Aviso: Mamãe voltou, não lembro se já mostrei o rosto da nossa Ange, então aí está.Niklaus Mikaelson
Meus dentes perfuram sua pele macia rasgando-a para mim, sangue começa a escorrer de sua ferida no pescoço e então eu me delicio. O líquido denso e metálico me faz delirar por um breve instante, fecho meus olhos e aproveito o momento. Aperto minha mão esquerda em seus cabelos segurando-a com mais força e necessidade. Este é salgado e forte, poderia facilmente me perder em suas veias, em seu corpo. Sugo o mais forte que consigo e ela solta um pequeno suspiro e sinto seu corpo começar a morrer, mas não paro. Continuo bebendo e me deliciando, eu preciso disso, preciso deste momento de paz, desses dois minutos onde não penso em nada a não ser o sangue em meus lábios. Esses poucos minutos de paz, onde vou para outro lugar onde ela não exista. Sempre em minha mente, como um parasita preso a um animal, como se ela fosse parte de meu cérebro. Me pergunto se ela sequer sabe disso, ela sabe que é meu primeiro pensamento do dia? Ela sabe que sorrio quando lembro de seus sorrisos?
Nenhum foi direcionado a mim, no entanto. Me senti fraco, um covarde e me senti amedrontado pela primeira vez em séculos, tudo isso ontem. Sua presença naquele salão me fez ver apenas o vermelho de seu vestido, havia apenas ela lá. A forma como lidou com a situação, o quanto foi esperta e maliciosa ao jogar com outra pessoa muito mais experiente. Ela sabia o que estava fazendo o tempo todo, usou, jogou, brincou, e depois apunhalou como se não se importasse. Ele era apenas uma pedra em seu salto de doze centímetros, e eu acompanhei cada parte de seu show. O quão excitante foi vê-la em pratica, mostrando suas caras, mordendo e rindo. E depois, seu cheiro de jasmim me deixou completamente fora de mim, e quando ela me pediu que a beijasse... eu só queria dizer sim.
Afasto meu rosto de seu pescoço, sinto seu sangue escorrendo por meus lábios, passo a língua ao redor de minha boca, limpando o resto do sangue. Retiro um lenço branco de meu casaco e termino de limpar o restante. Tiro meus braços dela e me sento em meu lugar novamente, do outro lado do caro. O sangue dela escorre por todo seu corpo e cai sobre o banco, solto uma respiração pesada. Paramos em minha nova mansão, a que dei aos meus novos futuros híbridos, e vejo meu homens pela propriedade. Saindo do carro, caminho até meu motorista, o mesmo abre sua janela e se vira para mim, esperando a ordem.
— Jogue-a em algum buraco, e mande lavar o carro. — digo a ele e o mesmo assente.
Ajeito minha roupa e caminho a entrada da mansão, um mordomo abre a enorme porta dupla e me guia pelo corredor a esquerda. Não tive tempo de avaliar a propriedade com meus próprios olhos, mas fiz questão de escolher uma mais afastada da cidade e com uma floresta ao redor. Gostamos de viver ao ar livre, caçar, matar, correr. Coisas que faço sempre que minha mente se torna um turbilhão de pensamentos ao mesmo tempo, o que é sempre. Sempre pensando, sempre agindo. Ao logo com séculos matar se tornou um esporte para mim, as vidas são importantes apenas para me dar um pouco de paz, alguns bons minutos.
Mas isso tem se tornado mais difícil a cada momento, eu não preciso realmente matar para me alimentar. Temos bolsas de sangue e pessoas que doam em troca de dinheiro na mansão, uma alternativa que me permite continuar “lúcido”. Mas awurle momento em que sinto o último ar sair de seu pulmão e seu corpo treme ao meu... esse é o momento que mais me sinto no controle, eu posso tudo. Elijah não aprova esse comportamento, não da mesma forma que eu. Ele aceitou o que a vida lhe deu de bom grado, pessoas são importantes pra ele, tolo.
Mas não estou longe de seu raciocínio de noção e eu sei, ela tem me feito analisar cada passo que dei nos últimos mil anos. E ela nem ao me pediu para mudar, não, Ange não me pediria algo assim. Talvez ela queira que eu seja bom, que eu mude e que eu tenha pena de seus humanos. Mas ela jamais me pediria algo assim, acho que isso é o que mais gosto nela, a forma como ela me aceitou, mesmo com todo ódio e a arrogância. Gosto de quem eu sou quando estou ao seu lado, minha mente fica mais calma, num lugar tranquilo, e isso é bizarro em tantos níveis. Quero matar, quero dilacerar seu pescoço e beber seu sangue. Quero sentir sua pele em minha boca e minhas mãos ao seu redor, e quero ouvir sua respiração ofegante de medo. Esses são pensamentos que tenho a maior parte do tempo, mas quando Ange ri, quando seus lindos olhos castanhos começam a lacrimejar de tanto dar risada... tudo some, e não penso em mais nada.
Isso me detém no entanto, de cometer erros que sei que irão ficar presos em minha mente. O mordomo abre outro conjunto de portas duplas e entramos na sala de jantar. Janelas cobertas com cortinas lisas e brancas dos dois lados da sala, trazendo bastante iluminação para os rostos sentados na mesa. Cinquenta homens, meus homens, e Rebekah. Todos estão fazendo algo, ou comendo o enorme banquete de café da manhã ou mexendo no celular, e todos param o que estão fazendo para me ver.
Cruzo meus braços atrás de mim e sorrio, começando a caminhar ao redor deles. — Bom dia, vejo que estão sendo muito bem tratados, que bom! — gesticulo para a montanha de comida, e alguns assentem.
— Estávamos curiosos para saber quando nosso Alpha ia parecer. —Estevão diz da ponta da mesa e se levanta para me cumprimentar.
Aperto sua mão.— Me desculpem pela demora senhores, — olho em seus rostos. — tenho tido o semanas bastante cheias, mas estou aqui agora não estou?
Rebekah continua em silêncio, noto o olhar de alguns dos Homens sobre ela. Não me surpreendo em saber que ela anda trepando com eles, nem um pouco.
— Veio para nos transformar? — ele questiona, me afasto de Estevão e caminho até a outra ponta da mesa e me sento nela.
— Claro. — estalo meus dedos e as portas são abertas novamente, vinte empregados entram com carrinhos cobertos. — já tivemos uma conversa antes mas é sempre bom lembrar, vocês são meus, portanto têm a minha proteção e meus inimigos. — taças de sangue são colocadas na mesa, duas para cada um.
— Estamos todos de acordo, tivemos muito tempo para pensarmos nisso. — assinto.
Da última vez que criei híbridos, nada saio como eu queria. Usei a força e forcei matilha a se curvarem, nada de bom vem de um relacionamento assim. Estou usando táticas diferentes para os mesmo fins agora.
— Como isso funciona? — um garoto olha a taça de sangue e franze a testa.
— Vocês irão beber meu sangue que está na taça a direita, — me levanto e caminho até Estevão. — e quebrarei seus pescoços, quando acordarem estarão em transição e então, — alguns me olham horrorizados e meu sorriso cresce. — irão beber o sangue da última duplicata Petrova, e voltarão invencíveis.
Eles fazem cara feia para o sangue mas elas logo somem, todos levam a taça a seus lábios e bebem meu sangue. Vou para trás de Estevão e coloco minha mão em seu pescoço, sinto seu ritmo cardíaco aumentar mais conforme toco sua pele, então eu quebro sua traqueia. Minha irmã se levanta e começa a fazer o mesmo com os outros, fico em meus lugar e espero que ela termine. Rebekah me olha com um leve brilho no olhar e então suspira pesado quando o último pescoço é quebrado.
— Temos sorte da ligação entre criaturas e criador ainda existir. — assinto para ela.
— Como foram essas semanas? — caminho para fora da sala de jantar e Rebekah me segue pelo corredor.
— Bem cheias, esses lobos adoram se comportar como animais. — abro a porta de meu escritório e o encontro arrumado como havia instruído aos empregados.
— Tenho certeza que você se divertiu bastante com isso não é irmã? — olho por cima do ombro e vejo-a sorrir.
O escritório é bem pequeno, comparado ao da mansão. Uma mesa de madeira escura, paredes cheias de livros e uma janela com vista para a floresta. Mas não vou usá-lo com tanto frequência, de qualquer forma mal estarei aqui. Depois que Hope nascer me mudarei para o quartel francês, Hayley e Ange ao meu lado. Sorrio com essa ideia.
— Uma festinha não faz mal. — ela sibila.
— Tenho certeza que não. — analiso os móveis ao redor e me sento na poltrona próxima a janela. — algum traidor? — fixo meus olhos no céu limpo, o clima arejado e refrescante, totalmente diferente da minha casa na saída da cidade.
Lá é úmido e as folhas estão sempre avermelhadas, arvores altas e grama verde, sem contar que o céu é sempre cinza, quase como se fosse em outro mundo. Um lugar melancólico, um lugar de fuga da minha realidade. Ange adoraria o lugar, tenho certeza disso. A calma, a filosofia de ser igual a um lugar que pertence a uma página rasgada de um livro, Ange adoraria acordar e estar rodeada dessa ficção. Tenho pensando demais nela, acordo e a primeira coisa que vejo é a íris castanha de seus olhos, estou tomando banho e imagino seu corpo, seu coração batendo desenfreado e louco de medo e excitação.
Quero descobrir tudo, seus medos, suas duvidas, seus desejos mais profundos e seu eu obscuro. Quero vê-la da forma ninguém jamais viu, quem ela é quando ninguém vê? Que tipos de coisa pensa?
— Nenhum, todos são cadelinhas suas. — Rebekah me trás de volta de meus pensamentos e forço-me a me lembrar do que falávamos.
— Logo teremos Hayley de volta. — digo, e escuto-a bufar.
— Que plano de merda esse que ela se meteu. — Ela anda até mim. — mas ela sabe se cuidar, e a irmã dela? — ela toca meu ombro.
Suspiro, continuo olhando para o campo. — Selvagem, mas é passível quando deseja. — escuto-a sorrir.
— Tenho certeza de que Kol vai adora-la. — engulo o caroço em minha garganta.
Ele esteve com ela ontem, sozinhos por sei lá quanto tempo. E apesar de seu treinamento e da adaga que lhe dei, ele ainda é uma ameaça. Já conversamos e ele prometeu não se aproximar, mas não acredito em nada que venha dele, ele não vai tocá-la novamente. Farei o possível para manter ambos distantes um do outro, não a quero em perigo e ele é a definição disso. Mas se ela escolher... não, Ange jamais escolheria ele. Embora jamais tenhamos dito, sei que seu coração bate por outra pessoa, mas não estou pronto para admitir isso.
— Kol não chegará nem a dois centímetros perto dela! — me levanto e ajeito meu casaco, ela me encara.
— Por quê, Nik?
Dou de ombros. — Ela trabalha para mim, e preciso dela totalmente focada em mim.
Ângely Labonair
Tive bastante tempo para pensar na noite passada, bastante mesmo. Me recusei a dormir, na verdade a última coisa que queria era fechar meus olhos, pois eu sei que só veria os dele. Sonhar com ele se tornou quase um hábito nesses dias, e depois de ontem... o sonho estaria garantido e não queria isto. Há uma luta dentro de si, entre as trevas e luz que habitam sua carne e posso ver. Mas não sei o que realmente acontece lá, o motivo de sempre estar me afastando e me matendo presa ele no mesmo instante. Medo talvez, de que eu vá de vez. Ou medo do que pode acontecer a mim se ele aceitar isso.
Não é mais um segredo que está acontecendo algo entre nós, algo que apenas eu e ele conseguimos ver. Quando estamos juntos posso sentir cada átomo de seu corpo se chocar contra o meu, como se fosse energia contra energia. Energias opostas e curiosas que querem, que anseiam por se tocar. Queiro estar em seus braços, sentir seu cheiro e beijar seus lábios. Quero tocar seu cabelo e beijar seu rosto, ouvir suas histórias e rir de seu mal humor. Isso é uma loucura na verdade, não acho que Hay se importaria, ela iria surtar isso e claro, mas não me impediria.
Toco o bolso do meu jeans apenas para garantir que o anel está ali, entro no corredor escuro indo para o palco. Topo em algumas garotas e entro na sala escura, iluminada apenas pelo telão em branco e as chamas de um cigarro. Vejo Katherine sentada numa poltrona da primeira fileira, um cigarro entre seus dedos, perto de seus lábios. Também tive tempo para pensar no que iria fazer, e não posso deixá-la presa aqui. Sento-me ao seu lado, ela mal se vira para me olhar. A fumaça paira ao nosso redor, mas não ligo.
— Sabe, — começo a dizer. — é estranha a forma que simpatizo com você. — dou de ombros, olho para a tela branca a nossa frente. — desde o início eu não queria te odiar, mesmo ouvindo coisas sobre você.
— Há um explicação para isto. — ela responde e dá uma tragada em seu cigarro.
— Tenho certeza que sim. — respondo a ela, ela da uma risadinha, percebendo meu sarcasmo.
— Veio por que está curiosa? — ela me olha de relance.
— Não venho com a esperança de respostas, sei que você jamais me dará, esse é seu jogo. — viro meu rosto para ela.
— Me entregou para Klaus e veio me dizer? — ela apaga o cigarro em seu jeans e se vira para mim.
— Não. Você quer ir embora, então vou te ajudar.
— E se ele descobrir que foi você? — ela provoca.
— Então espero que você esteje bem longe.
— Porquê? — Katherine questiona e vejo seus olhos brilharem.
— Você é quem deve decidir seu futuro, por mais que seja imortal e esteja com uma boa vida aqui. — tiro o anel de meu bolso e coloco sobre sua perna. — não gostaria de estar presa. Mas ainda acho uma burrice, levando em conta de que cem anos são como segundos para vocês imortais.
Me levanto e vou embora. Talvez ela jamais me diga alguma verdade, talvez eu viva no escuro para sempre. Sem ter sequer uma noção dos motivos de ser tão... atraída por ela. Não é nada físico, não desta forma. É como se... fomos um, igual a Klaus e eu e ainda assim, diferente.
Meu sorriso apenas cresce quando abro a porta do meu quarto, é real, estou vivendo. Após meu encontro com Katherine, Bonnie e Elena me convidaram para uma tarde das garotas. Comemos muita besteira, bebemos o máximo de vinho que pudemos e fizemos as unhas, as minhas reluzem no tom vermelho que escolhi. Bonnie insistiu que precisamos de mais tempo como amigas, moramos juntas e raramente nos vemos, ela estava certa. Foi o melhor dia que tive aqui, e isso é uma certeza. Me sinto bem, feliz e leve, nunca imaginei que teria isso, amigos de verdade. Elena roubou um disco de vinil que Damon guardou dos anos sessenta, e dançamos loucamente. Minha cabeça ainda está girando devido ao álcool, mas me sinto muito bem.
Em algum momento naquela diversão, meu coração se apertou. Geralmente é nesses momentos felizes que grandes merdas acontecem e acabam com tudo, embora seja apenas meu lado melancólico falando. Escuto a música alta que vem do andar térreo, algumas pessoas já estavam se divertindo por lá. Pelo visto Klaus liberou a bagunça geral na mansão, e todos parecem muito mais felizes que eu. Meus olhos caem sobre a mesa de centro, vejo algumas cartas esparramadas sobre o vidro. Me sento no sofá e pego um envelope.
É amarelo, e não possui selo, apenas o número um destacado em preto. Abro-o.
Acho que o fato de você não esperar nenhuma resposta de mim, foi o que me incentivou a escrever isto, odeio quando alguém entende meu jogo, isso significa que sua psicologia reversa funcionou, você realmente me entende. Há inúmeras coisas que você deve saber, mas não precisa, não agora, por isso direi apenas o principal. Engravidei de meu primeiro amor aos dezessete, naquela época era altamente errado. Minha filha foi tirada de meus braços e vendida a outra família, numa de minhas fugas, acabei encontrando Klaus, mas essa história você já conhece. Procurei por Nádia em cada canto desta terra, e quando a encontrei ela já havia morrido, mas não sem me dar netos. A linhagem Petrova cresceu mais e mais, os acompanhei ao longo dos séculos, até que a alguns anos atrás conheci Elizabeth. Klaus já havia me prendido aqui, e consegui fugir por algum tempo, por ironia ou sorte, não sei dizer, a encontrei. Ela já sabia sobre mim, quem eu era, e não teve medo. Elize me acolheu em sua casa, nos tornamos muito próximas quase como... irmãs. Ela foi a única pessoa em séculos fugindo que realmente me apeguei, que realmente amei. Ela iria se casar, já estava até grávida de sua primeira filha. Fizemos planos de fuga, tudo para que continuassemos juntas, mas Klaus me achou. Ele ameaçou Carliste e Elizabeth e... Hayley, que mal era um bebe de cinco messes. Me entreguei, fiz a única coisa que achei que jamais faria, por elas, tudo por elas. Minha família, meu lar. Acho que foi assim que Klaus encontrou Hayley anos depois, mas ele a mantém segura e isso me basta. Elizabeth sempre soube onde eu estava, ao longos dos meses, anos, suas cartas chegavam para mim. Nunca a respondi de volta, quando minha sentença finalmente acabasse ela já estaria morta, assim como Nádia esteve, e isso me matava todos os dias. Não queria lhe dar esperança, nem que fosse um fiapo. Por mais que essas cartas sejam meu bem mais precioso, você deve tê-las, talvez assim conheça a mãe que te foi roubada. Não tenho nenhuma ideia de quem os matou, e sei que Klaus não teve nada haver com isto, até ouso dizer que ele os “protegeu” um pouco. Essa é sua resposta minha querida, espero que isso não te mate, somos realmente muito parecidas.
Estou em constante fuga, e essa é a primeira vez que deixo uma carta de adeus. Teria gostado de ser sua amiga.
K.p
Lágrimas escorrem de meus olhos, meu coração está apertado com tudo o que acabei de ler, a verdade que me assusta. Tudo faz tango sentido agora, aos poucos cada uma das peças desse quebra cabeças começam a se montar. A Katherine que nunca foi realmente cruel comigo, quando todos diziam que ela seria, a Katherine que me salvou de uma morte certa e me encurralou quando descobriu o que Hayley queria de mim. A Katherine, a “vadia'' malvada que apenas me protegeu, de uma forma estranha que ninguém entendeu. Só existo por causa dela, minha linhagem, meu sangue... tudo faz sentindo. Sinto bolas de energia explodindo em minha mente, quero gritar o mais alto possível, sinto minha garganta se fechando aos poucos. Pego outra carta sobre a mesa, e a abro.
Anos se passaram e minhas cartas continuam indo, se você está esperando pelo dia em que terei o choque de realidade e desejarei parar, está enganada, jamais desistirei de você Katerina! Sei que lê minhas cartas, por mais que nunca as responda, isso me incentiva a continuar tentando. Minha segunda filha nasceu a uma semana, ela possui os mesmos olhos que você, isso me deixou imensamente irritada e feliz ao mesmo tempo. Ela é muito imperativa, vive se mexendo e querendo ver tudo ao redor, embora jamais tenha chorado. Acho que ela sabe engolir seus próprios demônios, assim como você. Seus cabelos são castanhos avermelhados, e posso dizer que essa é a única parte dela que não te pertence, sinto que ela é um lembrete constante sobre você. Então estou sempre sorrindo, e posso dizer que estou mais feliz por ter uma pequena coisa sua. Lembro que você me disse uma vez, que achava o nome Ange muito lindo, angelical e que o usaria numa de suas fugas pelo mundo, bem, gostaria de dizer que ela se chama Ângely e este nome não será usado por você. Ele irá te assombrar pelo resto de seus dias, por pertencer a alguém que você não pôde conhecer. Sim, essa é minha forma de vingança. Ainda te odeio por tudo, e devo confessar que há alguns dias que desejo que esteja morta, (espero que não esteja). Mas não espero mais por suas respostas, e gostaria lhe dizer que esta é a última carta que irei lhe enviar, mas sei que é apenas uma mentira. Estarei morta quando você sair eu sei, mas sei que você irá me procurar mesmo assim, pois você é mais esperançosa que eu mesma. Sinto sua falta, todos os dias, e por mais que eu entenda o que você teve que fazer, não posso perdoá-la. E não gostaria de dizer isto mas... eu amo você! E sei que você também me ama.
Labonair. Elize.
Jogo a carta no chão, e enfio minhas mãos em meu coro cabeludo. Meu choro não é mais silêncio. Soluços escapam de mim, junto a alguns gritos abafados de dor, uma dor terrível. Todo esse tempo, todo esse mantido tempo... ela poderia ter se aproximado e me dito tudo, estaríamos unidas agora, seriamos uma família, Klaus poderia até mesmo liberta-la ou diminuir a sentença. Mas ela teve que continuar sendo a mesma vadia egoísta de sempre... pulo do sofá e fecho minhas mãos em punhos, caminho até a porta e abro rapidamente. Desço os degraus sem me importar em fechar meu quarto, preciso encontra-la, talvez ela já tenha ido, mas preciso tentar encontrá-la.
Tantas coisas presas em mim, tantas coisas que preciso dizer e saber. E foi isso? Ela jamais respondeu minha mãe? No final das contas ela morreu sem sequer uma resposta dela? Da pessoa que amava? Imagino a dor dela, minha mãe. Amorosa e bondosa, que me contava histórias para dormir, a mãe que jamais me falou algo relacionado a Katherine... uma memória que achei estar perdida em minha mente, vem a tona. Ela me falava sobre uma mulher, exatamente como Katherine, ela dizia que se um dia eu a visse, deveria avisa-la. Meus olhos doem e mais lágrimas joram, ela sempre teve esperanças, sempre esperou...
A música se torna mais alta conforme entro no segundo pátio, olho para as pilastras e os corredores de cima, pessoas e mais pessoas, mas nada dela.
Sinto um calor em minhas costas, como se fosse o sol, olho para o céu e vejo que ele já está se pondo. Hearing Damage- Thomas Yorke sai pelos alto falantes, sempre repetindo, como em loop. Viro-me e sou atraída para a figura de preto do outro lado do enorme salão, Klaus. Sua postura é ereta e ele parece sério, mas em seu rosto eu vejo... dor? Meu coração da uma enorme pulsada, e me assusto. Cada pelo do meu corpo se arrepia, por mais que a música esteja alta, um grande silêncio se faz no pátio. Olho para cima e todos estão calados, seus olhos desfocados, como se estivessem ouvindo algo. Volto minha atenção a minha frente, ele permanece ali. Seu pomo de Adão sobe e desce, consigo sentir o calor desesperado de sua respiração, mesmo estando tão longe.
E então percebo, algo que todos já estavam percebendo. Meus ouvidos estralam lentamente, minha respiração acelera, assim como os batimentos do meu coração. Sinto uma enorme necessidade de correr até ele, porquê ele está tão quieto. Uma dor enorme invade meu peito, escuro o som de vidros quebrando passar pela música, gritos e uivos enchem o ar. Meu olho ao meu redor e vejo várias pessoas estranhas caindo do telhado até o chão, eles correm até as outras, as que moram aqui e a briga começa.
É tão rápido que não consigo acompanha, pessoas são jogadas no chão e sangue começa a cair dos corredores até o chão do pátio. Gritos agonizantes, uivos terríveis. Meus olhos encontram Klaus uma última vez, ele está cercado de lobos. Eles se jogam sobre ele, ele arranca suas cabeças e sangue negro enche o chão e mancha suas roupas, e mais lobos continuam aparecendo. A música começa a repetir do começo, de novo e de novo, como se estivéssemos parados no tempo. Saio de meu transe, quando seus olhos verdes se fixam nos meus. E cada parte de mim sente, meu corpo se aquece e eu entendo. Saio de meu lugar e corro em sua direção.
Vejo apenas o apelo em sua face, o pedido para que eu me afaste, para que eu vá. Tudo está completamente tomado por lobos, híbridos, bruxas, Vampiros, Hereges, todos lutando contra eles. Sinto o último beijo do sol antes que se ponha de vez, estou quase lá, quase nele. Vejo um lobo vindo na minha direção, saco minha adaga e a deixo preparada, ele se joga e eu a levanto, seu peso cai contra mim e sou jogada no chão. Empurro-o de cima de mim e me levanto, vejo Kol cercado assim como Klaus, como isso aconteceu?
Volto a correr em sua direção, mas dessa vez não são apenas lobos que vejo, e sim bruxas. Mais de dez, vestidas em fundidas pretas, cercando-o. Um grito sobe pela minha garganta, abro minha boca enquanto corro, mas sou puxada para trás. Olho por cima do ombro, enquanto tento afastar quem quer que tenha me pegado e a vejo.
— Katherine? — digo espantada, ela não se foi, ela ficou, por mim.
Ela permanece em silêncio, seus olhos vão até Klaus e então ela começa a me puxar para dentro de uma sala, fixo meus pés no chão. — Essa não é a hora de se importar! — bato em suas mãos sobre meu braço.
— Tenho que tirar você daqui! — ela grita sobre o barulho ao nosso redor. — Então coopere!
— Ele precisa de ajuda! — puxo meu braço mas ela aperta sua mão ao redor deles.
— E pretende ajudá-lo como?
— Da maneira que eu puder, não vou fugir como uma covarde como você!
— Estou aqui não estou?
— Já tinha conseguido o que queria, por que não aproveitou e foi embora como sempre faz? — os gritos aumentam ainda mais, a maldita música continua repetindo.
— Por você! — ela grita. — fugir não é o que mais quero no mundo Ange, o que quero não pode ser alcançado, não mais. E a culpa é toda dele, e ainda assim pretende salvá-lo?
Sinto as lágrimas, e as deixo sair. Fecho meus olhos por um segundo, apenas um segundo, digo ao universo. Em silêncio eu peço, a quem quer que esteja ouvindo, por favor. Eu digo, ele sabe o que pedi. Abro meus olhos, pisco apenas uma vez, meu joelho alcança seu estômago, e me liberto de seus braços. Corro para longe dela, e então o vejo jogado no chão, coberto de sangue.
— NÃO! — o grito sai, foi inevitável, consigo sentir cada batida do meu coração, como e estivesse em câmera lenta. Tum-tum, tum-tum, tum-tum.
Sinto mãos grandes cobrir meus braços, sinto repulsa e nojo e sei que não é Katherine. Sou agarrada, estou sendo levada no colo de alguém, para algum lugar. Meus olhos permanecem no chão, com ele. As lágrimas se tornam sangue, e meu nariz começa a sangrar também. Pisco, e percebo o que está acontecendo, olho para trás e vejo um cara enorme me levando da mansão, estou sendo sequestrada. Começo a me debater em seus braços, não tenho mais voz e nem forças para gritar. Olho uma última vez para ele, vejo pessoas mortas por todo o canto, tanto dos invasores quanto das nossas.
Capturo uma figura no telhado, escondida entre uma chaminé e sei que é ela. Estou muito longe agora, não vejo nada, não vejo ele. Sinto apenas um pequeno fio de energia, me dizendo que ele está vivo, e então tudo se torna preto, como sua roupa.
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Mikaelsons e Labonairs - O Começo
VampiriUma divida foi cobrada, e agora Ângely Labonair deve viver durante um ano junto de seus inimigos naturais, e o pior monstro já criado. Numa mansão altamente protegida em Nova Orleans, onde bruxa, vampiros, híbridos, Hereges, vivem e convivem juntos...