Ressaca

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Wammy's House – Winchester, Inglaterra - 06/02/2004 – 13:56

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Mello's POV On

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Tentei abrir meus olhos lentamente. Desisti no meio do caminho, voltando a fechá-los. Vamos lá, Mello, você consegue! Tentei novamente, dessa vez com maior decisão. Onde eu estava não era muito claro, mas também não era escuro. Nessa nova tentativa, minhas pupilas se assustaram com o tanto de claridade que meus olhos pesados receberam, apenas para voltarem a se esconder, repentinamente.

Abrir os olhos doía. Muito. Incomodava. Eu tentava encontrar algo em que me apoiar, na minha própria mente, que me motivasse a abrir a porcaria dos olhos, mas não havia nada, não me lembrava de nada. Tentava forçar a minha mente a se lembrar de alguma coisa. Recebi. Flashes, confusão, caos. Tentei mais uma vez. Agora com considerável esforço, consegui erguer a cabeça que parecia pesar pouco mais de umas trocentas toneladas. Ainda via tudo muito escuro...

Tentei raciocinar: Onde eu estava? Não sabia.

Qual era mesmo meu nome? Mello, alguma coisa assim.

Que horas eram? Foda-se.

Onde estava meu chocolate? Preciso de um agora.

Minha boca estava seca. Precisava de algo para beber. Já tive outras ressacas, mas nada se comparava com essa. Já que não conseguia me levantar, tentei prestar atenção no que estava ao meu redor. Como, por exemplo, no fato de eu estar sem camisa, só de calças. O fato de eu estar deitado numa cama com o lençol branco, sendo que eu não possuía lençol branco. Virei pro lado e tentei reconhecer alguma coisa. Esse simples movimento de virar a cabeça tirou de mim um grunhido de dor.

- Finalmente acordou, Mello.

Eu podia estar de ressaca, podia nem lembrar meu nome completo, podia não me lembrar de nada ontem à noite,mas eu reconheceria essa voz em qualquer lugar. Aquela voz desgraçada.

- ...Near? – Forcei a minha cabeça a levantar um pouco, ainda na diagonal para poder olhar melhor aquele ser branco. Ele montava um quebra-cabeças, pelo menos era o que eu achava, porém era diferente. Ele não estava sentado no chão como sempre, estava montando-o em cima de uma mesinha do outro lado do quarto. Quarto... – Eei, por que está no meu quarto? – Falava enquanto forçava o meu corpo a se levantar, ficando apoiado pelos cotovelos.

- Olha em volta, Mello. – Ele falou apenas, com aquela indiferença de sempre. Como isso me dava raiva! Ele nem sequer olhava pra mim enquanto falava. Era como se eu nem valesse a pena para ele fazer algum esforço e isso acabava comigo.

Comecei a reparar em volta. Os armários, a cama, a mesa... Definitivamente não era o meu quarto. Como vim parar aqui? Quando? Por quê? Perguntas assim começaram a martelar em minha cabeça fazendo com o que eu deitasse na cama de novo, cobrindo meus olhos com o meu braço.

- Se eu fosse você, eu acordaria. Já vão dar 2 horas da tarde. – Falava Near, calmo terminando de montar seu quebra-cabeças. Em pé.

- O quê?! – Falei levantando meu tronco de uma vez sentando na cama e me arrependendo logo em seguida, já sentindo a dor subido pela minha coluna. – Ahn... – Reclamei colocando uma mão nas costas e outra no meu pescoço, massageando o local. De repente, Near parou de montar seu quebra-cabeças e trouxe alguma coisa na mão dele até a mim.

- Tome, melhor se vestir. – Ele dizia enquanto colocava uma blusa e uma jaqueta dobradas em cima do meu colo, de cabeça abaixada. Assim que ele colocou, consegui sentir o cheiro delas. Erva doce. Ele... Lavou as minhas roupas?

- Near, por que eu estou aqui? – Finalmente eu tinha falado em voz alta a grande questão daquele momento.

- Você... não se lembra de nada? – Ele perguntou, sua voz denunciando certa surpresa por eu não me lembrar. Ue, não é isso que chamam de ressaca? Você acordar no dia seguinte sem lembranças e com uma baita enxaqueca?

- Era para eu me lembrar de algo? – Falei, olhando-o com os olhos semiabertos, como se esse quarto fosse a coisa mais clara que eu já tinha visto. E de fato era, pela quantidade de branco que tinha nele.

- Não – ele começou e voltou a montar o seu quebra-cabeças –, ontem à noite de madrugada, você chegou aqui no meu quarto bêbado e se jogou na minha cama, dormindo logo em seguida. – Ele terminou a frase colocando a última peça e já se encaminhando ao armário, atrás de outro jogo.

- Por que eu viria pra cá? – Falei enquanto sentava na cama, pondo a mão em minha cabeça, isso realmente doía.

- Não sei, isso quem deveria saber era você. – Falou com a mesma apatia de sempre. – Qual a última coisa de que se lembra? – Perguntou, não deixando de mostrar uma certa "empolgação" em sua voz.

- Lembro de ter combinado de sair com o Matt e alguns amigos, depois disso só lembro de... escuridão. – Segurei com minha mão esquerda a minha mão direita, como se sentisse que precisasse agarrar algo. Mas ignorando esse pensamento, me atentei a outro detalhe. – Porque estou sem camisa? – Questionando isso, Near deu um longo suspiro.

- Reclamou alguma coisa sobre estar com calor e retirou a blusa assim como a jaqueta. – Falou apenas, indo novamente em direção a um armário cheio de jogos.

- Mas eu estava coberto, quando acordei agora. Isso não faz sentido... – Eu falei, mas para ele do que para mim mesmo. – O que esta rolando aqui?

Estava realmente cansado de todos esses joguinhos.

- Já falei o que houve. – Ele disse terminando de escolher um quebra-cabeças e levando-o em direção a mesa. Fazia tudo isso sem ao menos olhar pra mim, nem uma só vez.

- Tá – falei, enquanto passava a mão nos meus cabelos. Estava realmente cansado –, então por que não me expulsou? – Eu sabia qual era a resposta, mas queria ouvir da boca dele.

- Você sabe o porquê. Você é muito mais forte que eu. – Ele disse, começando a montar outro quebra-cabeças na outra ponta da mesa – Ai... – Ele colocou a mão na coluna.

- Humpf... Acho que você não está acostumado a montar essas merdinhas em pé. – Comentava enquanto reunia todas as minhas forças e me levantava da cama, colocando minha blusa e minha jaqueta.

- Voce nem imagina... – Ele retrucou meu comentário, num tom bem abaixo, como se não fosse para eu ouvir. Que se dane.

- Não espere um obrigado ou coisa assim, a culpa é toda sua de eu ter ficado bêbado – falava enquanto abria a porta para voltar ao mundo real, mas antes eu tinha que... pelo menos tentar... ficar por cima mais uma vez –, praga. – E fechei a porta atrás de mim.

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Mello's POV Off

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Near's POV On

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Praga...

É, Mello. Talvez a culpa fosse mesmo minha. É minha, porque não te contei tudo, não podia.

Afinal, quem mandou você ficar de ressaca...

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Near, Abra Seus OlhosOnde histórias criam vida. Descubra agora