05.

381 45 6
                                    

Josh Beauchamp

Depois do almoço, fomos para a sala de teatro. Não era nada parecida com o teatro do acampamento, mas, pelo menos, tinha um simples palco para ensaiarmos. Com o roteiro – de Romeu! – em mãos, estudei as falas enquanto Any Gabrielly conversava animadamente com Daisy Amelia ao meu lado. A pequena garotinha, por sua vez, não parecia compartilhar a mesma animação. Às vezes, eu me perguntava se ela era apenas quieta demais ou infeliz. De certa forma, ela se parecia comigo. Demais. Por isso, eu estava mais inclinado – e queria muito que fosse a verdade – para a primeira opção. Nossa criança parecia se soltar um pouco mais a cada minuto, mas ainda era o primeiro dia. Tínhamos um longo caminho de confiança para seguir com ela, e eu sentia que não demoraria até que ela se deixasse ser acolhida por nós.

— Certo, atenção! – Kyle gritou batendo palma para chamar atenção. Nas arquibancadas de cimento, todos os alunos se viraram para ele. Até Daisy. — Vamos pular a parte do coro, o ensaio deles é à parte, ok? – um "ok" coletivo ressoou pela sala. — Então, vamos começar o primeiro ato.

Eu e mais alguns atores que estariam na primeira cena ficamos de pé, indo para a lateral do pequeno palco improvisado. Dois deles entraram em cena enquanto nós assistíamos, esperando por nosso momento.

— Já tem boatos sobre vocês – Hina, que também estaria na primeira cena do primeiro ato, sussurrou em meu ouvido.

Revirei meus olhos.

— E quando não tem boatos sobre nós? – perguntei, irônico. Aquilo soou levemente egocêntrico, mas era a verdade. Any Gabrielly, sendo uma dos componentes do topo da hierarquia escolar, atraía fofocas por onde passava. E nossa rixa não era segredo para ninguém. Naturalmente, nos ver andando juntos e monitorando uma criança da noite para o dia renderia assunto para os desocupados.

— Acham que ela apostou com alguém que conseguiria te seduzir – continuou sem se abalar com meu comentário amargurado. A olhei, indignado.

— Por que eu não poderia ser o apostador?

— Sério que essa é sua maior descrença? Acham que ela é uma vadia sem coração e você, um trouxa molenga! – bateu as mãos nas coxas, o som alto atraindo a atenção dos atores que esperavam perto de nós.

Dei de ombros.

— Pelo menos, na minha parte, não tão totalmente errados.

Ela arqueou uma de suas sobrancelhas redondas e quase consegui ouvir sua voz engasgada perguntando que merda tinha de errado comigo. Felizmente, era hora da senhora Capuleto entrar em ação, e ela precisou se dirigir para o centro do palco. Eu odiava, odiava verdadeiramente ser o centro das atenções quando eu era eu mesmo. Joshua Kyle Beauchamp não nasceu para ficar sob os holofotes, não quando não estava atuando. Enquanto eu era apenas o adolescente de 17 anos aspirante a ator, meu lugar era nos cantos. Quase sempre com o capuz de meu moletom escondendo minha cabeça. Odiava precisar interagir com quem não conhecia. E, pior ainda, detestava quando falavam sobre mim porque eu sabia que não teria nenhuma coragem para enfrentar os boatos. E eles se espalhavam e corriam soltos como se fossem verdade. Por isso, não me encaixava muito na minha turma. Tinha sorte de ter encontrado meus amigos, mas apenas. Todos eram desimpedidos e extrovertidos, o que justificava a paixão por atuar ao vivo, com o calor do público a flor da pele. Mas eu era o exato oposto. Acontecia que, entre todos que eu já tinha tido a oportunidade de trocar mais que palavras cordiais, Any Gabrielly era a mais diferente de mim. Ela, sim, era meu exato oposto. Esse era um dos motivos para eu evitá-la. Além de ser insuportável e me tratar como capacho, ela era sinônimo de atenção. E atenção era exatamente tudo que eu menos queria.

Acting Love | BEAUANYOnde histórias criam vida. Descubra agora