Oito • Observando de longe

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Percy Jackson

Eu demorei onze anos para fazer aquilo e com certeza havia situações mais apropriadas, mas eu não tinha mais nada a perder.

Quer dizer, ela estava namorando e eu havia acabado de pedir para ela ir embora e fazer a vontade do namorado: se afastar de mim. Já havia perdido tudo o que me importava de verdade.

Annabeth parecia chocada demais com a minha declaração repentina e inapropriada, porque depois de minhas palavras, ela apenas murmurou um "Sinto muito", me dando a certeza de que não era recíproco, e então eu gritei com ela, ela pegou as malas e correu até seu quarto, batendo a porta em seguida.

E depois foi embora.

Todos os dias, sua saída de casa rondavaminha mente com todos os detalhes possíveis: ela me olhava chocado depois da declaração; eu gritava para ela sair dali; ela entrava em seu quarto, eu entrava no meu e trancava a porta e; três horas depois saía, já encontrando a casa e seu quarto relativamente vazio, com apenas algumas blusas e moletons – que ela sabia que eu a amava — jogados nas gavetas.

Depois de relembrar o momento pela centésima vez, cheguei a um ponto que não a dor parecia não me atingir mais, era como se meu corpo estivesse todo dormente.

Eu não o encontrava mais no St. Claire College. Ele provavelmente chegava mais tarde, já que seu horário era apenas a partir do segundo tempo, mas boa parte de mim acreditava que ele só chegava mais tarde para não poder esbarrar em mim.

Eu apenas a observava de longe, andando rapidamente pelos corredores às vezes e sorrindo para alguns alunos, sempre com sua bolsa preta de couro que eu odiava. De longe, ela parecia tão linda quanto quem estava a portando.

O meu apartamento estava uma bagunça. Eu não tinha disposição para arrumar nada, mas uma vez na semana me obrigava a fazer o esforço de pôr pelo menos minhas roupas na máquina de lavar e lavar a louça. Era o mínimo.

E assim eu segui meus dias após a partida de Annabeth Chase. Quando eu percebi, haviam se passado três semanas.

- Oi, mamãe. Bom dia - com meu celular na orelha, abri um sorriso, por mais que ela não pudesse me ver.

- Vejo que alguém acordou de bom humor, uh? - sua voz doce ecoou por meus ouvidos e logo eu senti todos os meus músculos relaxarem com a calma que ela me trazia. Falar com a minha mãe era sempre uma terapia.

- Apenas animado com as festas se aproximando - disse distraído, pondo o celular no viva-voz em cima do balcão para poder fazer meu chá.

- Eu estou com tantas saudades meu amor.

- Apenas vinte dias, mãe. Logo estarei aí fazendo bagunça. Como está meu padrasto?

- Esta bem, Ele esta se arrumando para o trabalho,mas e você, amor? Como está?

- Tudo muito corrido, mas estou bem. As coisas estão caminhando bem nesse período.

- E a Annabeth, como está? - meu corpo gelou apenas de ouvir seu nome.

Minha mãe não sabia de toda história. Eu apenas havia dito o que eu sabia que ela gostaria de ouvir: ela estava namorando e decidiu pacificamente se mudar para o apartamento de seu namorado. E eu estava bem sozinho.

Isso, em partes era ruim, porque significava que ela ainda me perguntaria sobre Annabeth e eu seria obrigado a inventar uma mentira, como se ainda fossemos os melhores amigos do mundo. Mas era o certo a fazer, eu não queria minha mãe preocupada comigo atoa.

- Está bem, uh... bem ocupada. Ainda não falei com ela essa semana, não temos saído juntos. Hoje é quinta, então devo vê-lá.

- Oh, é uma pena - senti seu tom desapontado e meu coração se apertou. — Bem, mande um beijo para ele quando o vir. Preciso desligar, meu querido. Beijos, te amo.

Ouvi um grito ao fundo dizendo "Beijos, Percy" e reconheci a voz do meu padrasto Paul e mandei outro beijo para ele, em seguida desligando o celular.

|...|

- Aula livre, pessoal. A sala está aberta para vocês pegarem o que quiser. Só peço para que consigam conciliar o espaço da quadra, evitem brigas desnecessárias - Avisei e logo ouvi murmúrios felizes. Me sentei na arquibancada e dobrei minhas pernas, observando alguns alunos correrem até a sala onde todos os objetos usados em aula estavam dispostos.

- Hey, treinador Jackson - uma das minhas alunas, Beatrice, sentou-se ao meu lado. Sorri e balancei a cabeça em cumprimento.

- Não vai se juntar às suas amigas?

- Eca! O senhor que me desculpe, mas eu abomino qualquer atividade física - gargalhei de suas palavras e ela sorriu. Observei-a olhar para cima e dar uma risada.

- Do que está rindo? - perguntei confuso, olhando para onde seu olhar estava direcionado há segundos atrás. Apontava para a janela do prédio da escola que eu reconheci por ser a sala dos professores.

- Professora Annabeth, como sempre, olhando para a quadra.

Meu coração doeu ao ouvir seu nome, e eu mal prestei atenção na frase dita. Era como se apenas seu nome me chamasse atenção e junto com ela todas as memórias viessem, fazendo meu peito se apertar.

Mas eu me obriguei a tirar tudo da cabeça e dar atenção ao o que Beatrice falava. Afinal, era algo relacionado a Annie.

- Desculpe? - Perguntei e Beatrice sorriu para mim.

- A professora Annabeth está todas as quintas na janela da sala dos professores, observando a quadra. Algumas vezes ele sorri, outras solta pequenas risadas ou apenas observa tudo seriamente. Eu e minhas amigas apostamos que ela estar à fim de algum garoto da turma, mas descartamos isso quando vimos o olhar dela acompanhar cada movimento seu, professor Jackson.

A olhei chocado. Então Annabeth ainda chegava antes de seu tempo começar? E ela sempre observava minhas aulas? Céus, eu me sentia um idiota por nunca ter percebido.

- Eu sei que é errado se meter na vida dos professores, mas eu sei também que vocês costumavam chegar juntos e há um tempo pararam. Vocês são tão bonitinhos juntos! Não deixem esses garotos babacas dizer besteiras sobre os dois!

- Hum... eu acho que você entendeu errado - murmurei sem graça, já sentindo meu rosto corar. Por Deus, era uma aluna ali! Eu deveria ao menos manter minha postura e no mínimo repreendê-la por estar se metendo na minha vida. Mas eu não o fiz, simplesmente por ver sinceridade em suas palavras. - Eu e a Annabeth somos amigos. Amigos de longa data.

- Oh. Certo - Beatrice sorriu sem graça. - Mas ainda é sério quando digo para não dar ouvidos à algumas pessoas. Elas trazem energia negativa - completou, saindo de perto de mim.

E então eu passei o resto do tempo pensando em como havia chegado ao ponto de receber conselhos de alguém dez anos mais nova que eu.

Invisible String (Percabeth) Onde histórias criam vida. Descubra agora