Capítulo 5: Olhos brilhantes

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Não havia chegado a descrever William. O que era engraçado levando em consideração o tempo que passava admirando seus traços no colégio, nos poucos momentos oportunos. Vê-lo ao meu lado conversando com Leon e Ethan me causa um certo nervosismo. Não que já não tenhamos passado algum tempo juntos, mas apenas no intuito de explorar o instituto ou então os poucos instantes que conversamos não passava de diálogos a respeito de algo que envolvesse nosso estado atual. Nada tão próximo da despreocupação momentânea que estávamos tentando deixar acontecer.

Vez ou outra sentia seu cotovelo esbarrando no meu braço e então nesses instantes ele me olhava, me causando formigamento pelo corpo e raiva por ser incapaz de desviar o olhar. William era o tipo de cara que não se envolvia muito com as pessoas ao seu redor e era bastante seletivo com o grupo que costumava andar. Quando chegou fora o centro das atenções para todo mundo, pois era peculiar a ideia de alguém chegar ao invés de partir da cidade. Ninguém nunca comentou sobre o que motivara a sua família a fazer essa escolha e com o tempo o assunto pareceu perder o interesse...

Para os outros...

Não demorou muito para que ingressasse no time de hóquei. Pelo seu físico, parecia do tipo que praticava esportes. Ele era branco e tinha o cabelo castanho com vários cachos que caíam sobre o rosto ocultando parcialmente os olhos, estes, da mesma cor que os cachos, porém em uma tonalidade mais clara. Conforme os dias passavam percebi que o mesmo tinha se aproximado de Timothy e Ethan. O segundo tinha entrado no time um pouco antes de William, e parecia nunca muito aberto a um papo pelo que havia notado. A situação aparentava ter mudado com a chegada do outro, pois os via unidos pelos corredores batendo um papo casual enquanto recolhia meus livros no armário. Logo mais tarde, William teria se consolidado de vez no colégio.

- Uryah? - Leon balançava a mão frente ao meu rosto. - Cê tá legal?

Estava com o rosto apoiado na minha mão enquanto olhava para nada em específico entre Leon e Ethan. Os dois me encaravam com expressões confusas. Virei o rosto de lado estranhando e vi que ele também me olhava sustentando um semblante parecido. Só então tinha ficado claro que enquanto conversavam possivelmente havia me desligado da situação e viajado em pensamentos. Engoli em seco, mas tentei transparecer tranquilidade. Não era uma coisa difícil de acontecer quando você está em qualquer grupo, na realidade. As pessoas podem se desligar por um instante no meio de uma conversa e era nisso que eu me apegaria. Além do mais, não tinha como qualquer um desconfiar da minha atitude e tentar ligar ao fato, pois o único na mesa que sabia de algumas intenções minhas era o garoto do cabelo rosa que insistia em ver a minha ruína.

- Desculpa aí. - Tentei soar meio cansado enquanto esfregava os olhos. - Essa situação tá me deixando maluco...

- Não esquenta. - William bateu de leve com o cotovelo no meu braço dando um sorrisinho de consolo. - O estranho seria se você estivesse bem.

- Ainda não entendo o porquê dessa demora pra encontrarem a gente. - Ethan falou sério como de costume.

- Até parece que você não conhece a delegacia da cidade. - Leon arqueou a sobrancelha. - Pontualidade não faz parte do departamento deles, cara. Aliás, acho pouco provável que nos procurem aqui tão cedo parando pra pensar. Nunca vi ninguém ali mostrar muito serviço.

- Em outras palavras, estamos por conta própria. - Cruzei os braços sobre a mesa suspirando.

Todos pareceram aceitar sem hesitar o que disse, o que era óbvio. Sleepy Fields nunca fora muito boa em aplicar leis. Bom, era notório desde cedo que nada aqui funcionaria bem quando vemos o estado da administração. Não há fiscalização sobre qualquer setor e isso era um dos principais fatores para a corrupção que acontecia pela cidade. Basicamente quem tinha um poder aquisito superior tinha passe livre quando nos referimos a certas transgressões e as denúncias quase sempre eram ignoradas ou ainda vinham com algumas intimações ao acusador. Provas? Normalmente davam um jeito de escondê-las muito bem. Educação, saúde... Tudo estava meio que condenado a um certo grau de desprezo.

É ASSIM QUE EU MORROOnde histórias criam vida. Descubra agora