- XXXIV

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"Sadie Sink pov's"

Pego meu celular caído no chão e mesmo com a visão embaçada, tento achar o número de Millie. Odeio ter tantos contatos, quando o que preciso deve estar o mais longe possível do meu encontro.

- Millie... - Resmungo quase chorando pela frustração de não encontrar seu número.

O celular escorrega da minha mão e caí no chão mais uma vez. Eu levanto irritada e pego as chaves da droga do carro novo. Mitchell está se enrolando com algumas sacolas nas mãos, e se espanta ao ver meu estado antes de entrar no trailer.

- O que caralho aconteceu com seu rosto? - Ele pergunta, se aproximando de mim.

Me viro, porque não quero que ele sinta meu hálito, mas agora parece tarde.

- Você bebeu?

- Não. - Minto, tentando parecer convincente, mas parece difícil.

- E o seu rosto?

- Eu escorreguei, mas estou bem. - Conferi no espelho assim que caí e é possível ver um roxo marcando presença na minha bochecha.

- E por que vai sair?

- Eu preciso encontrar alguém.

Ele não faz perguntas, mas o ouço bufar quando entrou entrando no carro. Ignoro e saio, dirigindo até o colégio. Sei que minha vista está me traindo um pouco, então coloco uma música alta para me despertar.

Coloco o cinto na metade do caminho porque tinha esquecido, e arrumo um pouco meu cabelo antes de ver Millie. Queria chamar ela de namorada, mas ela só deve ver como um acordo ainda. Pensei que pudesse ser diferente quando ela me disse aquelas palavras, mas tem a merda da popularidade, que eu nunca vou saber o motivo de ser tão importante.

É hora da saída quando chego ao colégio. Nem me esforcei para vir hoje, porque enquanto minha mãe bebia ontem, eu fiz a mesma coisa, e quando foi dormir, continuei. Não quero fazer a mesma merda que Mitchell, mas acabei fazendo algo parecido e isso me irrita. Eu deveria encarar minha realidade, e não tentar fugir.

Millie sai conversando e sorrindo com um garoto. Forço minha vista e vejo o loiro falso em seu cabelo. Fecho meus punhos perto do volante, tendo vontade de arrancar meus pensamentos sobre Millie levar a sério. Não posso culpá-la tanto porque eu estava junto da Alice enquanto a gente fingia, mas agora eu só sinto uma sensação de ciúmes, algo que acho ser novo em mim. Eles se abraçam como despedida, e minha namorada de mentira está indo até seu carro, mas para quando buzino. Mesmo me olhando confusa, ela se aproxima do carro quase correndo.

- Por que sumiu hoje o dia quase todo? Eu fiquei preocupada, você não falou absolutamente nada e agora aparece aqui sem mais nem menos.

Observo ela falando, seu semblante demonstrando preocupação. Preocupação de verdade. Quero sorrir com a ideia de que ela se preocupe comigo, me sentindo feliz até.

- É que eu... - Começo, mas ao sentir meu hálito ela faz uma careta. Agora sabe o que eu estava fazendo.

- Sai do carro. Agora. - Ela manda, e mesmo com preguiça, eu saio. Estranhamente, sinto uma vontade de receber se abraço, então ao sair eu envolvo sua cintura e apoio a cabeça em seu ombro.

- Sadie, por favor.

Levanto a cabeça e viro para o lado, dessa vez ela consegue ver o roxo em minha bochecha. Sem que eu espere, ela toca meu rosto, sua pele fria suavizando a dor na região.

- E isso? - Questiona.

- Eu caí. - Digo simples, mas no fundo sinto vergonha.

Millie me põe no banco traseiro e dirige. Não consigo focar aonde estamos indo porque tento não vomitar enquanto estou deitada.

- Millie. - A chamo, ela não se vira, deve estar concentrada.

Ao pararmos, quase cai do banco. A porta é aberta e saio do carro. Ela me segura com cuidado, me levando para dentro da sua casa. Está meio escura, mas consigo ver uma luz fraca como se fosse de um celular. Não consigo ver direito quem é.

- Quem é ela? - Alguém pergunta. Uma voz feminina, que deixa Millie tensa.

- Essa é a Sadie. - Diz rápido.

Me abaixo para cumprimentar, acho que estou confusa e acabei fazendo uma reverência para a mulher. Meu cabelo vai todo para frente quando me inclino, mas Millie logo me recompõe.

- O que aconteceu com ela?

- Não é nada, mãe - Millie fala rápido de novo, e começa a se mover. - Vem, Sads. - Sads. Eu queria sorrir agora, mas estou com dor.

Subimos e ela me coloca sentada no sofá em seu quarto. Parece que vai me deixar só, então seguro sua mão.

- Vou buscar gelo para você.

- Eu não quero gelo - A puxo para mim, seus olhos me observam com seu rosto bem próximo do meu. - Fica comigo.

Ela respira fundo, e parece se render quando me beija. Eu retribuo, sentindo cada parte de mim pedir por ela, e também para que esse namoro se torne verdadeiro.

- Já volto. - Ela diz, seus lábios perto dos meus.

Fico sozinha, esperando que volte. Ao longe, consigo ouvir algumas ruídos que parecem gritos, e até me inclino para ver, mas não é nada ao meu alcance. Quando Millie retorna, está brava, mas tenta se acalmar.

O gelo é colocado em minha bochecha, eu cerro a mandíbula quando sinto aquele frio congelante em minha pele. Millie está apoiando uma mão em meu joelho enquanto a outra olha para a marca roxa. Me pego pensando de novo no quanto a quero, então fecho meus olhos e começo a chorar. Imediatamente o gelo é tirado do meu rosto, ela levanta meu queixo.

- Desculpa. Desculpa. - Diz, e está preocupada, percebo pela sua voz tremendo.

Um turbilhão de memórias me atinge, como da primeira vez que nos vimos, e tudo que ela ligava era para uma listinha que tinha feito. Eu tentei ignorar todos aqueles pedidos, mas do que adiantava? Millie queria isso e eu meio que tinha esse poder, mas agora eu não sei mais se posso servir, e pela primeira vez eu me sinto no lugar de Alice, quando a deixei. Millie não me deixou, mas como ela vai reagir quando perceber que as pessoas não ligam mais para mim, e na verdade nunca ligaram muito, sendo sincera. Uma garota namorando a filha da diretora rendia até fofocas entre os estudantes, mas não, eu não era tão popular quanto ela imagina, e acho que só estou com medo de ser deixada para trás, sozinha depois de me acostumar a tê-la comigo.

Abro meus olhos, meu coração dói ao ver a expressão de Millie, que está preocupada.

- Tá... Tá tudo bem. - Digo, baixo, esquecendo por um momento que ela pensa ser o gelo.

- Como isso foi acontecer, Sadie?

De novo é sobre o roxo e preciso me lembrar. Mas, eu também quero saber como isso foi acontecer. Estou tentando ignorar a realidade e me prender ao que disse a Mitchell sobre não querer ninguém, mas ao olhar para essa garota, eu só consigo me lembrar do que ela me faz sentir.

- Eu escorreguei. Bati na quina da mesa antes de cair. - Me lembro disso por causa do impacto, e depois fiquei repetindo várias vezes para lembrar o que aconteceu.

- Você bebeu demais. - Diz ainda preocupada, as sobrancelhas juntas.

- Acho que sim. - Eu digo, perdida em seus olhos.

Ela limpa as lágrimas presas em meus olhos e eu a beijo.

Nunca experimentei a sensação. Nem sei sequer como deve ser. Talvez seja amor o que sinto por Millie. Posso experimentar isso agora, mas a ideia de que ela não me queira mais, me atormenta.

- Fica comigo. - Peço, fungando.

- Eu já estou...

- Mas eu quero que você fique comigo, não aqui desse jeito. Eu... Eu... - Paro ao ver confusão em seus olhos. - Eu... - Gaguejo, me atropelo nas palavras, tudo soa ridículo e eu balanço a cabeça. Sou uma idiota.

Me sinto tranquila quando ela acaricia meu rosto e me beija, eu até sinto que nós podíamos deixar isso de namoro falso pra lá e só namorar. Acho que é tudo que desejo agora.

My... girl? • Sillie Onde histórias criam vida. Descubra agora