- Seventh;

284 38 7
                                    

Folheava algum livro que ganhou em seu aniversário, ler nunca te cativou muito, mas a fantasia havia tomado um pedacinho de seu coração.

Não que assumia, porém os livros serviam como uma válvula de escape da realidade para você, já que não era nenhum pouco fã da realidade que vivia, ainda sim tentava se esquivar dela. As horas se passaram voando, você nem mesmo percebeu, tão inerte no conto.

Algo soou em sua porta, o barulho das chaves a destrancando e a silhueta de Hayato apareceu em seu campo de visão, ele e uma garrafa de bebida.

Nem mesmo questionou, já preparada para o chutar dali a qualquer momento, mas ele parou na frente da cama e encarou seu corpo, coberto somente pelo fino tecido do pijama que usava para dormir, então trouxe o cobertor para cima de si, se escondendo dele.

— Não deve se cobrir de seu marido. - disse ele, engatinhando lentamente em sua direção, você curvou o corpo se afastando.

— Eu falei que não queria te ver hoje. – Falou firme, mas ele não parou de se aproximar, então levou sua mão até seu ombro e o segurou lá, já sentindo seu coração descompassado, pelo infeliz que estava em sua frente.

— Eu falei com seu pai. – Ele falou, fedendo a álcool barato e cigarro. — Ele quer conversar com você amanhã, eu contei.... contei sobre cada filho que você fez questão de perder, e sobre cada vez que você negou se deitar comigo, como você é inútil e nem se quer consegue ser uma mulher direito...

— Você não... – Numa tentativa falha a voz falhou  em passar por suas cordas vocais, sem coragem e desacreditada, do que tinha acabado de ouvir, não querendo na verdade.... sabia o que lhe esperava.

— Ah eu fiz sim.... ele disse que ia falar com você. – Ele murmurou. — E que seu irmão sente sua falta.... o pequeno Satoru...tão poderoso, mas tão pequeno. Pense bem antes de agir [S/n], seu irmão ainda reside lá, ele pode sair ferido com tudo que você faz...

— Ele...

— Sua família odiaria perder ambos os filhos, e tudo isso por sua culpa... – Suas palavras doíam no interior de sua mente, no fundo você sabia que era verdade. — Sua hiperatividade, seu orgulho, seu ego inflado vão levar seu irmão ao penhasco, você vai levar ele a isso....

Ah, nada mais que o peso da verdade ressoando em seus ouvidos, como um eco. Você era realmente um fracasso, mas não Satoru, ele seria o futuro do mundo Jujutsu, onde mulheres não precisariam se rebaixar à homem nenhum, onde as mulheres como você, poderosas, mas menosprezadas, estariam livres para escolher seu próprio destino.
O seu corpo pesava no móvel, e aproveitando de seu estado de choque ele sorriu maliciosamente, selando seus lábios sentindo o gosto de suas lágrimas se misturarem com o beijo estranhamente nojento e desajeitado, as mãos se moviam pelo seu corpo e ainda ousavam adentrar suas vestes.

Deveria se entregar ao destino e aceitar que nunca seria realmente livre para ter o que você quer? Ou lutaria para sobreviver e quebraria todos os princípios sem escrúpulos de seu clã com uma revolução, poderia você ser capaz de fazer isso? Sendo apenas uma mera humana, com um pouco de energia amaldiçoada?

Vencendo ou não, seu corpo reagiu sozinho quando dedos nada carinhosos tocaram seu corpo, era acostumada a ser tocada com prazer e carinho, mas não esses toques secos e sem vida. A boca institivamente secou e seu sangue ferveu, cada pedaço de nervo se fez presente ali.

Nunca seria presa, trancafiada em sua própria casa, menosprezada por um homem mais desprezível que o lixo que fedia na rua, lutaria por sua liberdade e morreria lutando por ela.

A mão doeu quando acertou precisamente sua boca, os ossos sendo marcados por sua pele alva e sem cor, estava caindo em um redemoinho e nem mesmo percebera, ele sugou todas suas energias, os olhos violetas já não tinham a mesma cor de sempre, estavam mortos e sem vida, sua alma sofria sendo aprisionada por seu pobre corpo fraco, e agora magro.

O viu cambalear e abriu os olhos atentos, voltando o olhar para ele e acertando seu peito com o pé, sentindo todo seu corpo doer com isso, estava tão fraco que não conseguia pensar direito, somente reagir.
Em um salto se levantou da cama e pisou em seu peito mais uma vez, sentindo o diafragma afundar em seus pulmões e seu corpo pesar cada vez mais sob ele.

— Eu nunca.... nunca vou deixar que me prendam. – Falou abaixando-se no nível de seu corpo, os olhos brilhavam de ódio e repressão. — Você jamais vai tocar em mim de novo...e eu nunca mais vou me rebaixar a ninguém.... nem o clã Gojo e muito menos você, serão os que vão me derrubar.

O peso da gravidade da terra caiu sob suas costas, elas pareciam pesadas e doloridas, chegando a ser exaustivo de se manter assim, queria correr e nunca mais olhar para trás, mas ainda tinha algo a resolver.

— Talvez eu devesse possuir você e tirar todo seu dinheiro. – Murmurou encarando a face apavorada dele e sorriu inocentemente. — Posso fazer isso com seu corpo sem vida, mas me cansei de você, humano miserável.

Como se saísse do teto do quarto algo atravessou o corpo dele e acertou certeiro em seu coração, você pôde ouvir cada um de seus batimentos até o seu fim, o fio de vida que restava havia sido rompido. Cansada deixou seu corpo ser levado pela gravidade, soltando seu peso indo em direção do chão.

Fazia tudo no automático, buscou o celular dele pela casa e o desbloqueou com a digital do dedo já frio e melado pelo líquido vermelho e viscoso, tendo que limpar em sua roupa. Transferiu todo o dinheiro que ali constava na conta bancária dele, o deixando zerado. Depositou em sua conta privada, que ninguém além de você tinha conhecimento, com um sorriso no rosto.

Logo em seguida trocou as roupas e vestiu um grande sobretudo, para te proteger do frio da madrugada, que insistia em doer ao bater em seu corpo fraco e frio.

Porém, apesar de tudo ainda se sentia bem, se sentia viva e livre. Não com aquele falso sentimento, como quando era galanteada ou exaltada, mas de fato liberta, longe de toda essa vida cansativa e...deplorável.

𝙉𝙊𝙏 𝙔𝙊𝙐𝙍 𝘼𝙉𝙂𝙀𝙇 - 𝐓𝐨𝐣𝐢 𝐅𝐮𝐬𝐡𝐢𝐠𝐮𝐫𝐨Onde histórias criam vida. Descubra agora