- VII

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Nunca senti minha cabeça doer tanto assim. Meus olhos tinham dificuldade para abrir e minha boca estava com um gosto horrível.

Apoiei meus cotovelos na cama e levantei metade do corpo, conseguindo olhar ao redor. Tinham tantas roupas naquele chão, eu não conseguia achar a minha blusa. Por que tem duas garotas aqui do meu lado? Elas dormiam feito pedra, acho que passaram o resto da noite acordadas.

Peguei uma blusa qualquer e passei as mãos no meu cabelo, tentando pentear.

Assim que abri a porta, uma brisa gelada passou por mim, fazendo com que o frio tomasse conta do meu corpo. A casa estava um caos. Tinham vidros quebrados, garrafas e copos jogados pelo chão, um carpete sujo e várias pessoas amontoadas em sofás ou colchonetes.

Desci até a cozinha e me deparei com Noah dormindo em cima da bancada.

- Noah. - Sussurrei. - Você viu o Finn?

Sem resposta. Apenas aquela mesma garota da roda, e mais algumas poucas pessoas estavam acordadas.

- Hey! - Fui até ela, que filmava tudo pelo celular.

- Oi, é...

- Millie.

- Oi Millie. Quer alguma coisa?

- Você pode me dizer as horas?

- São duas da tarde.

DUAS DA TARDE.

D-U-A-S.

Meus pais já devem estar procurando por mim. Eu faltei aula e não cuidei da Ava pela manhã.

Subi desesperada até o quarto, tentando achar minha calça jeans com as chaves do carro.

Uma das garotas reclamou do barulho, mas eu não liguei. Onde estava minha chave?

Desci novamente, na esperança de que estivesse lá.

NADA.

Meu celular, a chave do carro.

Lilia e Maddie estavam nos degraus da entrada, ambas sentadas, cobertas por um lençol.

- Mills, o que foi? - Maddie olha para mim.

- Mi-mi-minha calça. - Meu desespero rapidamente se transformou em lágrimas.

- O que? era uma calça importada ou algo assim? - Lilia sorri.

- Meu celular e a chave do carro estavam nela.

- Ah, merda.

- Relaxa, Mills Mills. Vamos achar.

- Não tem como. Já procurei em todos os lugares.

- E no telhado? - A voz da mesma garota da roda surgiu atrás de mim.

- Vai mandar ela procurar na geladeira também, Mandy? - Lilia responde.

- Só estou falando. - Deu ombros - Acho estranho que a Sadie esteja desde ontem subitamente interessada na escada que leva pra lá.

- A Sadie? Por que a Sadie estaria com minhas coisas?

- Vai lá e pergunta. - Mandy aponta para a lateral da casa. - Puxa um fio marrom.

Corri até lá e fiz exatamente o que Mandy mandou, revelando uma escada que se dobrava.

Subi com cuidado, e ao chegar no topo, Sadie estava abraçando seus joelhos, olhando a vista.

- Por que você pegou minhas coisas, Sadie? - Me aproximei de onde ela estava, reconhecendo minha calça.

- Sei lá. Entrei no quarto achando que a cama estava livre, mas foi perda de tempo. Daí vi sua roupa jogada e reconheci a chave. Esses carros antigos valem uma fortuna, você teve sorte que outra pessoa não pegou essa merda.

Ela queria um agradecimento por ter ficado com minhas coisas? era isso?

- Por que está aqui? - Perguntei enquanto vestia minha calça.

- É tranquilo.

- Você não parece o tipo de pessoa que gosta de tranquilidade.

- Há muitas coisas sobre mim nas quais você não sabe.

Chave e celular recuperados. Hora de ir.

- E então, você se lembra de alguma coisa que aconteceu ontem? - Ela carregava um tom sarcástico na voz.

Na verdade eu não lembrava de nada mesmo. Só alguns flashes de memória, e eram muito vagas.

- Eu preciso ir.

- Você ainda não respondeu a pergunta.

Cheguei no início da escada e antes de pisar no primeiro apoio eu soltei um suspiro.

- Sadie. - Ela olhou para mim. - Obrigada.

Depois de ter se virado, Sadie não olhou mais na minha direção, por isso resolvi descer.

Entrei novamente, e agora estava disposta a achar Finn.

- Noah? - Assim que voltei pra cozinha, Noah estava se espreguiçando. - Onde está o Finn?

- Ele me deu um soco. - Noah vira um pouco a cabeça e mostra a bochecha roxa.

- Como isso aconteceu?

- Sei lá, eu tentei conversar e estávamos perto da piscina, aí eu puxei ele junto comigo e depois ficou irritado. - Noah tinha dificuldade para falar, ainda estava lento. - Aí ele ficou com mais raiva quando tentei conversar e aconteceu.

Finn entrou na cozinha de repente, sem falar nada. Seu caminho foi até a geladeira, onde ele pegou uma garrafa de cerveja e fez contato visual com Noah por poucos segundos.

- Depois eu me viro. - Finn saiu da cozinha.

Isso era um sinal para eu ir embora?

Me apressei para voltar ao carro, que por sorte, estava do mesmo jeito que deixei.

Minha mãe estava com as mãos na cabeça, andava de um lado para o outro enquanto verificava o telefone. Mas parou assim que avistou meu carro.

Eu já sabia o que viria em seguida.

My... girl? • Sillie Onde histórias criam vida. Descubra agora