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Any Gabrielly

Assinei meu nome na primeira coluna que achei disponível, quase no rodapé da folha destacada em uma mesa na frente da lagoa. Os responsáveis pelo acampamento diziam que a quantidade de crianças era baixa, mas tinha tantas delas ali que pensei seriamente que estava no live action de Vida de Inseto. Os pequenos projetos de gente se deslocavam de um lado para o outro, e precisei me controlar para não gritar um palavrão quando uma delas passou correndo e, por algum motivo infernal, resolveu que era uma ideia sensata e certeira puxar uma de minhas pernas.

— Caindo de emoção, Soares? – a pessoa que eu menos queria ver apareceu por trás de mim.

Me distraí por um segundo. Ele era mesmo a pessoa que eu menos queria ver? Mentalmente, categorizei as pessoas que eu mais odiava na minha vida. Joshua Beauchamp passava na frente até mesmo de Bolsonaro. Eu definitivamente queria ver mais o presidente do Brasil do que o meu parceiro de teatro. Não por questão de quem eu odiava mais. Mas queria ver Bolsonaro apenas para ter o prazer de mandar-lhe tomar no cu e voltar para a puta que pariu. E, se tivesse a oportunidade, deixar uma pedra escorregar acidentalmente da minha mão até chegar no rosto dele.

— Você ainda escuta ou esse é um método estranho que tá usando pra não me bater na frente de todo mundo? – sua voz tornou a perturbar minha paz.

— Eu nunca perderia meu tempo te batendo – respondi, dando as costas para ele. Tinha uma criança a procurar.

— Isso não vai dar certo se você continuar pensando só em si mesma – disse, segurando a manga do meu moletom. Puxei meu braço, me livrando de sua repressão. — Como sempre – sussurrou a última parte, alto o suficiente para que eu ouvisse. Não que sua intenção fosse não me deixar ouvir. Duvidava muito disso.

— Quer que eu pense em você, Joshua? – questionei, irônica. — Então saiba que, nesse exato momento, tô imaginando, pelo menos, cinco formas diferentes de te afogar naquela lagoa – apontei para a água que brilhava refletindo a luz do sol.

Era mentira. Não estava pensando em nada daquilo. Nunca diria em voz alta, mas tudo que se passava na minha cabeça era sua voz repetindo e repetindo "...se você continuar pensando em si mesma. Como sempre". Como sempre. Como se ele me conhecesse desde sempre. Ou melhor. Como se ele me conhecesse. Ponto final. Podia não ter a autoestima mais alta do mundo ou ser a pessoa mais confiante, mas sabia que eu não era egoísta. E, acima de tudo; sabia que não deveria dar ouvidos a Joshua. Nem a ninguém. Apenas eu conhecia a mim mesma, total e verdadeiramente. E talvez minha mãe, porque eu ainda precisava que ela respondesse por mim quando ia ao médico.

— Ok – se virou, me ignorando e se abaixando para assinar seu nome. Ao lado do meu. "Any Grabrielly Soares e Joshua Kyle". — Estamos procurando por... Daisy?

— De quê? – perguntei. Estava sendo o máximo de interação que já tínhamos tido sem nenhuma ofensa contra o outro.

— De carne e osso? – respondeu, como se eu tivesse feito a pergunta mais estúpida do mundo. Burro. Bem que eu disse. Cérebro tão pequeno quanto o pau.

— O sobrenome dela – expliquei, me segurando para não adicionar um xingamento no fim da frase. — Qual é?

— Amelia. – Fiz uma careta. Que tipo de nome era aquele? Daisy Amelia.

Acting Love | BEAUANYOnde histórias criam vida. Descubra agora