Rok

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Sugawara Koshi estava cansado.

Todos os dias, o seu pai fazia o grande favor de lembrá-lo que um dia iria ser o comandante da tribo e que deveria dar exemplo a todos os jovens tritões da área. Apesar da decisão de quem vai ser um líder ser por votos, o senhor Sugawara sabia que o seu filho era a escolha certa, afinal ele sempre o educou para isso.

Sempre a visitar tribos diferentes para espalhar o nome da família, fazer festas grandiosas para o pessoal da tribo e sempre preocupados com o embelezamento das suas escamas e rostos.

O mais jovem da família Sugawara queria apenas ser livre para fazer aquilo que gosta, como explorar lugares novos com os três amigos, fazer partidas ao sacerdote da tribo e até mesmo apostar corridas com Hinata. Mas a sua vida sempre foi muito limitada.

Já perdeu as contas de quantas brincadeiras ele já perdeu por conta das viagens da sua família. Sempre que voltava os seus amigos já estavam com novas piadas internas que ele não entendia e mesmo que eles lhe contassem tudo, não era a mesma coisa.

Para além da sua diversão, os seus pais também estão a tentar tirar-lhe o direito de escolher com quem ele vai casar. Sempre a jogar indiretas para ele e Azumane, que os deixavam extremamente desconfortáveis ou a trancar os dois num quarto. Sim, trancar num quarto.

Era inverno, a época onde os humanos costumam festejar o natal, tradição que não é seguida pela tribo, porém isso não impediu das famílias Asahi, Sugawara, Hinata e Yamaguchi de se juntarem para uma refeição. Estava tudo tranquilo, até a família do ruivo e do esverdeado irem embora e o senhor Sugawara arranjar uma maneira de colocar os dois adolescentes trancados no quarto do acinzentado para supostamente ficarem mais próximos.

Os dois ficaram apenas a falar assuntos banais, sem qualquer envolvimento romântico para a infelicidade de seus progenitores. Quando eles finalmente puderam sair do quarto, Koshi nadou para o mais longe possível, ignorando os chamados de todos.

Ele foi para o único lugar que ele sabia que ninguém da tribo o acharia. Ele nadou até à costa e deitou o seu corpo em cima de uma das pedras para apreciar a lua e chorar sem ninguém o perturbar.

O que não contava, era que devido à sua mente conturbada pelos acontecimentos recentes, ele esqueceu completamente de verificar a área antes de emergir e assustou-se ao ouvir um grito que parecia de dor.

Olhou na direção do grito e constatou que o mesmo veio das crateras. As mesmas mal se viam devido à alta maré que estava naquela noite e curioso, Koshi seguiu na direção das mesmas.

Depois de desviar-se de muitas rochas, ele chegou a uma cratera onde a água estava avermelhada e o tritão assustou-se com aquela quantidade toda de sangue humano. Ao subir um pouco, ele observou que havia ali um humano preso pelo pé entre duas rochas e devido à sua tentativa de escapar, acabou por fazer um arranhão enorme.

A água ali estava agitada e Koshi observou que apenas a cabeça do humano estava para fora de água. O mesmo gritava por socorro mas ninguém do mundo terrestre estava por perto para salvar.

Mas estava Sugawara Koshi, que não importava a espécie, ele sempre iria querer ver todos bem. Ele nadou na direção das duas rochas e começou a tentar soltar o pé do outro sem causar mais ferimentos, o que foi difícil pois ao sentir algo tocar sua perna, o humano só se contorceu mais.

Daichi Sawamura estava extremamente assustado, para além de estar naquela situação, tinha algo a agarrar o seu pé e com o susto, ele tentou chutar o que lhe tocava.

Se ele tomou um susto com aquele toque, com certeza ele quase teve um ataque cardíaco ao ver uma pessoa emergir bem na sua frente que hipnotizou o moreno com aqueles olhos.

- Eu já morri? És o anjo que me vai levar? - ele pergunta impressionado e usa uma das mãos que antes usava para se segurar, para tocar no rosto do outro que lhe deu um estalo na mão estendida.

- Fica quieto e deixa-me tirar esse pé da maldita pedra!

Ele voltou a afundar e Daichi sentiu o seu pé ser tirado das rochas, fazendo um gemido de dor ao sentir o atrito da sua perna com o material rochoso.

Com as pernas livres e com muito esforço, ele nadou até chegar ao pequeno pedaço de areia que ainda não tinha sido consumido pela água e observou o seu salvador colocar a cabeça para fora de água.

- Obrigada pela ajuda, agora saí daí, a água está muito agitada esta noite! - o humano estendeu a sua mão para ajudar o outro a subir, mas o acinzentado não fez nada para além de olhar nos olhos do humano. - Anda lá, não me vais deixar aqui pendurado!

- Eu... não posso, desculpa! - Daichi observou o rapaz à sua frente afundar na água e no desespero ele colocou a sua cabeça dentro de água para tentar avistar o outro, mas devido à escuridão da noite ele só viu borrões.

Sugawara, que observava os movimentos do outro, quase bateu na própria testa ao ver o outro tropeçar e voltar a cair no mar. Ele nadou outra vez para cima e ajudou o humano machucado a voltar para terra firme, ainda sem revelar a sua cauda.

- Estás louco? Eu não te tirei daquilo para agora andares a matar-te! - diz o tritão e sentiu as suas bochechas corarem ao ver o sorriso envergonhado do moreno.

- Então e o que pensas que estás a fazer? Sai dessa água gelada! - ele pegou numa das mãos de Koshi e sem que o outro pudesse fazer nada, foi arrastado para a areia, revelando uma cauda reluzente que fez o humano dar um grito.

- Credo, para de berrar! - reclama Koshi que estava extremamente chateado por ter sido descoberto. Também, quem o mandou ter bom coração? - Parabéns, descobriste o meu segredo. Vais fazer o quê primeiro? Chamar os cientistas e ganhar imenso dinheiro pela fama ou gabares aos teus amigos que pescaste um tritão com os teus dotes de sedução?

- Quê?

- Vocês são todos iguais! Eu ouvi as histórias e garanto-te que se eu sei que andaste a espalhar por aí o que viste hoje, eu vou levar-te para o fundo do oceano comigo! - à medida que ele falava, ele ia batendo com a ponta do dedo no peito de Sawamura, este que segurou o pulso do tritão delicadamente.

- Não te preocupes sim? Eu, Sawamura Daichi, prometo não contar o que vi hoje a ninguém, tu salvaste a minha vida e não poderia fazer algo assim contigo... - ele interrompeu a própria frase à espera que o outro falasse o seu nome.

- Poseidon! - ele decide brincar um pouco.

- Sabia que para alguém ser bonito assim, tinha de ser algum tipo de divindade! - o outro afirma e Sugawara nunca sentiu as suas bochechas tão quentes. - Ficas tão fofo com as bochechas rosadas assim Poseidon!

- Sugawara Koshi! Sugawara Koshi é meu nome! - ele quase grita devido à sua grande vergonha e viu o humano rir com aquele sorriso lindo.

Afinal, nem todos os humanos queriam o mal da sua espécie.

















Juro solenemente não ser normal !!!

Sun on the Water [Haikyuu!!] Onde histórias criam vida. Descubra agora