Juu Hachi

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A curiosidade às vezes pode destruir o dia de alguém, porém, no caso de Nishinoya, a conversa que ele ouviu não destruiu apenas o seu dia, mas também o seu coração que, em contraste com todas as atitudes ousadas do líbero, era bastante frágil.

Era para ser apenas mais um treino na praia, onde ele podia ver Asahi e arranjar mais motivos para se apaixonar pelo mesmo, mas o seu bom humor para aquele treino terminou quando ele se afastou da equipa para beber água e ouviu uma conversa entre Yamaguchi e Hinata.

- O que achas que o senhor Azumane diria ao ver o filho noivo, com um jogador de voleibol com pernas ágeis? - Yuu não entendia o porquê do ruivo enfatizar tanto a palavra "pernas" em sua frase, mas claro que isso não foi o que chamou mais a sua atenção.

- Ele provavelmente iria ter um surto e deixar o filho careca. Todos estão à espera daquele casamento que será com toda a certeza algo muito mágico e desejado por ambos os noivos!

Com a mágoa que ia subindo ao peito de Yuu, o mesmo não notou o tom sarcástico do rapaz de sardas e deduziu que tudo o que ele falou era sério. Asahi, o seu Asahi, estava noivo? Tudo que ele ouvia da família dos amigos podia até ser verdade, sobre eles serem muito tradicionais e ainda praticarem culturas antigas, mas, casar o filho? E que cultura antiga japonesa legalizava o casamento entre dois homens? Nem o governo legalizava ainda!

Ele saiu de perto dos dois mais novos e foi para perto de Tanaka que, ao ver a cara do melhor amigo, largou a bola de voleibol na areia para segurar os ombros do mais baixo.

- O que se passa Noya? Não te vejo com essa cara desde que a J.K Rowling foi transfóbica no Twitter.

- Acabei de descobrir que o Asahi está noivo Ryu! - ele começou a mostrar irritação e o atacante ao ver o estado do seu amigo, começou a ficar irritado também.

Os dois voltaram para o treino a mando de Ukai e com certeza eles não estavam tão bem quanto antes, mas, para o alívio de ambos, ninguém reclamou com eles. Na hora de ir embora, o número 4 nem se deu ao trabalho de se despedir do de cabelos compridos.

Estava tão irritado e magoado e por ele nunca mais olhava para a cara de Asahi, mas ele não podia simplesmente faltar aos treinos ou pedir ao capitão para proibir os seus amigos de assistir os treinos. Como alguém que estava noivo, podia deixar outra pessoa nutrir sentimentos assim, para no final não poderem ficar juntos? Por que ele simplesmente não contou que estava noivo e não podia ter um caso consigo, em vez de fingir não perceber as investidas?

O plano de Nishinoya era evitar o mais alto, pois nem conseguia simpatizar com alguém que conseguia mentir assim para as pessoas, mas ao ser quase obrigado por Daichi a ter uma conversa com ele naquela praia, decidiu despejar a sua raiva em cima dele, pois mesmo o seu coração doer por estar a ser mau com a pessoa que gosta, ele ainda estava magoado e precisava despejar as suas angústias em cima de alguém que não fosse Tanaka.

- Yuu, eu realmente não sei o que te deixou assim, mas se foi algo que eu fiz, peço imensas desculpas. Seja o que for, posso garantir que nada do que fiz ou faço é com a intenção de te magoar.

- Mentir na cara dura para mim não te parece um motivo plausível para eu me sentir magoado? - as palavras ditas de uma maneira bruta assustaram o mais alto.

- Como assim? - por pouco as palavras de Azumane não saíram distorcidas dado o nervosismo.

- Eu sei de tudo Asahi. - apesar de serem palavras sussurradas, elas ecoaram na cabeça de Asahi como se fossem berros.

- Tudo o quê Nishinoya? - o pânico foi demonstrado tanto da sua expressão, como na sua voz.

- Sei que estás noivo Asahi! Diz-me, foi divertido brincares assim com os meus sentimentos?

Tudo estava uma confusão na cabeça de Asahi. Se o Nishinoya sabia sobre o seu noivado, então ele sabia sobre a sua espécie? Mas nesta circunstância, ele não questionaria primeiro o facto de ele ser um tritão?

- Sim, eu estou supostamente noivo Yuu, mas não é como pensas! - ao ver que ele não parecia saber sobre a sua vida subaquática, decidiu ser honesto pelo menos sobre o seu noivado não desejado por si.

- Como não? Não amas o teu noivo? Ou vocês os dois tem uma brincadeira entre vocês de iludir outras pessoas? Eu não entendo Asahi!

- Os meus pais forçaram-me a casar com um homem que eu não consigo amar Nishinoya, pelo menos não do jeito romântico... - tal como Yuu já tinha ponderado antes, mas a sua raiva não o fez pensar muito na possibilidade, o casamento é fruto da vontade dos pais de Asahi.

- É preciso ir à tua casa falar com eles então? Asahi, eles não podem obrigar o filho deles de dezoito anos a casar! E o teu noivo, ele aceita isso? E se conversarmos com ele também?

- Não adianta Noya, isso só deixaria os meus pais irritados e isso não iria calhar bem para mim. - o tritão estava a ficar angustiado ao ver o desespero na voz do líbero. Desesperado para libertar Asahi daquela prisão que lhe foi imposta, para enfim poder escolher com quem ele quer ter uma ligação amorosa. Por toda a pressão que ele sentia nesse momento, acabou por mencionar o que não devia, mas depois de dito, já não há mais nada a fazer. - E falar com o meu noivo não adianta, o Suga também não quer este casamento e já deixou muito claro aos nossos pais.

- O SUGA? Espera, o Daichi sabe disso? - lá estavam as imensas perguntas que Nishinoya fazia, numa tentativa de encaixar as peças todas em sua mente confusa.

- Ele mesmo, a minha esperança é que ele consiga fugir com Daichi antes da cerimónia. Se isso acontecer, pelo menos este casamento não se sucederá, agora, não posso prometer que o meu pai não irá planear outros.

- Isso é horrível Asahi! Eles querem o quê com isso? Empoderar o nome da vossa família ou alguma dessas parvoíces?

- Posso dizer que é isso basicamente. Eles preferem dar mais importância a um sobrenome do que à felicidade do próprio filho.

Ao olhar, pela primeira vez na conversa, para o rosto de Azumane, Nishinoya sentiu um aperto quase sufocante no peito ao ver as lágrimas caírem sem controlo algum pelo rosto do mais alto. Estava tão irritado por algo que ele nem sequer entendia direito e agora tinha a pessoa que conquistou o seu coração, em prantos bem na sua frente.

- Senta Asahi! - Yuu nem esperou resposta e empurrou o outro até que ficasse sentado na areia.

- Noya, o que... - a sua fala ficou pela metade quando Nishinoya sentou-se sobre as pernas de Asahi e abraçou-o com força. Com o balançar do peito do outro, Asahi percebeu que ele chorava junto consigo.

- Suga! - o capitão chamou o namorado para olhar a cena dos dois amigos abraçados e o carinho refletido nos olhos do acinzentado era notório.

- Nem te atrevas a interromper aquilo para chamar o Noya. O treino pode esperar!

Sawamura nem cogitou essa ideia, nem ele, nem o resto da equipa, que observava a cena emocionante.

- Vem para minha casa hoje! - podia ser abusado colocar um tom imperativo na sua frase em vez de interrogativo, mas Nishinoya não se importava com mais nada, apenas com o abraço de Asahi. - Deixa-me estar nos teus braços pelo menos esta noite!

- Eu vou Nishinoya. Não precisavas pedir mais que uma vez.

Naquela noite, Asahi passou a sua primeira noite fora do oceano e desta vez foi Sugawara que voltou para casa, para poder cobrir o amigo dos seus pais.


























Juro solenemente não ser normal !!!

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