My... girl? • Sillie

- XI

"Sadie sink pov's"

Eu estava sentada no sofá rasgado procurando por um bom canal de TV quando Mitchell entrou pela porta desesperado.

- Céus, você quer quebrar uma porta quebrada?

- Espero que não tenha jantado.

- Ah - Sentei novamente no sofá - Achei que estava correndo da polícia.

- Não quer ver o que eu trouxe? - Ele sacode as sacolas e as coloca em cima do pedaço de madeira que chamamos de mesa.

Levantei e fui até lá. Mitchell me olhava ansioso.

Não estava dando o menor crédito as compras, mas quando vi uma caixa de pizza meus olhos devem ter brilhado.

- Gostou? Trouxe a sua favorita. - A caixa é aberta e um cheiro maravilhoso se espalha pelo trailer.

- Ok, certo. - Revirei os olhos. - Você é o melhor.

Peguei uma fatia e sentei na cadeira, onde avistei mais sacolas.

- E aquilo ali? - Falei de boca cheia.

- Onde estão seus modos, Sadie? - Ele se senta e abre as sacolas.

Sorvete e barras de chocolate.

- Por que tudo isso de repente? - Me servi com um copo de refrigerante. - Digo, você sabe que não podemos--

- Gastar desnecessariamente, eu sei.

- Então?...

- O pai já sabe do que aconteceu?

- Não. - Limpei a boca com as costas da minha mão. - Ele sequer me atende, sempre que eu ligo simplesmente é depositado cem dólares na minha conta.

- Ele e a Sabrina ainda estão juntos?

- Eu não sei - Praticamente me deito na cadeira, cansada. - Decidi que não quero saber dele ou daquela família de merda.

- Você está doente?

- Não? Que pergunta mais idiota.

Ele deu ombros e foi até a pia, pegando copos para colocar o sorvete.

- Pra que sujar? - Abro o pote e coloco minha colher lá dentro. - Muito mais simples.

•

Depois de pizza, conversa e sorvete, Mitchell foi dormir e fiquei sozinha na sala novamente.

Ouvi batidas na porta e me levantei com tanta preguiça que só faltava rastejar.

- Boa noite. - Um homem alto e magro estava usando um capuz e olhava de um lado para o outro. - Mitchell.

- Quem é você?

- Mitchell e eu somos colegas de trabalho.

- E o que você veio fazer aqui?

- Sinto muito. - Ele estica os punhos para frente, mas eu consigo desviar e agarro seu braço, o jogando contra o chão.

O trailer estremeceu, Mitchell veio desorientado até nós, mas ao ver seu colega no chão ele logo me afastou.

- Que porra é essa, Mitchell?

- Não enche.

- Esse maluco tentou me bater.

- O que? Por que você tentou bater na minha irmã?

- Achei que era da polícia. - Deu ombros e passou as mãos pelo braço assim que se colocou de pé. - Aqui, eu trouxe.

Mitchell pegou o saco de papel e colocou dentro da camisa.

O cara misterioso saiu e ele estava prestes a voltar pro quarto, mas intervi.

- Eu quero uma explicação. - Observei o saco nas suas mãos. - É daí que vem seu dinheiro? Caramba você prometeu que não ia mais se meter com essa gente.

- Você não é minha mãe, Sadie. Eu só preciso relaxar as vezes.

- Relaxar? É por isso que não temos nossa mãe aqui, ela foi presa pela porra das drogas. - Respirei fundo. - E você comete o mesmo erro. Parabéns.

Peguei meu casaco perto da entrada e abri a porta do trailer, eu precisava sair.

- Pra onde você vai?

- Vou dar uma volta. - Fechei a porta sem olhar para trás e coloquei as mãos no rosto.

- Tudo bem, querida? - Jane falou da sua janela.

Velha fofoqueira, cuide dos seus treze gatos.

Sai andando até estar um pouco mais afastada dos trailers. Parei por um momento e olhei para baixo, tinham tantas pessoas morando nessa merda também.

Sentei no chão de barro e eu tinha uma vontade enorme de gritar, só queria colocar aquilo tudo pra fora.

Peguei o maço de cigarro localizado no bolso interno do casaco e tive certa dificuldade para acender um cigarro. Culpa do vento forte que estava fazendo.

A fumaça estava se espalhando, abracei meus joelhos e estava prestes a relaxar, mas senti uma mão no meu ombro e virei rapidamente.

- Sou eu. - Mitchell se senta ao meu lado e pega o maço, acendendo um para ele também. - Sadie, nossa família é uma merda, só temos um ao outro. - Suspirou. - Mas você já pensou e ter alguém?

- Ter alguém? Não. Tenho você e--

- Nós não vamos nos casar. Você precisa de alguém pra ficar junto.

- Não.

- Só tentou uma vez. E agora fica saindo com várias garotas só por diversão... Não seria mais fácil namorar alguém?

- E a vez que eu tentei não deu certo.

- Óbvio? Você e a Sophia combinaram de ter um relacionamento com quem quisessem mesmo namorando. Isso faz algum sentido?

- Faz. Bom... Fazia.

- Exato, vocês fizeram esse acordo idiota e quando ela de viu beijando outra garota simplesmente surtou.

- Não quero me preocupar com isso agora, estou falando sério.

- Só estou dizendo. Seria bom ter alguém, talvez te distraísse, você ficaria mais feliz.

- E usar essa pessoa? Esquece.

- Você quem sabe. Só quero te ver feliz, nossa vida é uma merda faz muito tempo.

- Odeio concordar com você.

- Amanhã eu faça o café.

- Você não sabe nem fazer um macarrão instantâneo.

- Tentarei por você. - Ele me abraçou.

Esse idiota era meu irmão. Mas era meu idiota. E agora só tínhamos um ao outro.