capítulo 9

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Levantei de minha cama com cuidado, o sol batia contra a janela, trazendo seu brilho para dentro do ambiente e esquentando o chão e tudo que tocava. Eu não estava em castelo algum, estava no apartamento em que minha mãe e eu morávamos a mais ou menos 8 anos e 4 meses, corri até o banheiro do meu quarto e pude me ver em reflexo. Eu havia voltado a ser a antiga Stella Maeve.

A Stella sem aquelas anomalias, sem os olhos amarelados, as marcas e borrões roxos em meu corpo... nada. Era como se aquilo talvez tivesse sido apenas um sonho, talvez tenha sido mesmo.

Minha mãe me gritou, pedindo para que eu lhe fizesse companhia no café da manhã, então assim fiz, coloquei minha pantufa de gatinho branco e fui para a cozinha. Minha mãe estava com os fios de cabelo amarrados à um elástico acinzentado, deixando com que eles caíssem sobre seus ombros cobertos por uma blusa preta feita de cetim, camiseta xadrez com misturas de vermelho e preto, uma calça jeans com vários furos e uma sapatilha preta com um laço na ponta.

A mesa estava coberta por diversos pães, geleia, suco de laranja, bolos e outros produtos alimentícios que ainda não havia reparado. Minha mãe abriu um sorriso caloroso e alegre para mim, me puxando para um abraço apertado.

─ Minha lobinha... ─ senti sua respiração bater contra meu cabelo.

─ Oi.

─ Dianna já está vindo lhe buscar, querida, você precisa se alimentar.

─ Dianna? Por que viria me buscar?

Minha mãe me soltou e fungou o nariz.

─ Sua boba! Não é possível alguém se esquecer do próprio aniversário.

─ Aniversário? ─ O que? Meus dezoito anos haviam chegado...?

─ 31 de outubro, Stella, o seu aniversário.

─ E o dia das bruxas. ─ falei sem ânimo.

Ela revirou os olhos, pegou uma torrada e enfiou em minha boca delicadamente.

─ Coma. Se vista. Preciso terminar a fantasia da filha da senhora Vanbel.

Mastiguei ligeiramente, por incrível que pareça, não havia sentido nada, completamente nada... mamãe caminhou para o quarto de costura, acabei a seguindo, parando na porta com a parte da torrada ainda não comida em mãos.

─ O que é a fantasia dela?

─ Hm...? Ah! Lobo, a garotinha irá como uma Loba metade humana. Acho que se fala assim, não sei... ─ mamãe dizia enquanto colocava os óculos arredondados e delicados, desde pequena, a mesma amava criar vestimentas, então com o tempo... ela acabou se aperfeiçoando e fazendo disso seu trabalho.

"Uma Loba metade humana", meu estômago doeu, como se alguém houvesse batido com o punho em sua boca.

Corri em direção ao quarto e peguei a primeira coisa que vi em meu closet, era um macacão branco com rendas em cor rosa claro, um tênis branco com detalhes pretos e amarrei meu cabelo. Era estranho 𝗻𝗮̃𝗼 ter um rabo, orelhas animalescas ou qualquer outro sentido de lobo que tinha.

"𝑵𝒊𝒂𝒓? 𝑬𝒔𝒕𝒂́ 𝒂𝒊́?"

Nada, nenhuma resposta. Minhas mãos estavam trêmulas e minhas pernas formigavam. Coloquei meu celular no bolso da frente do macacão e saí do meu quarto, passando por todos os cômodos até chegar na porta de saída do apartamento que morávamos.

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─ O que acha de uma fantasia de gatinho? ─ Dianna falava enquanto mexia nas fantasias da loja de roupas. Seu namorado, Anthony, um garoto trans, humano de dezessete anos, havia nos deixado nesta loja, enquanto dava uma olhada em outras perto da que estávamos.

𝐀 𝐓𝐄𝐑𝐑𝐀 𝐃𝐀𝐒 𝐂𝐈𝐍𝐙𝐀𝐒Onde histórias criam vida. Descubra agora