18.

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Any Gabrielly

Os ensaios tinham se tornado mais exaustivos desde o anúncio que seríamos exibidos no teatro da escola, mas, ao mesmo tempo, tinham se tornado mais divertidos e dinâmicos. Todos estavam eufóricos com a notícia, já que era algo totalmente inesperado. Era um sonho que todos nós nutríamos, e era realmente um privilégio termos sido os pioneiros com a volta dessa tradição do colégio.

Nossas horas de ensaios semanais tinham aumentado, mas fora uma escolha democrática. Tinha sido um consenso geral que deveríamos – e queríamos – nos preparar mais para o grande dia, mesmo tendo mais de dois meses de preparo. Para alguns, era muito tempo, mas, para nós, mal tínhamos tempo para respirar. Portanto, encaixamos na nossa agenda semanal as aulas que tínhamos quando não estávamos de férias: expressão corporal, interpretação, improvisação, técnicas vocais e técnicas de correlação entre os atores. Tínhamos até selecionado atores substitutos e, mesmo que fosse egoísta, eu estava torcendo muito para que eles não entrassem em cena. Aquele era meu momento.

O que todos sabiam, e contavam, era que tinham muitos olheiros que iam às peças, principalmente de uma escola focada na formação de atores. Era a oportunidade de muitos ali, e eu esperava que a minha fosse útil e decisiva. Eu não queria muitas coisas na vida, mas me tornar uma atriz bem sucedida era o maior de todos os meus sonhos. Sonhos, não. Meta. Era meu objetivo e eu chegaria lá, algum dia. Se fosse para sonhar, que fosse com algo como encontrar um unicórnio tomando banho numa cachoeira. Minha carreira não era um sonho, era meu destino.

— Vamos, Any! – Nour bateu palma, afobada.

Corri para alcançar minha amiga, que já dava as costas para sair do meu chalé. Ela estava insistindo que eu fosse assistir a um de seus ensaios e, como os meus já tinham acabado, não via motivos para não ir.

— Não sei por que essa tara de não poder atrasar nem cinco minutinhos – resmunguei depois de tropeçar numa pedra no caminho. Nour andava tão depressa que nem parou para rir.

— Nem todo mundo tem a irresponsabilidade de não cumprir horários igual a você – desviou o olhar do caminho apenas para me fuzilar com os olhos. Em resposta, rolei os olhos.

— E nunca perdi nada importante por isso – me defendi.

— Isso não quer dizer que nunca vá acontecer.

— E chegar mais cedo não vai te dar mais créditos no seu trabalho – acertei sua costela com meu cotovelo esquerdo. — Relaxa, tá bom? Você é a principal, todo mundo quer ser você. Não queira ser mais ninguém. Você é a melhor – passei meus braços por seus ombros, a puxando para mais perto. Senti seu corpo perder um pouco da tensão.

— Tem razão – concordou, erguendo o queixo. — Eu sou superior.

Aplaudi sua determinação, mas me arrependi de ter dado aquele discurso motivacional menos de três minutos depois. Graças ao pico de autoestima que brotou dentro de Nour, fui obrigada a ficar quase dez minutos em pé, parada em frente a sala de ensaio dela porque ela decidiu que era boa demais e podia chegar na hora que quisesse. Ficamos paradas ali, escondidas entre uma pilastra e outra até que ela pudesse entrar na sala, exatamente um minuto depois do horário oficial. Eu já não estava mais duvidando da minha capacidade de dormir em pé.

Nós finalmente entramos e, como esperado, nenhum raio caiu na gente pelo atraso de um minuto. Eu me dirigi automaticamente para uma das poucas cadeiras dispostas no salão, enquanto ela já foi para o bolo de atores em roda. Reconheci alguns dos meus colegas de sala e imaginei que estavam ali para desestressar da nossa correria ou para apoiar algum conhecido, como eu.

Acting Love | BEAUANYOnde histórias criam vida. Descubra agora