Prólogo

1.1K 64 4
                                    

Any Gabrielly

Ele vestia um casaco moletom preto escrito "Wish You Were Here", calça jeans escura e um par de tênis igualmente preto. Era quase como uma sombra vagando pelos corredores da escola mista de artes de Los Angeles. Quando ele passou ao meu lado, seu ombro esbarrou no meu. O impacto fez meu celular quase cair no chão, mas ele mal parou para pedir desculpa. O garoto simplesmente me encarou com seus olhos azuis vívidos arregalados, parecendo que estava fugindo de um serial killer e tinha acabado de esbarrar com ele. Assisti, indignada, a personificação da cor preta – exceto por sua pele excessivamente branca e seus cabelos de um loiro claro ressecado – ir embora sem se importar em ser minimamente educado.

— Any! – Hina chamou, correndo até mim. Atrás dela, Shivani corria se esforçando para alcançar nossa amiga.

Ignorei o menino que provavelmente devia estar apenas apressado demais e coloquei um sorriso no rosto, pronta para receber minhas amigas num abraço.

— Meninas! – respondi, gargalhando quando Hina pulou entre meus braços. Alguns segundos mais tarde, Shiv parou atrás de nós para tentar recuperar o fôlego com as mãos apoiadas nos joelhos e o cabelo caindo estendido como uma cortina ao redor de seu rosto.

— Você prometeu que no nosso primeiro dia entraríamos juntas – Shivani apontou, fazendo uma careta brava antes de soltar uma risada baixa e puxar Hina para que pudesse me abraçar também.

— Eu sei – falei com pesar, balançando a menor em meus braços. — Mas pensei que ia me atrasar. Desculpa, fiquei ansiosa.

Shivani saiu do meu abraço e parou ao lado de Hina, ambas com enormes sorrisos enfeitando seus rostos. Não consegui evitar e sorri também.

— Relaxa, tá tudo bem. Ainda temos a chance de entrarmos juntas na aula – foi Hina quem disse, com seu sotaque carregado.

Por mais inacreditável que pareça, naquele dia, não tinha nem uma semana que eu conhecia as meninas. Apesar de agirmos como se fôssemos amigas de infância, cada uma de nós tínhamos nascido em países totalmente distantes, e só tínhamos nos conhecido por estarmos todas sozinhas ao chegarmos em Los Angeles para fazer intercâmbio. 

Hina foi a primeira pessoa que conversei quando cheguei para conhecer a escola de artes que eu estudaria pelos próximos quatro anos. Assim como eu, ela tinha 14 anos e estava tão perdida quanto eu. Não foi difícil me enturmar com ela, visto que ela era extremamente simpática. Assim que ela sorriu e seus olhos estreitos sumiram sob as maçãs do rosto, ela me ganhou. Seu cabelo era de um tom escuro, quase preto, e era totalmente liso, batendo pouco acima do busto. Quando perguntei de onde ela era – já que seu sotaque denunciava que era estrangeira –, ela revelou ser japonesa. Lembro de ter suspirado de surpresa e admiração. Nunca tinha pensado que um dia eu iria longe ao ponto de conhecer alguém do outro lado do mundo.

Shivani apareceu pouco tempo após eu e Hina decidirmos nos unir para acompanhar o tour pela escola. Ela parecia perdida, mesmo que estivesse no meio de uma multidão de adolescentes. Seu cabelo também era castanho, mas um pouco mais claro que o de Hina. E, diferente da japonesa, os fios lisos desciam até formar ondulações na altura de seu ombro. Ela sorriu para nós duas e seus olhos também desapareceram na grandeza de sua simpatia e suas bochechas. Então, eu derreti por ela também. Nos aproximamos e descobrimos que ela também tinha um sotaque forte; era indiana. Mais uma vez, tive o vislumbre de ver quão longe eu tinha chegado. Sorri para ela e ela sorriu de volta. A partir dali, eu tinha duas novas amigas.

A escola era conhecida não apenas por seu nível de excelência e por dar oportunidades a milhares de jovens todo ano; ela tinha seu diferencial. Na fachada do prédio eram exibidas bandeiras de diversos países, bandeiras essas que cercavam toda a construção. Aquela era a representação da diversidade que vinha de dentro do local. Alunos de diversos países eram anualmente escolhidos através de audições especializadas para compor o enorme complexo de artes. Eu era um deles. Com 14 anos, deixei o Brasil para tentar à risca meu sonho: ser atriz. Fiz os testes para comseguir bolsa nas aulas de teatro e, como jamais esperei, eu consegui. Me sentia mal em assumir que aquele tinha sido o melhor dia da minha vida, mas era a verdade.

O sinal soou pelos corredores da escola e as meninas pularam ao meu lado, batendo palmas ansiosas.

— Ai, meu Deus, é agora! – Shivani exclamou, pegando eu e Hina pelos pulsos e começando a nos guiar para a sala que tínhamos conhecido quando viemos fazer o tour. A sala de aula para atores iniciantes.

Meu coração bateu forte e meu sangue disparou a correr em minhas veias, aquecendo todo meu corpo. Antes que eu tivesse tempo de levar um pouco mais de tempo para apreciar a placa escrito “Teatro: Ato I” pendurada na porta e barrar a passagem dos outros alunos, Shiv continuou a andar apressada, puxando eu e Hina em seu alcance.

— Caramba, Shivani, espera! – Hina murmurou, logo após pedir desculpa por ter esbarrado em alguém enquanto era praticamente carregada pela indiana.

Finalmente paramos, os pés fincados no canto da sala. Nos entreolhamos, todas nós compartilhando a mesma dúvida:

— Onde devemos nos sentar?

Nós olhamos ao redor, avaliando os espaços livres e procurando acentos. Não tinha sequer uma cadeira.

— No... chão? – respondi, confusa.

No fim, decidimos esperar os outros tomarem alguma iniciativa. Evitaríamos qualquer vergonha que pudesse nos perseguir pelos próximos quatro anos. Foi apenas quando o professor chegou e indicou para que nos sentássemos em meia-lua que tivemos a confirmação; realmente era pra sentarmos no chão.

A primeira aula foi incrível. Cada segundo dela. Me sentia flutuando em nuvens sempre que me lembrava onde estava. Onde sempre quis estar. Onde pertencia. Eu pertencia ao meu sonho.

Reparei, inclusive, que o mesmo menino que tinha esbarrado em mim mais cedo também faria as aulas de teatro. Mas, claro, como não reparar. Logo no primeiro dia de aula, ele tinha chegado atrasado. Em compensação, ele parecia realmente arrasado com aquela situação. E a pior parte: ele também não pediu desculpa por ter se atrasado e interrompido o professor. Aparentemente seu problema não era pressa, era apenas falta de educação. A constatação me fez revirar os olhos.

O primeiro dia se resumiu em apenas introdução. Discutimos sobre como funcionaria as aulas, como era o sistema de divisão de classes e, por fim, minha parte preferida, a que eu mais estava animada; o acampamento de verão. Acontecia todo ano, um evento onde toda a escola viajava para uma cidade vizinha e se hospedava em um hotel reservado exclusivamente para uso da escola. O acampamento era como um intensivão; as aulas continuavam, mas de maneira mais dinâmica. Eram realizadas diversas atividades e brincadeiras, mas quase metade do dia era livre para que os alunos escolhessem suas próprias atividades de lazer. Cada ramo da arte fazia sua exposição de forma diferente. Para nós do teatro, iríamos ensaiar uma peça que apresentaríamos ao final do acampamento para toda a escola.

Depois da primeira aula, fomos liberados para o almoço. Eu, Shivani e Hina fomos comentando sobre nossas primeiras impressões, nós três igualmente eufóricas. Não parávamos de rir do nada, saltitar e dar gritinhos agudos de animação.

Enquanto procurávamos uma mesa para nos sentar em meio ao mar de gente espalhada no refeitório, senti algo duro bater contra meu ombro, me fazendo perder o equilíbrio e deixar a comida apoiada sobre a bandeja se espalhar pelo chão da cantina. De boca aberta e sentindo o suco de morango que eu tinha pegado se impregnar em meus pés expostos graças as sandálias abertas que eu calçava, levantei o olhar a tempo de ver o mesmo menino, o filho do diabo, vestindo aquele excesso de preto se afastar correndo feito maluco pelo refeitório.

E foi ali que meu ódio por Josh Beauchamp nasceu e eu nunca mais fui para a escola calçando sapato aberto.

oioi, fml, conheçam minha nova filha! espero que gostem dessa nova história tanto quanto eu. tenham paciência com essa escritora amadora q finge saber oq tá fazendo. é isso, aproveitem o livro e bebam água!

Acting Love | BEAUANYOnde histórias criam vida. Descubra agora