Estou cansada de esconder as marcas da minha neurose
Quando ninguém de fato se importa
Se eu sangro
Se eu choro
De que adianta esse short?
Não é como se você fosse se dar ao trabalho
De me olhar no olho
Quem dirá as coxas
Estou cansada de fingir ser sã
"Mantenha um sorriso no rosto"
"Se você chorar ela vai embora"
Contando piadas bobas pra camuflar a aflição
Contando piadas bobas para fingir levesa
Está doendo mas não posso reclamar
Se você reclama seu difarce cai
Está doendo mas não posso fazer uma cara de dor
Se sua boca enruga pra baixo
Você tá expulsa da sociedade das pessoas felizes
Onde tudo é fácil sempre
Relações humanas são simples
Tudo é plano
2D
Não existe isso de lutar
Se esforçar
Pra manter o fio ligado
Você saberia disso se pertencesse
A sociedade das pessoas felizes
Mas você é só
Uma boneca defeituosa
Por isso que você se esforça
Se quebra
E se decepciona em vão
Gelado
Gelado
O sorriso no seu rosto deveria emanar calor
Aquecer meu coração
Mas em vez disso eu posso ver a "fumaça"
Que se forma a cada respiração
Estou farta de me esforçar pra receber afeto
Encolhe
Estica
Você tem que caber nos moldes
Das expectativas
Do imaginário alheio
Puxo o elástico com força
Da bolinha vermelha presa no meu nariz
Não ouse chorar sua tola
Vai estragar o show
Se ao menos meu sofrimento lhe divertisse
Se você fosse mais uma daquelas pessoas que riem
Quando outras se machucam
Eu poderia garantir um entretenimento duradouro
Mas já estou ficando sem ideias
Quanto mais eu tenho que rebolar?
Quantos objetos pontudos mais eu devo equilibrar no meu nariz?
Pra alguém se importar comigo
Se pelo menos uma única alma desse vasto público
Olhasse pra mim
Se eu morrer algum dia
Quando eu morrer
Terei morrido de solidão
Escreva na minha lápide:
"Aquela que amou toda a maldita humanidade, mas não foi amada por ninguém"
Estou cansada de esconder as marcas da minha neurose
De que adianta essas mangas longas?
Você nem me olha no olho
Quem dirá os pulsos
A minha única certeza na vida
É a de estar sempre sozinha
É de estar sempre a beira do suicídio
Mas nunca verdadeiramente nele
Pra quê eu me visto com roupas caras
Pra quê coloco uma maquiagem pesada
Pra quê me adapto e me ajeito
Para caber no socialmente aceitável
Se os olhos nunca estão virados pra mim?
Eu dou tudo
Faço tudo
Para satisfazer cada pequena necessidade alheia
Para convencer alguém
Qualquer um a ficar
Mas mesmo que ofereça fortunas inimagináveis
Ainda não sou suficientemente boa
Pra receber amor
Pra despertar apego
Por isso
A minha única certeza na vida
É que estarei sempre sozinha
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Baú de merda
PoetryVivo de escrever essas coisas bregas pra depois perder, como estou cansada disso, deixo aqui meu baú do tesouro. Ou um baú cheio de caquinha, tal qual quem vos fala. (Uma sequencia de "poemas" de cunho estritamente sentimental e pessoal, textos tris...