Capítulo 2: Prioridades

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Timothy já não estava mais próximo a lareira. Ele havia escolhido uma poltrona não muito longe do calor e se recolheu nela. Agora adormece de braços cruzados e com a cabeça pendendo pro lado. A sala só não mergulhou em silêncio graças ao seu ronco relativamente alto.

Até então trocamos duas vezes o turno de vigília. Otto foi o primeiro que apareceu e para cobri-lo, Leon se ofereceu já que entre todos nós ele era o mais desperto no momento. Em seguida, Ária também chegou à sala meio cambaleante quase sem aguentar o próprio peso de tão exausta que se encontrava. Isso se mostrou evidente pela forma que deixou o corpo cair assim que alcançou um dos sofás. A garota que agora já decorara seu nome, Charlotte, nos comunicou que desceria para substitui-la.

Observei o relógio, duas horas tinham se passado desde a última mudança e pelo horário já estávamos no início do período noturno. Dessa forma, se tentássemos localizá-los pelas janelas seríamos severamente limitados ao alcance que as luzes do prédio nos permitiam. A escolha que tínhamos era continuar com o plano de proteger a entrada comprometida que sabíamos até o momento...

Embora não fosse o momento mais propício para se pensar nisso, me peguei relembrando meu plano sobre a finalidade de chegar ao instituto. O prédio havia sido fechado sem mais nem menos, mesmo com os crescentes resultados positivos sobre a educação. Isso era um dos motivos que me deixava inquieto. Por que fechá-lo quando estava no seu auge? Para uma cidade tão problemática quanto Sleepy Fields era, não tinha motivos para não continuar um processo que diminuiria certos casos de violência pelos arredores. Estranhamente, não saiu qualquer matéria local a respeito disso. Nada. Também não houve envolvimento da polícia o que talvez indicasse o afastamento da suspeita de ilegalidade, contudo, esse não era um pensamento muito convincente visto a corrupção na cidade. Quem sabe quais departamentos pudessem estar envolvidos... Era extremamente desconfortante o silêncio em que todos aprenderam a estar.

Olhei na direção de Timothy e de Paige. Ele estava dormindo, já ela remexia as prateleiras sem se importar muito com o conteúdo que elas continham, acredito que fosse apenas uma forma de passar o tempo. Pensando que os dois também ainda substituiriam os outros resolvi que não teria problema em sair um pouco da sala por um momento.

- Eu... Estou indo procurar o banheiro. - Ela me olhou rapidamente. - Volto em alguns instantes. - Ela concordou e retornou ao que fazia anteriormente.

Coloquei a cabeça para funcionar. No pavimento abaixo do 1º andar, provavelmente ficavam os laboratórios e coisas do gênero. Não sabia o que tinha no 1º andar exatamente, eliminando apenas a sala de estudos que encontramos. Sabendo que existiam pelo menos mais 2 andares acima, pensei que estes seriam mais prováveis para terem alguma sala de armazenamento caso quisessem esconder algo. Talvez no subsolo também, mas toparia com os outros. Quem sabe existisse algum arquivo na sala da direção. As salas ao seu entorno, caso a encontrasse mesmo, também seriam de funcionários da coordenação geral do instituto. Então estava decidido, começaria pelo andar acima e então voltaria pros outros, mais tarde tentaria mais uma vez.

A maioria das portas do primeiro corredor que não havia olhado anteriormente quando subi aqui estavam fechadas. As que estavam destrancadas não tinham muitos materiais interessantes, apenas coisas comuns relativas a ensino. Acabei por entrar em um segundo. A iluminação deste era mais precarizada, com algumas lâmpadas piscando e outras nem mesmo acesas, o que fazia alguns trechos do longo corredor ficarem obscurecidos. Olhei rapidamente as salas deste. Eram basicamente salas de aula com cadeiras reviradas. O motivo? Não sei...

Algumas estavam frias por conta das janelas abertas que fiz questão de fechar temendo o susto que tomei logo no início em que chegamos. Dei uma olhada no relógio do celular e percebi que tinha perdido um bom tempo vasculhando as salas e que talvez fosse melhor voltar, mesmo tendo noção do pouco que tinha avançado. Estava no limite entre este e outro corredor que estava totalmente escurecido. Foi neste ponto que resolvi sem sombras de dúvidas que iria retornar e que deixaria para continuar quando amanhecesse. Quando girei, a luz acima de mim apagou me deixando parcialmente no escuro. À minha frente conseguia enxergar o contorno de um corpo que era alguns centímetros mais alto que o meu. Senti um frio na espinha e congelei no lugar em que estava até que a luz retornou um segundo depois.

É ASSIM QUE EU MORROOnde histórias criam vida. Descubra agora