Um • Meu amigo, Percy

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- Percy ! - gritei enquanto olhava a lama secar no meu lindo tapete branco e fofo. Gemi de frustração e me joguei no sofá, já sabendo que eu seria obrigado a limpar aquilo porque se dependesse de meu amigo, aquela lama ficaria ali até nossa morte.

- Qual é a bronca dessa vez, querida? - Percy perguntou com sua voz doce e inocente. O olhei entediada e meu amigo sorriu para mim, provavelmente já sabendo do que se tratava. Ele se virou e caminhou até a cozinha, voltando segundos depois com um produto para limpeza e uma flanela.

- Pelo menos isso - murmurei, pegando seu pequeno par de tênis da Adidas e colocando em seu devido lugar. Percy soltou uma risada e ajoelhou no tapete para limpá-lo.

- Você poderia ao menos me elogiar, sabe? Eu não deixei o trabalho para você.

- Awn, meu cabeça de alga. Eu estou orgulhosa da sua evolução, quer um beijinho também? - me abaixei em sua frente e levantei seu rosto com minhas mãos, depositando um beijo estalado no mesmo. Percebi Percy corar e murmurar um "bobinha" enquanto eu me levantava e ia até a cozinha decidindo se fazia a janta ou se pediria algo para comermos.

- Eu estou com desejo de pizza, se é isso que você está se perguntando - o ouvi gritar da sala e arregalei os olhos, me assustando com o fato de que estava realmente pensando se ele iria reclamar e fôssemos comer pizza esta noite.

- Você é um pedaço de merda, Percy - gritei de volta enquanto pegava o telefone para pedir a janta.

Voltei para a sala depois de fazer o pedido e assim que sentei no sofá, Percy se levantou para guardar os produtos na área. Aproveitei a oportunidade para ver se ele havia realmente limpado tudo e sorri satisfeita quando vi o tapete apenas com uma mancha molhada, mas sem nenhum resquício de lama.

- Vendo se meu trabalho foi bem feito ? - fui surpreendida por sua voz e seu corpo caido ao meu lado no sofá.

- Bem, pela primeira vez em anos você assume suas sujeiras e as limpa, minha desconfiança é justificável.

Ele sorriu e me puxou para trás, envolvendo meu corpo com seus braços. Percy tinha vinte e dois anos - quase chegando aos vinte e três - e era três anos mais velho que eu. Mas pela sua maturidade fazia o parecer mas novo.

Percy foi maior que eu até os seus dezenove anos, depois disso passou apenas a me xingar e se conformar com o fato de eu estar tendo mais a aparência de protetora do que ele.

- Eu vou ignorar suas palavras, ser um bom amigo e te perguntar como foi seu dia - respondeu, eu olhei para seu rosto, observando seus olhos fechados e seus cílios tocarem levemente suas bochechas coradas. Tão bonito.

- Cansativo. Alunos do nono ano são uns diabinhos quando querem. O sétimo ano é ainda pior - murmurei, me sentindo exausta só de lembrar das aulas. Eram turmas ótimas, mas agitadas, isso dificulta bastante parte do trabalho.

- Urgh! Isso me fez lembrar as garotas dando em cima de mim hoje na aula do primeiro ano médio - Percy abriu os olhos, ajeitando sua postura sem me soltar. - Acredita que uma delas disse que eu deveria ter orgulho da minha fartura?

- Oh meu Deus, isso é tão horrível! - exclamei rindo de sua cara zangada. - Se te conforta, segunda um menino do segundo me ofereceu um sexo oral para, em troca, eu passa-lo direto no próximo semestre.

- Okay. Isso foi pior - Percy se afastou de mim rindo.

Minhas turmas tinham uma grande variação de idade. Num mesmo dia eu poderia dar aula para três anos diferentes, enquanto Percy se preocupava apenas com o Ensino Médio.

Trabalhávamos em duas escolas, conseguíamos nos encontrar em uma delas nas quintas; e às sextas, sábados e domingos tínhamos a merecida folga.

Assim, rotineiramente, saímos juntos do trabalho e iríamos jantar em algum lugar que iria desde MC Donalds até um restaurante chique.

- Mas, mudando de assunto, sexta poderíamos ir ao cinema, hum? Estou louco para ver um filme que eu esqueci o nome.

- Se você esqueceu não está tão louco assim - murmurei, pegando meu celular é vendo uma mensa nova. Isso me fez despertar. - E... sexta eu tenho um compromisso.

- O que? Você nunca marca nada para sexta.

Suspirei e encarei seu rosto confuso. As famosas linhas de expressão marcadas em sua testa se intensificaram e seus lábios formaram uma pequena linha horizontal formando sua típica cara de confuso.

Percy sempre foi muito aberto com seus relacionamentos e eu com os meus. Ele sempre parecia confortável quando eu falava sobre algum garoto ou sobre alguma encontro e eu ao menos tentava reagir da mesma forma quando ele me contava as suas. Entretanto, há mais de dois anos esse não era um assunto comentado por nós e eu havia arranjado alguém, então não saberia como ele iria reagir.

Quer dizer, sua opinião contava, certo? Ele deveria aprovar aquilo da mesma forma que minha mãe teria que aprovar, afinal, ele estava ali comigo, a casa era nossa e se eu fosse levar alguém para lá, teria que ter ao menos o seu consentimento.

Por isso, eu soltei num murmúrio tão baixo que eu mal pude ouvir:

- eu tenho um encontro.

Percy pareceu ouvir todas as letras da frase e se afastou totalmente de mim, ficando a pelo meio metro de distância e me olhando surpreso.

- Um encontro? - repetiu, como se quisesse firmar a ideia mais para si mesmo do que outra coisa. - Isso é ótimo, Realmente ótimo - disse parecendo realmente feliz. E então eu soltei uma respiração que eu nem sabia estar segurando. - E é...

- Um homem. Definitivamente um homem. Seu nome é Luke.

- Pretendo conhecê-lo logo então. Já ganhou um voto meu por ser homem porque, vai por mim Annabeth, eu não te vejo com uma mulher - brincou,empurrando minha coxa com seu pé.

- Você deveria ir se foder - respondi sorrindo e Percy pareceu querer dizer mais alguma coisa , mas logo se calou. Quando iria convencê-lo a dizer, o interfone tocou.

- Vou lá embaixo pegar a pizza - avisou, correndo até o quarto e saindo de lá com sua carteira nas mãos.

E então eu fiquei sozinha, com a sensação calorosa de Percy indo embora aos poucos.

Ele era especial, eu tinha certeza. Algo forte nos cercava, algo tão fortemente bom que me fazia ir perder os sentidos de vez em quando, me deixando num estado bobo de ficar o observando por minutos e só ser acordado do transe quando ele batia em meu braço ou gritava um xingamento. Sua presença enchia meu coração de calor e eu me sentia completo apenas por tê-lo.

Eu desejava com todas as forças sentir isso por alguém um dia, porque eu gostaria de amar alguém do mesmo modo que eu amava meu melhor amigo, Percy.

Invisible String (Percabeth) Onde histórias criam vida. Descubra agora