Biscoitos quentinhos e um pouco de vinho

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Gaara acordou com o barulho de aço quicando pelo azulejo.

Ele levantou com o susto e correu para a cozinha. Cheiro de queimado empesteando a casa, deixando pouco espaço para distinguir entre o que era sonho e realidade. Não havia fumaça, só cheirava muito errado.

Haviam cascas de ovos espalhadas por cima do fogão e algo grudento escorria pra fora do forno ligado. Ele acabou descobrindo que o que tinha caído foi o conjunto de formas de bolo que estavam espalhados por todo o chão quando se apoiou na porta, estarrecido. Talvez Gaara ainda estivesse meio dormindo.

A cozinha estava muito escura para o horário. Um único facho de luz do lustre iluminava o corpo moribundo de Lee jogado por cima do balcão americano como uma panqueca murcha. A faixa "100% Jesus" em sua testa suja de ovo e chocolate em pó.

Do lado dele, um Metal com farinha até os cabelos empurrava o corpo inerte do pai chorando repetidas vezes para animá-lo "Não desiste, papai! Levanta!".

Gaara olhou demoradamente para o relógio na parede e passou as mãos pela própria cara inchada. Ainda eram (ou já eram) duas horas da tarde. Aquilo não foi um cochilo, foi um desmaio. Ele tinha levado uma martelada na cabeça?

– ... O que eu perdi?

Lee nem sequer se moveu de onde estava deitado.

– A destruição de todos os sonhos.

Gaara soltou o ar de forma cansada. Passou reto pelo estado apocalíptico do corpo sobre a mesa e começou a recolher os utensílios espalhados para não acabar cometendo mais um outro som escandaloso naquela escuridão.

– Por que as cortinas estão fechadas?

– Para que os vizinhos não testemunhem meu vergonhoso fracasso.

Metal Lee desistiu de buscar alguma resposta física do pai. Desceu de onde estava e veio correndo em sua direção logo que colocou a pilha de cacarecos em cima da pia.

– Olha, olha! Não deu pra fazer.

Ele ergueu um cronômetro digital estacionado em algum número que Gaara não entendeu, mas se compadeceu do pequeno filhote mesmo assim. Levantou a criança chorosa pelos braços e colocou sentado na bancada.

– Lee, você vai machucar o seu braço. Levanta.

Lado a lado, pai e filho pareciam desolados.

Gaara puxou as cortinas que cobriam as janelas, deixando a claridade entrar. Buscou um pano que estava no mármore perto, molhou na pia e limpou com atenção a poeira branca que tinha grudado nas pequenas sobrancelhas. Então limpou o catarro que escorria do nariz de Metal. Quando terminou, tentou o seu melhor para não rir ao ver que precisava fazer exatamente o mesmo com Lee.

Com um pouco mais de calma e um pouco menos de farinha, quis saber.

– O que aconteceu?

Lee esfregou o nariz na manga do braço bom e fungou. A roupa estava suja, então acabou com mais uma mancha no rosto.

– Eu não sabia que tinha escolhido uma profissão tão capacitista. Eu não consigo quebrar um ovo! Um ovo, Gaara! Não dá pra montar nem um sanduíche! Como que vou fazer para terminar as encomendas?

– Por que você tem que fazer isso agora? – era o que mais queria saber – Achei que Neji tinha dito que você podia seguir o próprio ritmo. E mandou descansar.

Gaara adicionou a última parte como um ultimato. Uma reclamação.

Hoje é domingo. Lee havia dito que o expediente só começa na segunda. Então, por que diabos não esperou antes de começar a mexer com coisas afiadas e incandescentes? Tá certo que Gaara também não pretendia perder metade do dia dormindo, mas...

Um Natal Por Acidente [GaaLee]Onde histórias criam vida. Descubra agora