𝟐. 𝐂𝐀𝐋𝐌𝐎 𝐄 𝐒𝐄𝐆𝐔𝐑𝐎

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Sinopse: Rhysand chama Feyre pelo laço para se despedir depois do que aconteceu sob a montanha.

———

Fui tirada do sono por algo repuxando meu tronco, uma linha bem no interior.

Deixei Tamlin dormindo na cama, o corpo pesado de exaustão. Em algumas horas, deixaríamos Sob a Montanha e voltaríamos para casa, e não queria acordá-lo mais cedo que necessário. Rezei para algum dia conseguir dormir com aquela tranquilidade de novo.

Eu sabia quem tinha me convocado muito antes de abrir a porta para o corredor e caminhar por ele, tropeçando e cambaleando de vez em quando, conforme me ajustava ao novo corpo, ao novo equilíbrio e aos ritmos. Cuidadosamente, devagar, peguei um lance estreito de escadas para cima, subindo e subindo, até, para minha surpresa, um raio de luz do sol se propagar pelas escadas, e me vi em uma pequena varanda que se projetava para fora, na lateral da montanha.

Sibilei contra a claridade, protegendo os olhos. Achara que era o meio da noite — tinha perdido completamente qualquer noção de tempo na escuridão da montanha.

Rhysand deu um risinho baixo de onde eu mal conseguia distingui-lo, parado, sozinho, no parapeito de pedra.

— Esqueci que faz um tempo para você.

Meus olhos doeram devido à luz, e permaneci em silêncio até poder observar a vista sem sentir uma dor lancinante na cabeça. Um campo de montanhas violeta, com picos nevados, me recebeu, mas a rocha da montanha era marrom e estéril; nem mesmo uma faixa de grama ou um cristal de gelo reluziam nela.

Olhei para Rhysand por fim. Suas asas membranosas estavam à mostra — fechadas atrás dele —, mas as mãos e os pés pareciam normais, nenhuma garra aparente.

— O que você quer? — A frase não saiu com o tom afiado que eu pretendia. Não quando me lembrei como ele lutara, diversas vezes, para atacar Amarantha, para me salvar.

— Apenas dizer adeus. — Uma brisa morna agitou seus cabelos, soprando mechas de escuridão dos ombros de Rhysand. — Antes que seu amado a leve para sempre.

— Não para sempre — falei, agitando os dedos tatuados para que Rhys os visse. — Não tem uma semana todo mês? — Aquelas palavras, ainda bem, saíram gélidas.

Rhysand deu um leve sorriso, e as asas farfalharam, se acalmando depois.

— Como pude esquecer?

Encarei o nariz que eu vira sangrando apenas horas antes, os olhos violeta que estavam tão cheios de dor.

— Por quê? — perguntei.

Ele sabia o que eu queria dizer, e deu de ombros.

— Porque quando as lendas fossem escritas, eu não queria ser lembrado por ficar de fora. Quero que meus futuros filhos saibam que eu estava lá, e que lutei contra ela no final, mesmo que não tivesse conseguido fazer nada de útil.

Pisquei, dessa vez não por causa da claridade do sol.

— Porque — continuou Rhysand, os olhos fixos em mim — eu não queria que você lutasse sozinha. Ou que morresse sozinha.

E, por um momento, lembrei daquele feérico que tinha morrido em nosso saguão, e em como eu dissera o mesmo a Tamlin.

— Obrigada — falei, minha garganta se apertando.

Rhys lançou um sorriso que não chegou aos olhos.

— Duvido que dirá isso quando eu a levar para a Corte Noturna.

𝐎𝐍𝐄𝐒𝐇𝐎𝐓𝐒 ─ 𝐅𝐄𝐘𝐒𝐀𝐍𝐃Onde histórias criam vida. Descubra agora