Eu sou uma p...?

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[[[[[[[[ATENÇÃO!!]]]]]]]]
Esse capítulo foi ALTERADO de modo que originalmente havia um flashback que continuaria o que ocorreu no capítulo "medusa", mas por conter conteúdo explícito sobre estupro, eu decidi remover.
Essa decisão foi tomada como forma de preservar os leitores novos e antigos desse tipo de conteúdo. Apesar de não ter sido minha intenção, eu senti q tinha acabado por romantizar um ato de violência tão assustadoramente comum na nossa sociedade. Então, para ficar claro: ESTUPRO É CRIME; NÃO É NÃO.
Não é pq isso aqui é um conteúdo ficticio que não deve ser levado isso em conta. Se vc não ve problemas nisso, por favor reveja seus conceitos e princípios. Procure se informar sobre essa temática e não passar pano para isso, seja qual for a situação.
Desde já, agradecida

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Wammy's House – Winchester, Inglaterra - 09/02/2004 – 15:09

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Near's POV On

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Tarde de uma segunda-feira. Já havia se passado 3 dias desde que tudo aquilo tinha acontecido. Melhor, desde que nada havia acontecido. Você prometeu, Near. Nada aconteceu naquela noite.

Eu estava andando, em direção a aula de matemática que começaria em 20 minutos, sem qualquer entusiasmo. Era sempre a mesma coisa chata de sempre. Porém algo prendeu a minha visão:

- Seu arrombado! – Falava um garoto negro que usava um moletom 3 vezes maior que ele próprio. – Vai desistir seu fracote? Depois de tudo? – Terminou pegando na gola de outro garoto com quem discutia.

- Porra, você não entende, cacete! – Dizia o garoto de boné, tentando se soltar das mãos do garoto escuro.

- Não entendo mesmo! Só entendo que você é um fracote, é uma puta!

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"Puta". Quando ouvi essas palavras meu corpo entrou em choque. Não consegui mover um músculo e apenas deixei com que mais memórias daquela noite viessem a minha mente. Por mais que eu tentasse. Não conseguia esquecer aquela noite, não tudo naquela noite: quando ele, Mello, olhando nos meus olhos, enquanto me fazia seu forçamanete me chamou de "puta".

"Puta". Não sei dizer ao certo como me senti ao ouvir essa palavra, mas um incômodo se instaurou em minha mente. Afinal, eu não estava agindo como puta. Não estava fazendo isso por que queria, nem estava sendo pago. Por mais que eu tivesse ficado com raiva, não pude fazer nada. Depois disso, eu desisti. Apenas desisti. Parei de tentar soltar o meu braço e ele percebendo isso, tirou o seu braço de cima de mim e agarrou com força minha cintura com as duas mãos, indo e vindo com ainda mais força. Eu sei que eu podia usar minhas mãos agora livres para tentar pará-lo, mas não o fiz. Parei de tentar dizê-lo para parar, apenas fiquei lá, imóvel. Deixei que ele fizesse aquilo tudo comigo e claro, eu ainda tinha que ficar encarando ele, olhando para ele, nos olhos dele. Eu queria muito fechar meus olhos, mas sabia que se eu fizesse isso, seria ainda pior, então simplesmente fiquei ali, parado, olhando-o, petrificado.

"Puta". Quando acabamos, ele caiu em cima de mim e ficamos respirando pesadamente por um tempo até que eu tinha começado a tossir. Muito. Ele me empurrou para fora da cama, dizendo algo com "Para de tossir no meu ouvido!". Sabia o que era: Asma. Nem meu coração nem meu pulmão tinham vivenciado esse tipo de carga e adrenalina; acho que tinha sido demais.

"pUtA". Tinha me arrastado no chão, até a minha mesa que tinha ali. Puxei a primeira gaveta dela com tanta força que fez tudo cair no chão e ainda fazer o loiro deitado na minha cama dar um resmungo. Procurei desesperadamente por aquele aparelho azul que conhecia tão bem. Naquela noite, assim como em todas, era meu único companheiro. Respirei como se nunca tivesse feito isso antes. Depois fiquei mais um tempo ali repetindo para mim mesmo "Ninguém vai saber o que ouve aqui...", "Ninguém vai saber o que ouve aqui...", "Ninguém vai saber o que ouve aqui..."; até deitar no chão e sentir o sono e cansaço me atingirem...

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"pUtA" 

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- Ah, cala a boca seu arrombado do caralho! Vai se foder, filho da puta! Você desistiu, é um fracote, um franguinho! Não duvido nada que sua mãe tenha sido mesmo uma puta. Só assim pra você desistir fácil das coisas, logo ass-

O garoto foi interrompido por um soco muito bem dado do garoto de boné e capuz. Eles começaram a se atracar, um socando o outro. Apenas virei e continuei a andar em direção a sala, afinal eu estava andando devagar e por ter ficado um tempo parado se eu não me apressasse, eu iria me atrasar.

"Só assim pra você desistir fácil das coisas." - Essa frase do garoto escuro me fez pensar, sobre o que tinha rolado na noite anterior. Aquela noite.

Será que eu agi como uma "puta" quando desistir de tentá-lo parar? Será que eu fui realmente um covarde? Será que eu nã-

- Aiii! – Meus pensamentos foram interrompidos por um loiro que estava correndo pelos corredores e não prestava atenção. Pela barra de chocolate inconfundível eu sabia quem era. Nem precisava olhar para ele, afinal eu não queria.

- Olha por onde anda! Vai fazer nós dois nos atrasarmos! - Esbravejou Mello, pegando seu material e começando a pôr-se de pé.

- Desculpa... – Foi tudo o que eu disse, ainda encarando o chão pegando meu material.

- Pelo menos olha no rosto das pessoas quando for se desculpar, desgraçado! Sempre me atrasando... – Falando isso ele começou a correr corredor a fora.

Como ele reagiria sabendo que pra ele eu já fui uma "puta"? Não me interessa, não quero saber. Sei que naquela noite não fui uma. Não fui.

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Near, Abra Seus OlhosOnde histórias criam vida. Descubra agora