Quando fracassei em achar a Zara, comecei a beber. Azriel ainda insistiu um pouco perguntando o que exatamente tinha acontecido, mas quando não respondi ele desistiu e começou a beber comigo.
Sei que deveria pelo menos ter tentado explicar algo para o meu irmão, mas naquele momento eu nem conseguia raciocinar direito.
Não lembro o quanto bebi,com quem dancei ou que horas sai da Corte Primaveril.
Quando acordei eu estava esparramado no sofá da Casa Dos Ventos, minha cabeça girava como se eu ainda estivesse um pouco bêbado, e minhas roupas cheiravam a álcool misturado com suor.
— Achei que você não ia acordar.
Alguém retruca do outro lado da sala, me viro e meus músculos protestam com o movimento. Quando ergo o olhar encontro a Morrigan sentada em uma poltrona. A loira vestia uma blusa branca que mostrava uma parte da sua barriga, com uma legging preta e botas da mesma cor. E Mesmo simples, a fêmea estava linda, como sempre.
— Bom dia pra você também.
Resmungo sentindo a ressaca me acertar em cheio,massageio as minhas têmporas com os dedos para amenizar a dor de cabeça e respiro fundo algumas vezes tentando afastar um enjoo iminente.
— Cassian, o Az me falou que você estava estranho ontem.
— Bebi demais, tô normal.
Ela me analisa provavelmente procurando algum sinal de que eu estivesse mentindo naquele momento.
Mas como eu explicava para ela?
Como eu falo que estou ficando louco? Tudo por causa de uma fêmea que me salvou na guerra e agora me provocava sensações estranhas.
Como eu digo que essa mesma fêmea é uma general de Hybern?
Ela ia achar que eu era um idiota por me sentir tão atraído por uma inimiga que nem deve lembrar da minha existência, ou se lembra a repudia.
— Você está estranho.
Morrigan fala baixinho, suspira alto me observando,seu olhar sobe e desce pelo meu corpo antes dela falar:
— Não sei o que está acontecendo, e também não sei se realmente quero saber. Mas estamos aqui para quando quiser falar.
Balanços a cabeça, concordando enquanto a observava os cachos da loira voam com uma brisa leve. Mor sustenta o meu olhar por alguns segundos, antes de se levantar e me abraçar.
Ela faz careta assim que sente meu cheiro o que me faz rir, e abraçá-la ainda mais forte.
— Cassian!!
Morrigan se solta dos meus braços rindo também.
— Vai tomar um banho. Agora! Agora!
Aceito a sugestão da loira, me levantando devagar e indo em direção a minha suíte.
Dentro da banheira, sentindo a água quente relaxar meus músculos doloridos, deixo a minha mente vagar pelos meus pensamentos estranhos.
A Zara.
Por que essa fêmea tinha tanto efeito sobre mim?
Eu não a conhecia, não sabia seus gostos, seus pensamentos ou se ela pelo menos ainda se lembrava de mim.
Mas eu era um idiota e mesmo assim continuava pensado nela.
Lembrava dela.
Lembrava do seu corpo em cima do meu, dos seus gemidos, de como nos encaixamos perfeitamente naquela noite.
Lembrava disso dia após dia, hora após hora.Antes pensar em reencontrá-la era apenas uma fantasia, algo que nunca aconteceria. Mas agora, ela estava aqui em Prythian. Bagunçando tudo, invadindo a minha mente nos momentos menos oportunos e me enlouquecendo aos poucos.
A 500 anos atrás, quando um general de Hybern enfiou sua espada no meu estômago e fez minhas tripas pularem para fora, eu achei que iria morrer.
Não tinha ninguém para me ajudar, porque todos os aliados que estavam por perto tinham sido mortos.
O general era um cara grisalho, bem mais experiente do que eu. Ele se aproximou do meu corpo caído, passo após passo, enquanto um sorriso predatório crescia em seu rosto pálido, pronto para dar o golpe fatal. Provavelmente arrancando a minha cabeça fora.
Meu corpo tremia, não respondia aos meus comandos, e mesmo com a parte mais primitiva do cérebro me mandando correr eu não conseguia fazer isso.
A poça de sangue embaixo do meu corpo ficava cada vez maior, minha visão estava começando a ficar embaçada, e quando a espada do macho estava a centímetros da minha garganta outra lâmina bloqueou o golpe.
Obriguei meus olhos a ficarem abertos, então vi a fêmea, ela usava uma armadura preta, a qual o sangue grudado a fazia refletir. O mesmo sangue também estava em seu cabelo, e rosto. Mas ela parecia não se incomodar com isso.
A postura da fêmea para a batalha era perfeita, como se ela tivesse passado anos treinando só para isso. Sua mão estava firme na espada e seu rosto estampava um sorriso ansioso.
Os dois trocaram olhares e logo as lâminas começaram a se chocar. O barulho dos metais batendo um contra o outro preencheu meus ouvidos e só a mãe sabe como eu ainda estava acordado.
Vi a fêmea afundar sua espada no estômago do general, do mesmo jeito que ele tinha feito comigo.
Até pensei que ela fosse alguma aliada desconhecida, mas então o general falou:
— Por que está lutando comigo? Queremos a mesma coisa. Traidora.
O macho estava no chão, caído e sangue jorrava do seu abdômen ferido.
O observei sentindo uma satisfação insana. Mas eu não estava em uma situação melhor que a dele, sangue também jorrava sangue do meu corpo,e quando a fêmea Hyberniana ergueu sua espada para dar o golpe fatal no General, eu desmaiei.
Acordei em um chalé abandonado. A fêmea estava sentada ao meu lado observando as minhas asas com curiosidade, e quando coloquei a mão no meu abdômen, ele estava curado.
Ela tinha me curado de alguma forma, e até hoje não sei como e nem o motivo que teve para fazer isso.
Trocamos poucas palavras antes de começarmos a nos beijar, e então tudo aconteceu.
Foi assim que a Zara, minha inimiga, me salvou.
Foi assim que a fêmea invadiu a minha mente e não saiu mais.
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Corte em Ruínas
FanfictionCassian ainda lembrava da fêmea que o salvou na guerra a 500 anos atrás. Foi a mesma fêmea que sumiu repentinamente depois deles treparem. O deixando sem saber o nome ou mais alguma informação importante sobre sua salvadora. Cassian até tentou, mas...