Fim da trégua?

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*Tobirama on*

Há dias que eu sonhava com gritos de dor e ódio.

O som angustiante me fisgava e levava para aquela madrugada... Para aquela maldita madrugada fria de inverno . E o sonho era sempre igual: a reprodução daquela lembrança que tanto havia me quebrado. Eu, aos três anos de idade encolhido debaixo de uma mesa vendo os cabelos prateados da minha mãe se agitando.

Naquela noite, não pude fazer nada pra salvá-la. Fiquei estático registrando tudo, tremendo como um filhote assustado conforme mordia minha própria mão para não gritar.

E então o sonho mudava e eu já tinha oito anos. Debaixo do céu estrelado, novamente via cabelos longos se agitando numa luta, mas dessa vez eles eram escuros. Escuros e pertencentes a mãe de S/n na noite do festival.

E mais uma vez eu fui covarde demais para fazer qualquer coisa, mesmo quando os olhos suplicantes de S/n me imploraram por ajuda. Mas eu estava congelado, revivendo o pior momento da minha vida: Não consegui me mover, não consegui fazer nada para ajudar a mãe da menina que tanto havia me encantado.

O grito de dor e os olhos de sangue de S/n criança puxavam a minha consciência para outra parte do meu inferno pessoal, para a tarde de uma semana atrás: Os olhos da sua irmã, tão parecidos com os dela, olhando-me com compaixão e pena, junto a um sorriso tranquilizador e triste. Minhas mãos vermelhas de sangue inundavam a minha volta como  num oceano sangrento. 

E na minha frente,  estava S/n com seus olhos arregalados e cheios de choque, gritando enfurecida e completamente tomada pela loucura e dor. 

- " Você falhou com ela outra vez." - Uma voz cruel e maligna ria na minha mente. - " Você a perdeu de novo, Tobirama Senju."

Acordei num salto. 

Ofegante, eu tremia dos pés à cabeça. Suor frio escorria pelos meus cabelos e peito nu, ensopando os lençóis da minha cama. 

Ainda era de madrugada, mas o céu não tinha estrelas: nublado e sem vida. Olhei no relógio da minha mesinha de cabeceira para constatar a hora exata. Três e meia da manhã. Era um recorde, nas últimas noites eu mal conseguia completar uma hora de sono completa... três já era um avanço.

Respirei fundo e profundamente tentando me acalmar, tentando ignorar a pontada dolorosa e insistente no lado esquerdo do meu peito. 

Levantei com calma e fui até o meu banheiro jogar uma água no rosto. 

Tobirama - Você está horrível, Tobirama. - Resmunguei autodepreciativo assim que contemplei meu reflexo no espelho. 

Meus cabelos estavam mais bagunçados e desalinhados que o normal. Minha pele, ainda mais pálida, numa tonalidade doentia. Olheiras profundas e roxas circulavam meus olhos cansados e inexpressivos. Meu rosto estava anguloso e fundo, devido aos ossos que pareciam estar mais salientes. 

Ignorei a minha aparência. Eu pouco me importava se parecia um zumbi. Minha cabeça estava tão cheia de coisas, revivendo ciclos eternos de angústia e ansiedade.

Em todos esses ciclos estava presente a expressão de dor e decepção de S/n ao ver que fora a minha katana que  tinha tirado a vida de sua irmã. 

Olhos sanguinários +18Onde histórias criam vida. Descubra agora