Sobre passeios e patos (parte 2)

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E o que são dois pontinhos um verde e um vermelho no meio da neve?

Tipo, muita neve.

Neve para um senhor caralho.

As ruas estavam inesperadamente vazias. E inesperado porque Gaara já havia presenciado o quanto os locais podiam ser...dedicados. Mas as ruas estavam vazias e agora Gaara precisava arranjar uma outra utilidade para o teaser que havia colocado no bolso por precaução.

Brincadeira. Não havia armas de neutralização rápida na lista de essenciais de um passeio com criança. Não havia.

Ele fungou longamente e soprou uma bola de ar quente para tentar aquecer o próprio nariz. Quem é que trabalha nessas condições? Quem é o idiota que sai de casa nessas condições?

Lee havia saído porque precisava. Gaara porque quis.

Aqui neva toda hora. As vezes não. Mas, quando não neva, não faz calor o suficiente para derreter, então se aglomera por aí como uma generosa cobertura tóxica em cima de coisas que não se deve comer.

– Não! Metal! Eu disse que...

Metal Lee virou a cabeça assim que ouviu o chamamento e exibiu um sorriso de bochechas infladas. A boca cheia.

Tudo bem... Deve criar anticorpos.

Se não anticorpos, com certeza caráter. E Gaara tinha uma marca na testa para provar.

Com pouca paciência, ele arrastava os pés com cuidado pelo cimento congelado. Metal achava isso muito chato e preferia seguir pela grama, onde podia deixar a marca de suas solas pelo chão. Gaara havia pedido (ou implorado) mais cedo para que não corresse, por isso caminhava espaçado igual um pinguim para tentar deixar os buracos de sapato iguaizinhos.

Não correria nem se quisesse. Gaara segurava na mão dele como se tivesse pregado em solda.

A outra mão estava ficando encharcada de empurrar fora toda a neve das muretas ao alcance de uma pessoa de pouco metro de altura. A criança, no caso.

– Branco da neve fofinha, da cor das nuvens lá no céu...

"Branco, branco como papel."

Metal Lee estava cantando. E então cantarolando. Daí cantando de novo. A essa altura, se Gaara ainda não conhecesse uma rima para cada cor existente no mundo... Bom ele já conhecia uma rima para cada cor existente no mundo. Decorado. De trás pra frente.

– Você tem um repertório grande. – interrompeu, em certo momento de esperança.

O menino terminou de derrubar toda a neve da grade desde que entrou no quarteirão e olhou para cima. Apenas seus olhos do lado de fora e as bochechas queimadas de frio. O cachecol laranja havia sido puxado para baixo desde que enterrou a cara num monte de neve a uns minutos atrás.

O negócio azul – que definitivamente não era um macaco – estava amarrado ao seu pescoço pelos braços compridos.

– O que é reperdório? – perguntou.

E é claro que perguntou.

– Quer dizer que você conhece muitas músicas.

Metal ouviu. Guardou a informação. Refletiu um pouco e puxou o ar audivelmente em total indignação. Nada de "muitas". Conhecia todas as músicas. E Gaara estava fadado a ouvir cada uma delas.

Azul rimava com sul, Amarelo com castelo, Rosa é cheirosa, Laranja tem uma franja...

Talvez fosse melhor manter a atenção no caminho.

Um Natal Por Acidente [GaaLee]Onde histórias criam vida. Descubra agora