VALQUIRIA

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point of vision Ysis

O sol sempre foi muito quente em Santo Oficio. Em compensação os moradores não são nada calorosos.

Me chamo Ysis, moro no vilarejo de Valquiria, uma terra fértil com paisagens amplas, e uma grandiosa floresta na fronteira que nos ajudava contra ataques de conquistadores de terras. 

Sou uma mulher negra de pele clara, olhos escuros e grandes e um cabelo ruivo, mas quando preso ele aparenta-se negro então mantenho ele preso. 

Moro onde meus pais me criaram, uma casa pequena de um quarto e o sanitário logo atrás, meus pais nunca foram bem vistos na vila, então eles não deixaram muita herança para mim após a morte. Tinha apenas 15 anos e tive que viver do meu jeito, eu tinha uma porca até meses atrás, estava pronta para ser abatida quando os filhos do comerciante Jonas a roubaram de mim. Não pude toma-la de volta, a vila não é tão simpática comigo.

Já era por volta das 15h45 presumo, os comerciantes já estão retirando suas tendas; é nesse momento que eu vou até eles. Não possuo dinheiro nem itens de troca, então só me resta a sorte. Me aproximo da tenda de Jonas que por algum motivo está aos gritos dentro da carroça, me aproveito da oportunidade e consigo um pedaço de pão e restos de queijo cortados numa tábua, me retiro de lá como uma poeira,  imperceptível. Subo até um pequeno morro de grama e vejo o sol se pôr enquanto como o que restou de uma velha tenda de vendas.

-A vida é uma merda.. Perdoe-me o palavriado Santa Maria, mas estou farta.

Ao resmungar vejo um belo gato negro de olhos verdes me encarando, ele está sentado delicadamente ao meu lado encarando meu pedaço de pão como que implorando sutilmente por uma migalha, parto então em metade o que já era metade, e como junto com o gato que ao se virar e levantar seu peludo rabo vejo que é uma fêmea.

-Por que ainda não fugiu gata? não lhe pareço uma ameaça é isso?

A gata mia para mim e deita-se

-Suponho que sim, pois saiba a senhorita que posso ser bem meticulosa e perspicaz está ouvindo felina?

A gata novamente mia olhando para mim.

-Será que me entendes? 

A gata dessa vez apenas me encara.

-Que bobagem Ysis, está tão sozinha que delira.

Me levanto e vou andando pelo caminho de volta para casa, quando percebo que a mesma gata me segue, como se me conhecesse, como se fosse minha amiga. Tento espanta-la mas ela apenas me olha confusa,  olho ao redor e alguns moradores me julgam por estar andando com um gato negro, ao sentir o que estava acontecendo percebo que a gata e eu temos o mesmo significado para os outros, então permito que ela venha comigo -Ela viria mesmo se eu não quisesse- Ao chegar em casa, a gata deita-se em cima de um velho assento de madeira que usávamos para jantar.

-Saia daí, pode desabar se sentar-se aí.

A gata gira-se em três voltas e então deita-se me ignorando.

-Pelo menos te avisei, teimosa!

Ignoro a gata e deito-me na cama, que não passa de três lençóis rasgados e um bolo de linhas de algodão como travesseiro. Olho para a goteira logo acima dos meus olhos e consigo enxergar a lua, me pergunto se um dia mudarei de vida ou deixarei de tê-la. 

O sol negro - A lenda.Onde histórias criam vida. Descubra agora