capítulo quatorze.

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Hannah ㅣ Passado.

A primeira fase do fim é a negação.

A negação chega de forma tão avassaladora que não te faz sentir absolutamente nada, e no primeiro momento foi isso o que senti: absolutamente nada.

Não soube processar a informação que me foi jogada como uma bomba.

Eu não consigo acreditar.

Pego o celular da mão de Liz e observo o post pela segunda vez, analisando cada letra para que eu não tenha entendido errado.

Acredito que a negação seja um método que o coração utiliza para desejar ter aquilo que está prestes a acabar por mais um tempo. Só mais um pouquinho. Um suplício. Um vestígio.

Eu não queria que acabasse. Eu não queria que fosse verdade. Eu não queria acreditar.

A ideia de que pudesse ser verdade era expulsa da minha cabeça e do meu coração.

Como é possível? Por que ele fez isso?
Ele tinha me enviado uma mensagem dizendo estar apaixonado por mim há uma hora atrás. Ele me disse que não queria namorar e agora está oficializando um namoro com uma outra pessoa?

Eu me odiei por um instante, e percebi que estava entrando na segunda fase: a raiva.

Eu não culpei Louis, eu me culpei.

Como não percebi o que estava debaixo do meu nariz todo esse tempo? Como pude ter a ingenuidade e inocência de uma criança de cinco anos? Os encontros somente em minha casa, todos tarde da noite, todos durante a semana.

Era óbvio. Era nítido. Era uma questão de tempo. Essa era a razão pela qual ele nunca quis se envolver. O porquê eu nunca conheci sua casa, seus familiares, sua vida. Sete meses e eu conhecia ele só entre as quatro paredes do meu quarto.

Eu voei alto demais e o tombo foi maior ainda. 

Era só eu ter reparado um pouco mais que eu perceberia que na vida dele não havia espaço para mim. Eu era apenas o sexo de passatempo.

Eu jamais seria o grande amor de alguém.
Eu poderia ser a mulher por quem ele caia de joelhos num quarto, mas não era a mulher com quem ele oficializaria nada.

Liz me observa com os olhos mais abertos que o normal.

ㅡ Hannah, eu sinceramente não sei o que está passando na sua cabecinha agora, mas, ㅡ ela parece buscar as palavras certas para tentar me consolar ㅡ  nem por um segundo eu quero que você pense que isso é culpa sua.

A voz de Liz causa ecos na minha cabeça e eu não raciocino bem. Ela pega o celular da minha mão e trava a tela.

ㅡ Hannah, você é tão linda. Tão amável, tão doce. Você está me ouvindo?

O namorando após o nome de Louis me causam sensações estranhas. Eu suspiro alto e sinto os dedos de Liz encostarem em minha mão.

ㅡ As pessoas nos ferem não porque não somos suficientes, ou porque permitimos que façam, mas porque está nelas. Ninguém que é ferido terá culpa, a culpa é de quem fere, quem engana, quem prejudica. Eu sinto muito por você, Hannah, mas eu sinto muito mais por ele, por ter perdido você.

As palavras de Liz me fazem entrar no terceiro e último estágio: a tristeza.

Abaixo a cabeça e cubro meus olhos com as mãos e finalmente me permito chorar. Baixo, contido e sofrido.

Finalmente a ficha caiu: eu fui enganada.

Eu quis tanto ser amada que paguei um preço alto demais. Acho que no fundo, sempre tive um trauma pelo abandono do Phillipe. A rejeição nunca me coube bem. No fundo, eu esperava que um dia Louis viria me procurar dizendo que não queria mais continuar tendo sexo casual comigo. Sempre acreditei que seria rejeitada por ele uma hora ou outra.

Mas enganada? Enganada não.

Ele nem deve saber que eu sei. E me dói ter que ser a portadora da notícia. Queria que ele apenas soubesse, e que nosso laço fosse cortado sem que eu pudesse olhá-lo. Apenas espero que ele tenha a decência de não me procurar mais.

Me sinto suja, me sinto usada, e lembro que quebrei todas as minha regras por ele.  Sinto um enjôo repentino e quando finalmente levanto a cabeça é para vomitar no chão da sala.

Liz segura a minha testa enquanto vomito tudo que tenho no estômago. Eu estava transando sem camisinha enquanto ele estava namorando outra.

Eu imaginei inúmeros cenários na minha cabeça. Ele me dizendo que a notícia era mentira, que era brincadeira. Que foi uma pegadinha que os amigos fizeram. Que foi amor à primeira vista. Que era um amor antigo. Que era chantagem. Qualquer coisa, mas nenhuma delas aliviava o meu coração.

Eu por um segundo cogitei que pudesse ser mentira. Mas por que seria?

Ele me tinha no Facebook, ele sabia que eu veria, mas ele não se importou. Ele nem ao menos pensou em mim.

Eu sou tantas coisas. Talvez uma infinidade de defeitos e manias, algumas qualidades... e mesmo sendo muitas coisas, ainda assim não sou nada pra ele.

Liz espera pacientemente que eu vomite tudo e então me leva para o meu quarto e me dá um banho rápido, apenas para tirar os vestígios de sujeira da minha pele. Choro sem perceber. As lágrimas simplesmente rolam.

ㅡ Han, ele não te merece. Não fica assim. ㅡ Liz afagava meus cabelos. ㅡ Eu não sei porque ele foi tão filho da puta, eu só sei que você não merece estar passando por isso. Você é linda e merece mais, tá me entendendo?

Eu apenas concordo com a cabeça, impossibilitada de dizer qualquer coisa. Liz me veste com um pijama largo e deita junto comigo em minha cama.

Eu estou tão cansada, decepcionada e triste que pego no sono instantes depois, chorando até dormir.

Quando acordo, Liz está na cozinha preparando um café.

ㅡ Bom dia, Han. Vai à aula hoje? ㅡ Ela me pergunta com cautela enquanto serve o café preto em uma xícara.

ㅡ Vou, não posso faltar. ㅡ Eu digo baixo.

Sei que Liz não irá me perguntar como estou. Ela me conhece bem demais para isso, então ela apenas sorri e passa o prato com torradas para mim. Nós comemos em silêncio. Ela sabe que quando eu estiver preparada irei conversar, mas não estou preparada agora.

E pensar que o que estou sentindo nem se compara com o que eu senti com Phillipe, após dois anos de namoro. A intensidade das coisas não é medida com o tempo, e eu estava aprendendo isso na pele.

Passei o dia no automático. Assisti aulas no automático, fui para o estágio e trabalhei no automático, voltei para casa e estudei no automático, e estou tomando meu banho no automático.

Louis me mandou bom dia, como sempre fazia, mas eu não respondi. Me enviou mais algumas mensagens aleatórias durante o dia, mas eu não fiz questão de lê-las, apenas deixei o meu celular de lado.

Quando deito em minha cama, ouço batidas na porta e meu coração se acelera. Não é possível que seja ele. Caminho até o corredor e olho no olho mágico antes de abrir a porta e me deparar com Louis me olhando, com um sorriso de quem não sabe que partiu meu coração em milhões de pedaços.

ㅡ Oi, linda. ㅡ Ele diz e eu sinto como se pudesse cair de joelhos no chão do meu corredor.

SUBTOM - L.TOnde histórias criam vida. Descubra agora