19.

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Josh Beauchamp

Aquela reunião estava um porre. Certo, talvez eu que estivesse sendo irritante, mas estava chato. Minha única distração era Ams que hora ou outra roubava a atenção com sua fofura exagerada. Ela transitava de um colo para o outro, revezando entre o meu e o de Any Gabrielly. Parecia que até ela estava entediada, o que estava a deixando hiperativa. Não ficamos nem meia hora até decidirmos - através de olhares - que aquilo estava sendo nada mais, nada menos que pura tortura.

Any Gabrielly ficou de pé e abanou o short moletom que vestia, limpando o que tivesse ficado ali depois que sentara em um dos troncos de árvore que usavam como acentos ao redor da fogueira baixa. Com um pigarro ao coçar a garganta, recolheu as mãos nos bolsos do short antes de anunciar:

— Vamos levar Daisy pra dormir.

Senti nossa oportunidade surgir e logo fiquei de pé, segurando Ams no colo. A coloquei deitada contra meu peito e ela aconchegou a cabeça em meu ombro; felizmente, estava realmente sonolenta. Acenei brevemente com a cabeça e passei por cima do tronco, com muito cuidado para não passar a Daisy Amelia a sensação de que estava sob o efeito de um terremoto. Antes que pudéssemos deixar o local, vi a mão de Shivani alcançar o punho de Any Gabrielly, a impedindo de seguir caminho, e percebi que os curiosos dos nossos colegas ainda nos encaravam. Toda aquela atenção me incomodou, então fingi estar distraído tentando assoprar um cachinho que caía na testa de Ams.

— Vão demorar? – Shiv perguntou a amiga. As cabeças se viraram todas para minha colega, esperando por sua resposta.

— Hm, não sei. A gente fica lá até ela dormir e hoje ela tá bem agitada. Talvez a gente demore – piscou lentamente, nada afetada pela mentira. Daisy já estava quase dormindo no meu colo e fingi conversar com ela para não estragar a cena que estava sendo criada.

— Que pena – Shivani fez um biquinho desapontado. — Certo, então. Boa noite, Josh, de qualquer jeito – e então, as cabeças se viraram para mim. Forcei um sorriso e balancei a mão com dificuldade, acenando de longe. Nossos colegas começaram a se despedir de nós enquanto só queríamos dar o fora o mais rápido possível dali.

Depois do que pareceu uma eternidade, finalmente estávamos a caminho ao lado infantil do acampamento. Ams dormia com a cabeça em meu ombro e a boca meio aberta. A apertei mais forte, desejando que ela nunca crescesse e nunca parasse de encaixar perfeitamente em meus braços.

— Achei que nunca conseguiríamos sair dali – Any Gabrielly disse após alguns minutos de caminhada.

— Nem me fale – bufei. — Não sabe como fiquei nervoso quando você disse que ela demorava a dormir e ela já tava quase desmaiada no meu colo – confidenciei, fazendo-a rir.

— Eu percebi – admitiu. — Mas deu certo. Se alguém percebeu, se fez de besta. Metade da nossa sala acha que a gente tem um casinho mesmo. Só nossos amigos que acham que somos incapazes de ficarmos três segundos sem voar no pescoço um do outro – deu de ombros, arrastando os pés pelo chão forrado de pedras.

Senti minha garganta secar com a menção ao nosso "casinho". Era o que tínhamos? Um "casinho"? Meu Deus, nós sequer tínhamos alguma coisa? Quer dizer, a gente ficava algumas vezes. Nunca nos vimos nus, mas já nos tocamos... em alguns lugares. Era difícil definir o que tínhamos quando não fazíamos nada mas, ao mesmo tempo, fazíamos tudo. Era constrangedor lembrar do que já tínhamos feito, e, mais ainda, pensar que eu queria mais. Será que ela também queria? Ou já tinha pulado fora? Até porque não é qualquer um que aceita o nada que eu ofereço e o tudo que eu recebo. Mas eu gostaria de poder oferecer a ela um tudo, assim como ela faz comigo. Gostaria que ela soubesse que o nada dela era o meu tudo.

Acting Love | BEAUANYOnde histórias criam vida. Descubra agora