Kankuro, pelo amor de Deus

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Gaara nunca foi um cara de ter medos. Na verdade era precisamente o oposto. 

Desde criança ele nunca fugiu de brigas, cumpria todas as provas de coragem dos acampamentos e consumia os tipos de mídia mais duvidosos que jamais seriam recomendados para alguém da sua idade.

Ele era curioso, mórbido, e capaz de ter vestido a carapuça de maluco da escola um pouco a sério demais. Só que com a chegada da puberdade e internet sem limite, Gaara desenvolveu um medo humano e bastante acessível para as pessoas de sua idade: gravidez na adolescência.

Um medo cultivado pelas memórias das noites no colégio interno, em que os garotos escapuliam após a hora de dormir para se reunir ao redor de uma cama vazia no dormitório e comentar os boatos sobre porque um deles não retornou depois de ser visto com alguma menina durante as férias de verão. Histórias sobre um tipo de monstro que tragava o corpo e alma dos homens e os jogava numa realidade terrível diferente de tudo o que tinha costume até agora.

Isso e também as assustadoras aulas de educação sexual da velha Mizuki, uma freira que dedicou a sua longa vida religiosa a formar uma geração inteira de homens traumatizados demais para tentar se reproduzir.

Gaara era um homem e reconhecia que este era um medo ridículo sem o menor cabimento. Primeiro, porque ele mesmo não poderia engravidar, segundo, porque era gay (o que talvez não impeça em si, mas já evita um bocado), e terceiro porque já não era mais adolescente a pelo menos uns doze anos.

Havia um quarto motivo que flutuava em torno de que isso também nunca o impediu de exercer sua vida sexual até agora, sendo o maior dentre os que comprovava o quanto isso tudo era uma bobagem.

Se era assim (e tinha certeza de que era), ele se perguntava duramente porque continuava revisitando todas as histórias perturbadoras daquela velha desgraçada pelos últimos vinte minutos.

Lee tinha um filho. Um filho com cabelos lisos e grandes olhos curiosos, e sobrancelhas. Pequenas sobrancelhas grossas que carregavam todas as expressões da sua face. Lee veio tendo um filho pelos últimos cinco anos. Gaara não sabia disso. Mas Lee não era adolescente. Nem Gaara tinha nada a ver com isso. Então por que toda a sua vida até agora parecia depender dessa informação?

Certo que desde o começo talvez tenha ficado um pouco animado com a perspectiva da coisa: um cara gentil com um belo sorriso que, por qualquer motivo irracional que não atreveria a contestar, parecia achá-lo interessante... com sorte Gaara pretendia voltar para casa hoje um pouco mais feliz do que quando saiu.

Gaara é maior de idade, livre, desimpedido, vacinado. Não pensou muito no que estava fazendo, apenas foi. Terrível que só agora tenha se dado conta que Lee talvez não fosse.

Ele apertou o gorro em suas mãos desejando, por um momento, que fosse o próprio pescoço.

Na mesinha de centro, Metal rabiscava distraído em uns papéis soltos. O suéter que vestia era uma versão em miniatura igualzinha ao de Lee, o que seria adorável se não fosse devastador. Gaara olhou ao redor.

Tudo até ali havia o levado a se preparar para uma versão adaptada da oficina do papai noel direto dos livros do Dr. Seuss quando se deparasse com a casa de Lee. Mas tudo parecia... Normal? Com ressalvas a algumas coisas na entrada e estofados temáticos, o único ponto natalino na sala de estar era um pinheiro médio no canto, próximo da lareira.

Um pinheiro com um bando de quinquilharias estranhas penduradas misturadas aos ornamentos tradicionais. Gaara estreitou os olhos... Aquilo ali era uma faca? Seja como for, tudo dentro do mais comum quadrante da normalidade e equilíbrio. Desde a quantidade padrão de meias penduradas na lareira até os enfeites comuns em cima da mesinha ao centro que...

Um Natal Por Acidente [GaaLee]Onde histórias criam vida. Descubra agora