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Assim que o ensaio termina deixo as meninas sozinhas. Se preparando para a noite de comemoração.

Vou até a árvore principal. Onde fica o refeitório. As sete mesas estão limpas e vazias. Me aproximo da beira. Sento no chão observando o movimento do povo. Todos estão um pouco agitados e animados. Claramente pela festa desta noite. E também pela conquista de hoje. Poderemos finalmente andar sem temer o maior perigo da floresta.

Solto um suspiro relaxado e inspiro o ar o fresco que bate em meus cabelos. Volto a apreciar o lugar onde nasci. As cercas altas ao longe nos protegem. Cercando o agrupamento de arvores que contém a maioria das casas. Essencialmente as dos mais velhos e também das crianças. Todas as moradias para a própria segurança destes e do futuro da tribo. O galho dos pequeninos — de até dez anos — fica na árvore ao lado da principal — onde estou agora —assim eles ficam mais perto do refeitório. Do outro lado da grande arvore os mais idosos descansam — dificilmente participam de alguma celebração — assim a bagunça das crianças não incomoda o descanso diário.

Na estrada principal é onde ficam os comércios: padarias, forjas, artesões, etc. Nas estradas de trás tem algumas casas de famílias fazendeiras e artesãs. Nos fundos, as construções mais próximas das muralhas são os celeiros que guardam nossos gados, rebanhos e montarias

A estrutura sob as árvores envolve todo o cerco de madeira. Tendo passagens por pontes de cordas e madeira — as mais longas — e de apenas madeira — as mais curtas—. Graças aos meus estudos fora a aldeia, foi possível desenvolvermos um sistema de elevação — quase automático — para podermos subirmos às plataformas nas árvores. Assim eliminando quase que por completo o uso de tranças e escadas de cipós. Muito mais seguro para os mais velhos.

Fico feliz sabendo que mesmo tendo apenas 16 anos, já fui capaz de chegar tão longe. Ser tão útil para meu povo.

— O que nossa melhor guerreira faz aqui? — Reconheço a voz velha. Abro um sorriso.

Me viro para trás vendo ela. Uma das mulheres que mais me apoiaram durante toda minha vida. Sigrid, minha avó. Apesar da idade avançada, está em uma ótima forma — como sempre — comparada às outras de sua idade. A bengala que carrega é um mero capricho das cuidadoras.

— Junte-se a mim nesta bela vista, velha. — Abriu um sorriso consentido. Aproxima-se e se senta ao meu lado sem muita dificuldade. — Reparou? — Ela pergunta olhando o horizonte. Olho na mesma direção. Não havia me dado ao luxo de olhar fora da enorme barreira de toras.

As nuvens se amontoam acima do mar. Escuras e pesadas de chuvas que em algumas horas ou menos cobririam a aldeia, mas suas águas não cairiam em nessas terras. Era um presságio de tempos difíceis.

— Ele já escolheu não foi? — Trago um de meus joelhos de encontro ao corpo. Apoio o queixo no joelho com um semblante sério.

— Ah mais tempo do você imagina. —Declarou a mais velha. —. Fiquei sabendo no dia seguinte que partiu. Já havia enviado os mensageiros. Tiveram uma reunião hoje. Quando chegou eles partiram. Seus pretendentes deveram vir para a começarão.

— De onde são?

— Terras Vulcânicas. — "Um dragão. " — Além mar. — "Mais uma vez os vikings...". — E o filho da loba velha. — Revirou os olhos opacos com aborrecimento.

— A chefe Mitsuki não é tão ruim. Só egocêntrica demais.

— Você terá de ter mais força do que nunca, minha guerreira. — Ela puxa meu queixo para olhá-la. Me solta voltando sua atenção ao outro lado da cerca. — Mostre seu valor como nunca antes. — Levantou o punho cerrado na frente do corpo. Entrelaço o meu com o dela em uma prova de cumprir com a promessa. — Você pode quebrar as malditas regras impostas pelos nossos ancestrais.

— Não, eu não posso. — Ela me olhou séria e desgostosa. — Eu vou! — Sorriu e deu uma risada esganada.

— Essa é minha menina. — Se levanta e dá uma última olhada no horizonte antes de sair me deixando só.

— Então é guerra, não é papai? Eu vou ficar mais insuportável do de nunca agora. — Me levanto. Algumas das pequenas crianças passam correndo. Levam um soquinho em suas cabeças. Elas gritam cumprimentos para mim e riem continuando a correr. Dou um riso. E resolvo finalmente ir para minha casa. Vou para a árvore e adentro a cesta e dou um puxão na corda e logo subo na plataforma do meu galho.

Minha cabana é simples. Eu mesma a construí com o conhecimento que adquiri em minhas viagens. A porta é de madeira, com entalhamento simples. As paredes externas são de um tipo de pedra que não pesam muito. É dividida em três cômodos: meu quarto, a entrada que eu uso como sala, e um pequeno cômodo onde fica um barril de água, onde molho meu rosto toda manhã. Os espaços são separados por uma parede se madeira. Não é tão grande, quanto a casa do chefe, mas para mim é muito confortável.

Abro a portal clareando o espaço da entrada — a qual havia tirado a ideia da casa de um nobre, quando invadi sua moradia — onde se encontra um sofá que costurei usando peles de popts — criaturas fofas e comilonas que devoram qualquer coisa em sua frente —, uma baixa mesa de madeira com um bordado de pele de cabra. E um vaso de flores que eu não tinha...

Enrugo a testa ao ver o vaso. Me aproximo. É um vaso bonito, porém não muito bem pintado. Isso é arte de alguma criança. Dou um sorriso singelo. Realmente sou muito adorada pelas crianças e do contrário é igual.

Pego uma das flores amarelas com cuidado pelos espinhos. Analiso a planta tentando reconhecê-la. Largo ela abruptamente. A flor cai no chão. São Josélia-Cascavel. Seus espinhos são muito venenosos, porém seu cheiro é maravilhoso. Espero que a criança que a tenha colhido esteja bem

Pego a flor novamente com cuidado. Coloco no vaso de argila e pintura de cores misturas: azul, laranja e branco, além do marrom-avermelhado natural do vaso de argila.

Vou para meu quarto encontrando a pequena invasora. Seu cabelo branco espalhado pelo colchão de couro de búfalo. Por cima do corpo pequeno um grande pedaço de pele de leopardo-das-neves com bordas de lã, e embaixo de sua cabeça um confortável enrolado de pele de coelhos. Por entre as cortinas de pele uma fresta de sol entra. Além disso, a única claridade era da pequena fada amarela dormindo junto da garotinha, ao lado de sua cabeça mais especificamente.

Me aproximo dela. Acaricio a pele branca e macia da pequena bruxa. Com pena eu a acordo.

— Ora de acordar pequena. O sol já nasceu a horas. — Ela abre os olhinhos vermelhos. — Vá brincar um pouco lá fora. Seu irmão e seus pais devem estar lhe procurando. — Sonolenta ela se senta na cama.

— S/n você voltou... — A voz embargada de sono.

— Sim, eu voltei e preciso descansar para hoje à noite.

— Você conseguiu? — Pergunta agora desperta. Afirmo com a cabeça e ela comemora. — Eu vou lá para fora, para você descansar. — Me abraça e pula da cama sem demora indo para fora. Ouço a porta abrir e depois se fechar. Me deito na cama ao lado da fada preguiçosa.

Matadora De Feras - Fanfic BNHAOnde histórias criam vida. Descubra agora