Capítulo cinco: Êxtase

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Naquela mesma noite, a médica ainda permanecia no apartamento da Noceda compartilhando o mesmo sofá, deitada em cima do corpo da maior enquanto dedilhava circulos imaginários em seu braço.

Chovia lá fora e a latina não pôde evitar arrumar uma desculpa para a pediatra ficar mais um pouco consigo.

- eu posso perguntar oque a Boscha tava fazendo lá ontem? Não gostei de ver oque ela te fez - Amity levantou o rosto para encarar Luz.

- Boscha é minha ex-namorada - disse fazendo a outra ficar surpresa - você conhece ela? - recebeu um aceno positivo em resposta.

- a gente competia na mesma escola antes do meu acidente... mas oque ela queria?

- ela queria voltar, oque não faz absolutamente sentido nenhum, quer dizer, a gente namorou a dois anos atrás, foi o namoro mais curto da minha vida porque ela me traiu e supostamente nem gostava de mim. Depois que nos afastamos, eu descobri que ela ficou comigo para dar informações da minha vida para a minha mãe. Já que a gente não tinha mais contato e moramos em cidades diferentes...

- você tem razão, isso não faz mesmo sentido. Eu devia ter questionado ela.

- não devia não, apesar de tudo ela é perigosa, eu gostaria que você ficasse longe dela, é mais seguro...

- se ela fizer oque fez de novo eu não falo por mim - fez birra com a cautela da Blight, que se levantou do peito da outra para encurralá-la no sofá, entre os seus braços, pernas e a alguns palmos de distância.

- Luz eu tô falando sério, ela trabalha pra minha mãe e minha mãe... é a pior pessoa pra se querer por perto. Eu preciso que você fique segura.

- não entendo porque deveria ter medo da sua mãe, quer dizer... você nunca me contou sobre ela - disse a latina completamente confusa sobre o posicionamento da Blight. Pensava sobre como o estado traumatico que ela apresentou no dia anterior, parecia contar bem mais história do que ela estava revelando.

- Luz... - a médica levantou e se sentou no sofá, dando um suspiro longo e encarando as botas. A Noceda se levantou junto entendendo que aquele era um assunto delicado para ela. Não forçou-a e afagou suas costas tentando tranquilizá-la - Nós... não temos ligação porque ela não aceita a mim nem aos meus irmãos sendo lgbt, na verdade, ela nunca descobriu nada antes sobre o Edric e a Emira porque eles meio que faziam um teatro... trocavam as pessoas que namoravam para parecerem adequados aos olhos dos nossos pais. Se o Edric estivesse namorando um garoto e a Emira uma garota, perto dos nossos pais a garota seria namorada do Edric e visse e verso... mas eu nunca fingi nada, na verdade eu nunca apresentei ninguém a minha família, fingia que estava focada demais nos estudos para pensar em relacionamentos. Mas quando eu tinha 16 estava saindo com uma garota e... no dia da nossa despedida, já que eu iria para a faculdade, a mãe viu o nosso beijo. Ela me agrediu e me expulsou de casa, ela só descobriu meus irmãos a poucos anos... Naquela época eu já trabalhava e eles também, então... quando tudo aconteceu, eles pegaram nossas coisas e sairam de casa junto comigo. Moramos juntos até esse ano, quando as coisas começaram a melhorar e resolvemos ter nossos espaços. O meu pai vivia viajando e nunca interfiriu em qualquer mal que nossa mãe quisesse nos causar, essa também foi a pior atitude dele que eu saiba, já que eu praticamente não sei que tipo de pessoa ele é além disso. Só que a minha mãe Luz, é uma mulher cega por poder, ela não se importa em quem ela tem que pisar para conseguir oque quer. Ela é absolutamente capaz de tudo para isso, sei que ela já contratou pessoas para fazerem coisas terríveis, e eu não duvido que a Boscha esteja envolvida em tudo isso.

- puta madre - falou a latina se levantando totalmente chocada - quando você pretendia me contar? - expôs preocupada.

- eu não sei, isso não é fácil, okay? - pronunciou magoada temendo o afastamento da Noceda - eu entendo se quiser cair fora... - falou se levantando e pegando sua bolsa pronta para ir pra casa. Mas a latina segurou sua mão.

- não vai... eu só tô preocupada... e agora essa garota resolve aparecer, oque ela quer?

- eu não faço ideia... só sei que ela parecia assustada com algo - pronunciou penteando a franja para trás, nervosa.

- a gente não devia contar para a polícia?

- na verdade, o namorado do Edric é detetive, ele andou coletando várias pistas sobre o paradeiro da nossa mãe. Meio que o esquadrão dele fica de olho na gente - A Noceda suspirou.

- sei - disse sarcástica e visivelmente assustada, fazendo a Blight acariciar seu rosto.

- olha... vai ficar tudo bem - tentou tranquilizar a outra vendo a negar.

- você não tem como afirmar isso.

- e oque você quer que eu diga Luz? Como você espera que eu e meus irmãos vivamos?

- eu sei! É só que isso é assustador! - pronunciou sobressaltada ouvindo a outra fungar segurando as lágrimas. Amity já estava tão desgastada com os próprios sentimentos a respeito da mãe, que se tornava insuportável presenciar intacta o choque da Noceda. Não podia evitar sentir culpa por ter entrado na vida da garota com todos esses problemas, ainda mais quando sabia que a latina havia sofrido uma série de ocorrências desastrosas.

Gostaria muito que as coisas fossem tão simples quanto Emira e Edric colocaram no dia anterior, mas ela não enxergava dessa forma.

- é melhor a gente se afastar... - disse a Blight em um tom mais baixo, para que sua voz chorosa lhe permitisse falar claramente. Mas obteve uma careta em resposta como se acabasse de dizer algo totalmente sem noção - vai ser melhor pra você e...

- você acha que eu quero desistir da gente por causa dela? - expôs abraçando a garota subtamente sendo retribuida com firmeza. Sentia a garota tremer em seus braços por causa do choro. Quase chorou também ao se colocar no lugar dela e se imaginar passando por algo assim, nunca precisou saber oque é o abandono por parte de sua família porque ela sempre teve apoio. Ao pensar nisso, sentiu ainda mais insignificante o período em que o dito cujo que partiu seu coração esteve em sua vida. Apesar de tudo ela ainda teve sorte em alguma coisa - eu sinto muito pelos seus pais - disse sentindo a outra desabar ainda mais, percebeu sua blusa começar a grudar na sua pele devido ao tanto que a médica chorava. Respirava fundo buscando calma interior para lidar com tudo isso, enquanto abraçava a Blight sussurrando palavras reconfortantes e pedindo desculpas por ter se exaltado e ter assustado a garota, recebendo de volta numa fala meio entrecortada pelo choro um "não é sua culpa" - dorme aqui comigo hoje? - pediu espontaneamente surpreendendo a médica por não se importar se estava caminhando rápido demais - não vou conseguir pregar os olhos pensando que você tá em perigo. Você dorme? - pronunciou sentindo a outra assentir afirmadamente em seu ombro enquanto ainda a abraçava.

I don't wanna be your friendOnde histórias criam vida. Descubra agora