Assim, após uma longa crise de consciência trancado na escada de incêndio de um condomínio (e depois de tentar todas as técnicas de abrir fechadura que havia aprendido nos filmes do Macaulay Culkin e descobrir que eram uma farsa), Gaara estava plantado na calçada em frente à conhecida casa que estivera momentos atrás.
A mala pendurada pesava nos seus ombros doloridos e seu estômago reclamava na base de um nó. Em sua mão, uma sacola com uma garrafa de vinho que Kankuro havia deixado junto de um bilhete engraçadinho escrito "divirta-se" que teve a sorte de não ser arrebentada na parede mais próxima. Gaara gostava de vinho.
Seu pé ainda estava latejando desde que desistiu de tentar abrir a porta por maneiras civilizadas e partiu para o chute. Mas então aquele casal desocupado voltou e Gaara achou por bem ir se apresentar para o porteiro como o dono das próprias coisas antes que fosse obrigado a passar a noite em outro lugar.
Ainda havia tempo de voltar atrás, não é?
Ainda tinha como encontrar alguma espelunca de última hora numa cidade turística numa época turística para passar a noite. E com certeza ainda havia uma infinidade de trens disponíveis para pegar logo cedo quando acordasse, jogasse uma água na cara, um gelo na testa e pudesse voltar a aterrorizar ocasionais reuniões de família.
Gaara permaneceu parado, encarando a guirlanda pendurada na porta.
Quando era pequeno costumava imaginar que, como nos desenhos animados, tinha um pequeno diabo e um pequeno anjo que surgiam em momentos de dificuldade para soprar achismos nos seus ouvidos. O anjo tinha o rosto de Temari e daria os mais cuidadosos, sábios e éticos conselhos da sua vida... O diabo era apenas Kankuro.
"Dê uma chance pra você."
Gaara esfregou a orelha com força para afastar a voz dali, hoje o anjo parecia estar de folga. Ele juntou toda a coragem que vinha descobrindo ter e estendeu o dedo, apertando a campainha com firmeza.
Nada.
Essa era essa a deixa. O sinal para que desse meia volta e fosse cuidar da própria vida, antes que a própria vida cuidasse dele. Mas hoje era um dia. Um daqueles dias. Um especial de todos os loucos. E Gaara apertou de novo.
Ainda nada.
Lee e Metal haviam saído?
Encostando a orelha na porta, Gaara conseguiu escutar a voz de Lee falando alguma coisa muito mais alta que o tom de costume. Não que o tom de costume fosse algo próximo de ser considerado baixo, mas Lee não parecia ser o tipo de cara que ignorava a campainha. Ele só tinha um braço disponível para qualquer coisa, aliás, podia precisar de ajuda.
Com uma boa causa por trás de suas ações, Gaara rodou a maçaneta. A porta abriu. Perigoso. E se fosse uma pessoa tentando invadir a casa?... E se fosse uma pessoa mal intencionada tentando invadir a casa?
Precisava se lembrar de reclamar disso depois, por agora apenas empurrou devagar, dando batidinhas para avisar que estava entrando.
– ...Olá? Lee?
O piso de madeira do corredor rangeu com o taptap de passinhos rápidos, seguidos por um grito infantil.
– Metal Lee, volte aqui agora mesmo! – a voz de Lee ameaçou.
– Não quero! Não quero! Tá frio!
– Aqui fora está frio! A água está quente!
– Nããão!
– Vem aqui seu porquinho, você vai pegar um resfriado!
Gaara riu em silêncio enquanto Metal fazia oinc oinc oinc em sua fuga. Não pensou que devesse interferir quando viu a pequena figura da criança nua correndo em direção à cozinha.
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Um Natal Por Acidente [GaaLee]
FanfictionGaara era para estar de férias. Deveria estar de férias, mas não. Aqui estava ele, no corredor temático de um hospital, bem onde judas perdeu as botas, aguardando remendarem o braço do cara que atropelou na neve [2020]