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Josh Beauchamp

— Josh Beauchamp! – assim que ouvi meu nome, me levantei num pulo. Com um tapa – desnecessariamente forte – Lamar, meu melhor amigo, me desejou sorte.

Subi no vasto palco, me sentindo pequeno sobre ele. Ao mesmo tempo, senti meus pés vibrarem de emoção por estarem em seu lugar favorito em todo o mundo.

Respirei fundo, focando minha visão em uma das várias cadeiras vazias do teatro. Apenas Lamar e mais alguns atores estavam presentes, mas já era presença suficiente para me deixar ridiculamente nervoso. Precisei contar até dez e me concentrar para que minha voz saísse alta o bastante. Eu sempre acabava falando baixo demais.

— Posso começar? – perguntei, coçando a garganta quando minha voz falhou.

Kyle, meu professor de teatro, confirmou com um breve aceno de cabeça.

— Só ri das cicatrizes quem ferida nunca sofreu no corpo. Mas silêncio! Que luz se escoa agora da janela? Será Julieta o sol daquele oriente? Surge, formoso sol, e mata a lua cheia de inveja, que se mostra pálida e doente de tristeza, por ter visto que, como serva, és mais formosa que ela. Deixa, pois, de servi-la; ela é invejosa. Somente os tolos usam sua túnica de vestal, verde e doente; joga-a fora. Eis minha dama. Oh, sim! é o meu amor. Se ela soubesse disso! Ela fala; contudo, não diz nada. Que importa? Com o olhar está falando. Vou responder-lhe. Não; sou muito ousado; não se dirige a mim: duas estrelas do céu, as mais formosas, tendo tido qualquer ocupação, aos olhos dela pediram que brilhassem nas esferas, até que elas voltassem. Que se dera se ficassem lá no alto os olhos dela, e na sua cabeça os dois luzeiros? Suas faces nitentes deixariam corridas as estrelas, como o dia faz com a luz das candeias, e seus olhos tamanha luz no céu espalhariam, que os pássaros, despertos, cantariam. Vede como ela apoia o rosto à mão. Ah! se eu fosse uma luva dessa mão, para poder tocar naquela face! – recitei a fala que passei a semana inteira ensaiando.

Foi mágico, como sempre. Dizer que eu me tornava outra pessoa quando atuava era eufemismo. Eu renascia. Não existia o medo de falar em público, não existia a vergonha nem o nervosismo. Nem eu existia. Existia apenas meu personagem.

Talvez fosse por isso que eu tivesse escolhido a atuação; porque, mesmo que por apenas poucas horas, eu poderia deixar de ser eu mesmo.

Finalizei meu teste, recobrando minha consciência quando meu amigo se pôs de pé a aplaudir escandalosamente. Fechei a cara para ele e forcei um sorriso para Kyle antes de receber a permissão para deixar o palco.

— Isso aí, cara – Lamar me recebeu com mais um tapa nas costas. — Esse papel já é seu. Não que isso seja surpresa. Você sempre pega os papéis principais – deu de ombros, um sorriso leve delineando seus lábios.

— Ei, isso não é verdade! – protestei. — Você já teve mais papéis importantes que eu.

— Isso é só porque já participei de mais peças que você – disse, passando os braços por meus ombros e começando a nos guiar para fora do teatro. — E esse com certeza é seu. Ninguém mais tem a cara chata igual a sua pra representar um cara chato igual Romeu.

Parei apenas para chutar sua perna, mas não contive a risada.

— Desgraçado – xinguei quando ele quase me derrubou com apenas um movimento do braço.

Acting Love | BEAUANYOnde histórias criam vida. Descubra agora