até a cintura, estavam livre de elásticos, ela usava um vestido longo e bufante cinza com detalhes brancos, sua parte de cima se consistia em um corpete de linhas levemente rosadas, apertadas e amarradas, me perguntava se conseguia respirar com aquilo. Levantei o meu tronco muscular e senti uma pontada na cabeça, meu rabo estava quieto, descansando sobre o colchão macio, grosso e oval.

"𝑬𝒔𝒕𝒂𝒓 𝒂𝒒𝒖𝒊 𝒎𝒆 𝒍𝒆𝒎𝒃𝒓𝒐𝒖 𝒐 𝒅𝒊𝒂 𝒆𝒎 𝒒𝒖𝒆 𝒐𝒖𝒗𝒊 𝒗𝒐𝒄𝒆̂."

Iniciei uma conversa, talvez a última conversa.

"𝑶𝒉... 𝒆𝒏𝒕𝒂̃𝒐, 𝒒𝒖𝒆𝒓 𝒅𝒊𝒛𝒆𝒓 𝒒𝒖𝒆 𝒎𝒊𝒏𝒉𝒂 𝒗𝒐𝒛 𝒆́ 𝒅𝒆𝒍𝒊𝒄𝒊𝒐𝒔𝒂𝒎𝒆𝒏𝒕𝒆 𝒎𝒆𝒎𝒐𝒓𝒂́𝒗𝒆𝒍? 𝑰𝒏𝒕𝒆𝒓𝒆𝒔𝒔𝒂𝒏𝒕𝒆, 𝒍𝒐𝒃𝒊𝒏𝒉𝒂."

"𝑽𝒂𝒊 𝒔𝒆 𝒇𝒐𝒅𝒆𝒓?"

"𝑬𝒔𝒕𝒐𝒖 𝒂 𝒆𝒔𝒑𝒆𝒓𝒂𝒏𝒅𝒐 𝒑𝒂𝒓𝒂 𝒊𝒔𝒔𝒐."
Meus lábios formaram um sorriso travesso, minha mãe finalmente me notou, a fêmea de repente pulou sobre o meu colo e abraçou a minha cintura, amarrotando o vestido verde escuro, que tampava todo seu corpo, por completo.

Meus dedos passaram por entre os fios de cabelo dela, minha mãe estava aflita, em choque, vê-la daquele jeito fez com que algo se destruir dentro de mim, talvez fosse o meu coração que já estava fraco.

─ Está tudo bem, está tudo bem. ─ repeti, duas vezes.

Os olhos de Eleonoora, minha irmã feérica, pousaram em nós. Ela fechou o livro e se levantou, seus movimentos eram leves.

─ A distância de vocês não fez bem a ela, imagino. ─ sua voz era tão suave que quase a perguntei se fosse algum ser angelical. Seus lábios se puxaram quando as enormes portas se abriram, revelando Maryanne. A minha amiga, minha única amiga ali, de verdade. Ela estava com a felicidade estampada no rosto e nos vestidos que segurava, eu ainda usava o traje de batalha.

─ O SEU DIA CHEGOU, O SEU DIA CHEGOU, O SEU DIA CHEGOU! ─ ela cantarolava, colocou os vestidos na mesinha e segurou as mãos de Eleonoora, elas rodavam enquanto cantarolava "A FLORES CONSEGUIU", "A FLORES CONSEGUIU", a risada de ambas preencheram o quarto.

Sorri para as fêmeas e beijei a cabeça de minha mãe, ela parecia estar mais calma quando sentia meu toque.

"𝑉𝑜𝑢 𝑠𝑒𝑛𝑡𝑖𝑟 𝑓𝑎𝑙𝑡𝑎 𝑑𝑖𝑠𝑠𝑜."

"𝑃𝑒𝑛𝑠𝑒𝑖 𝑞𝑢𝑒 𝑜𝑑𝑖𝑎𝑠𝑠𝑒 𝑜 𝑐𝑎𝑠𝑡𝑒𝑙𝑜, 𝑚𝑖𝑛𝒉𝑎 𝑑𝑜𝑐𝑒 𝑒 𝑎𝑚𝑎́𝑣𝑒𝑙 𝑆𝑡𝑒𝑙𝑙𝑎."

"𝑁𝑎̃𝑜 𝑑𝑖𝑠𝑠𝑜, 𝑣𝑜𝑢 𝑠𝑒𝑛𝑡𝑖𝑟 𝑠𝑎𝑢𝑑𝑎𝑑𝑒 𝑑𝑒 𝑠𝑒𝑛𝑡𝑖𝑟 𝑣𝑜𝑐𝑒̂... 𝑓𝑎𝑙𝑎𝑟 𝑐𝑜𝑚 𝑣𝑜𝑐𝑒̂."

"𝐴𝒉... 𝑏𝑜𝑚, 𝑞𝑢𝑒𝑚 𝑛𝑎̃𝑜 𝑠𝑒𝑛𝑡𝑖𝑟𝑖𝑎, 𝑛𝑎̃𝑜 𝑒́ 𝑚𝑒𝑠𝑚𝑜?"

"𝑉𝑎𝑖 𝑠𝑒 𝑓𝑜𝑑𝑒𝑟."

"𝑆𝑢𝑎 𝑏𝑜𝑐𝑎 𝑞𝑢𝑒 𝑎𝑜 𝑚𝑒𝑠𝑚𝑜 𝑡𝑒𝑚𝑝𝑜 𝑒́ 𝑡𝑎̃𝑜 𝑙𝑖𝑛𝑑𝑎, 𝑒́ 𝑠𝑢𝑗𝑎, 𝑠𝑎𝑏𝑖𝑎?"

"𝑂𝑘."

"𝐸𝑠𝑡𝑜𝑢 𝑏𝑟𝑖𝑛𝑐𝑎𝑛𝑑𝑜, 𝑟𝑒𝑙𝑎𝑥𝑒."

"𝑇𝑢𝑑𝑜 𝑏𝑒𝑚."

"𝐸𝑢..."

"𝑂 𝑞𝑢𝑒̂? 𝑂 𝑞𝑢𝑒̂, 𝑁𝑖𝑎𝑟?"

"𝑇𝑎𝑚𝑏𝑒́𝑚 𝑣𝑜𝑢 𝑠𝑒𝑛𝑡𝑖𝑟 𝑓𝑎𝑙𝑡𝑎 𝑑𝑖𝑠𝑠𝑜.... 𝑚𝑢𝑖𝑡𝑜 𝑛𝑎 𝑣𝑒𝑟𝑑𝑎𝑑𝑒."

"𝑆𝑒́𝑟𝑖𝑜 𝑚𝑒𝑠𝑚𝑜?"

"𝑆𝑒́𝑟𝑖𝑜 𝑚𝑒𝑠𝑚𝑜, 𝑎𝑚𝑜𝑟."

𝐀 𝐓𝐄𝐑𝐑𝐀 𝐃𝐀𝐒 𝐂𝐈𝐍𝐙𝐀𝐒Onde histórias criam vida. Descubra agora