A volta

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*Sn on*

Rever aquelas paredes pálidas repletas de roseiras brancas foi um misto de sensações.

Por um instante, senti como se houvesse saído de casa há poucas horas. Mas de forma paradoxal, a sensação pareceu-me como se estivesse longe há séculos.

Um alívio breve tomou meu peito ao perceber que tudo parecia normal. Contudo, um normal como se uma filha do clã Uchiha não tivesse sido perdida. Normal como se a outra não estivesse nas mãos dos inimigos por semanas...

Era o início da aurora naquele dia quente do final da primavera. O céu despontava num degradê entre tons de roxo, laranja e azul, rasgado por nuvens pálidas enquanto os raios solares beijavam as impressionantes obras arquitetônicas do desfiladeiro de  Honō. 

Pacífico. Em nada parecia com Uchihas numa iminência de guerra. 

Ergui o queixo e caminhei em direção ao palácio. Ao meu lar. À Nix. 

Conforme me aproximava, vários dos funcionários foram surgindo. Os murmúrios e exclamações da minha volta repentina iam me acompanhando em cada passo, mas eu sequer me preocupava em ouví-los, em destinar uma gota da minha atenção para aquilo. 

Abri as portas imensas abruptamente, fazendo o vento bagunçar meus fios ao redor do rosto.

 Senti pelo menos uma dúzia de chakras vindo de onde ficava o escritório do meu pai. Conhecia a todos: membros do Conselho de Honō. Entende-se como filhas da puta de primeira classe. 

Mas eu tampouco me importei com isso. Mais tarde eu lidaria com a burocracia. Mais tarde eu tentaria entender porquê passara um mês e ninguém mexeu um único dedo para ajudar a herdeira do clã, do trono. 

Do alto da imensa escada em caracol, surgiu Shin.

 Os olhos do meu irmão gêmeo se arregalaram ao me ver. Ele permaneceu parado, genuíno choque refletiu em sua expressão por segundos intermináveis. 

Ri em sarcasmo, uma sobrancelha erguida e as mãos cruzadas sobre o peito. 

S/n - Está tão surpreso assim em me ver, irmãozinho? 

No segundo seguinte, ele estava na minha frente. Suas íris, negras e idênticas às minhas, analisaram cada menor centímetro de mim. Suas feições em nada entregavam o que passava em sua mente. E então Shin me puxou para um abraço apertado. 

Shin - Merda, S/n! - Xingou com a voz tomada por emoção e alívio sincero. - Que merda, porra!

Eu ri, afundando o rosto na curva do pescoço do meu irmão. Todas as vezes que eu fazia algo, que o deixava preocupado, ele dizia exatamente essas duas frases. Sempre fora assim, desde que saímos do útero juntos. 

S/n - Relaxe, você sabe que eu sempre volto para casa... - Sussurrei, fazendo carinho em seus cabelos curtos e sedosos. 

Shin afastou-se o suficiente para me inspecionar mais uma vez com seus olhos atentos. Segurou meus ombros, a expressão mais séria e tensa. 

Shin - Você está bem? Está ferida? Merda, eu nunca fiquei tão preocupado durante toda a porra da vida. 

Eu ri diante da quebra de postura do meu irmão. Shin era sempre neutro, sempre sóbrio por ser o guerreiro de honra de meu pai. Ele nunca teve um genjutsu forte ou de destaque. De fato, Shin havia despertado seu sharingan tardiamente. Mas por sempre demonstrar uma lealdade infinita e se entregar de corpo e alma para o bem do clã, ele era valorizado entre os Uchihas. 

Sabia que ele seria um líder melhor do que eu. Ele agia mais pela racionalidade calma e centrada, eu pela emoção pura e borbulhante. Porém, segundo as tradições do clã, aquele que deveria herdar a liderança não era o primogênito, tampouco o filho homem: era o prodígio entre os irmãos, ou seja, o que despertasse o sharingan primeiro. 

Olhos sanguinários +18Onde histórias criam vida. Descubra agora