Espontaneidade

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O amarelo e o verde contrastavam na minha mente de uma forma confortavelmente única. Aqui e ali juntava-se um pouco de cor tijolo que coagia a minha massa cinzenta a destabilizar-se, o que resultava numa azucrinante dor de cabeça. Tudo o que eu queria era um colchão confortável, sentir a brisa do verão e a radiação solar penetrar a minha cara besuntada de creme. Mas, infelizmente, esperavam-me horas de pé a deslocar-me sob uns tacões nada confortáveis, sempre acompanhada por uma pessoa com a qual não estava predisposta a socializar.

É exatamente isto que abomino nos encontros marcados...

É me difícil compreender o que os seres humanos têm contra o impulso do imprevisível. Rejo a minha vida dessa forma, sem aspirar o próximo momento agendado e esperando que o momento aconteça, movimentada pelo vento e sempre em comunhão com a natureza.
Aprecio os prazer simples da vida como uma refeição tradicional caseira a fumegar no prato ou um doce. Anseio por de dormir uma sesta numa tarde dourada, deitando-me nos cheirosos lençóis acabados de lavar e impecavelmente passados a ferro.

Sou o tipo de pessoa cujo dia passa instantaneamente de péssimo para suportável se espontaneamente alguém fizer um gesto carinhoso ou se passar uma daquelas músicas especiais e cheias de significado.
Amo o calor da lareira e do chá a fumegar, assim como o cheiro dos livros.
Sou, portanto, uma pessoa espontânea que ama a espontaneidade à minha volta.

S.B.F.F.

Compilação de ContosOnde histórias criam vida. Descubra agora