Chá e Fogueira

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point of vision Ysis

Sentamos então ao redor da fogueira, tinha anoitecido estávamos nos aquecendo.

-Então, Ysis, boa escolha Celina!

A gata mia para a mulher como numa conversa.

-Celina é o nome dela então..

-Como se conheceram?

-Furtando um pedaço de pão..

A velha rir.

-Ora Celina, belo jeito de conhece-la sua traquina!

A gata deitasse no chão.

-Qual o seu nome? 

Pergunto a velha.

Margarida! Mas Celina me chama de Marga.

-A gata?

Ela rir novamente.

-Então Celina ainda não se apresentou a você..

-Desculpe.. Não entendi.

-Ora esqueça, estou caducando..

Não duvido que esteja.

-Qual sua idade minha jovem?

-Tenho 19.

-Quase a mesma idade que Celina.

Estou começando a suspeitar se essa gata é realmente uma felina.

-De pele escura, imagino o que deve ter sofrido nessa vila.

-Sim.. Sofro desde que meus pais eram vivos.

-Assassinados?

-Eu não sei, Margarida. Eu era muito jovem para entender.

-Aceita um chá minha jovem?

-De qual erva?

-Que tal capim cidreira?

-Pra mim está ótimo desde que tomes junto comigo.

-És esperta, não se preocupe, jamais envenenaria uma escolhida de Celina.

Olho para a gata que estava me olhando deitada entre as patas.

Não me caiu bem ainda essa conversa de Celina que essa velha conta.

Afinal de contas, é uma felina ou não?

Ela preparou a água fervida e colocou em uma caneca de barro polido, colocou um saco com capim cidreira na caneca e dividiu em copinhos menores para mim e para ela, ela sentou-se ao meu lado e ao lado da gata novamente.

-Aceita biscoitinhos?

-Claro!

-Celina, vá pegar o saco de biscoitos por favor!

A gata resmunga.

-Vá!

A gata então obedece a velha como se realmente entendesse a linguagem.

-Antes que me pergunte, me deixe perguntá-la

A velha se aproxima de mim.

-Não está comprometida. Está?

-Não, não senhora. Por que?

Ela rir em baixo tom.

-Obrigada Celina. 

A gata trouxe a sacola com biscoitos na boca e a velha lhe deu um tapinha nas costas, a gata volta-se a deitar por cima das patas e fecha os olhos.

-Como fez para treinar ela?

-Treinar quem?

-A gata.. A Celina.

Ela rir novamente.

-Ysis minha querida, irá entender com o tempo.

Permaneço calada, apenas pensando no que deve está realmente acontecendo.

-Seus cabelos, não são negros.

-Não.. São ruivos.

-Ora que Dádiva!

-Dádiva? Meus pais falavam que era bruxaria.

Margarida então olha para a grande Lua, respira fundo e olha para suas tatuagens em seus braços.

-Veja. 

Ela tinha um Sol e uma Lua nos braços, duas sombras de duas garotas, um gato e algumas outras coisas que não decifrei o que eram por causa da pele enrugada.

-Eles nos chamam de bruxas, porque são diferentes de nós.

-Nós?

-A muito tempo atrás, vinheram meninas como você, perdidas, exiladas e maltratadas. Por causa do tom de pele, das vestes, da cor dos olhos ou coloração do cabelo. Algumas eram exiladas apenas por terem dotes com a medicina e leitura.

-Todos os anos lidei com meninas como você Ysis. Que só precisavam de um lar, alguém que lhe as ensinasse a verdadeira vida.

-Qual é a verdadeira vida?

Pergunto intrigada para Margarida.

-Está na hora de dormir meu bem, entre. Lhe prepararei um banho e roupas limpas.

Margarida e a gata Celina entram na cabana e eu as sigo logo em seguida.

Margarida parece ser gentil, acredito em sua história, mesmo que eu não entenda. Ela preparou dois baldes de água numa banheira de madeira, esquentou a água e me deu toalhas e roupas limpas. Fechou a cortina e então tomei um banho que foi tão bom como se fosse o primeiro em décadas. Dormi na cama de Margarida junto com a gata Celina, Margarida estendeu uma rede nos troncos que sustentavam a cabana e então passamos aquela noite. 

O sol negro - A lenda.Onde histórias criam vida. Descubra agora