capítulo quinze.

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Presente ㅣ Hannah.

Chego em casa e desabo. Choro por ter sentido tudo que senti há um ano e meio atrás. Os lábios, os toques, o cheiro, a presença tão avassaladora e destruidora que é Louis na minha vida.

Eu nunca superei.
Eu nunca superarei.

O sentimento estava enterrado em meu peito, como um trauma que fica escondido por algum tempo até que algo o faça despertar ainda mais forte do que um dia já foi.

Ele provavelmente não faz ideia do estrago que fez em minha vida, do espaço vazio e inocupado que deixou em meu coração.

Bastou apenas um beijo para que toda faísca de esperança se acendesse outra vez. Minha armadura caiu com tanta facilidade que chega a ser assustador.

Eu não quero voltar a viver o que vivi. Eu não quero sexo. Eu quero mais. Eu quero ser algo para alguém.

Eu cansei de ser um tapa buraco para aqueles que ainda não se acharam.

Eu escoro na bancada da cozinha e ouço a porta de Liz de abrir. Ela caminha até a cozinha e eu não tenho forças para erguer o olhar.

ㅡ Hannah, está tudo bem? ㅡ Ela passa a mão em minhas costas, alisando-a com carinho.

ㅡ O Louis, Liz. ㅡ Eu falo baixo, com a voz trêmula. ㅡ Ele voltou para minha vida para destruir o resto que me sobrou.

Eu não havia contado para Liz que Louis trabalhava no mesmo escritório que eu. Uma parte por ela quase não estar em casa, já que está trabalhando como designer em tempo integral e passa a maior parte do tempo livre na casa de Zayn, e a outra parte por vergonha, por medo da vulnerabilidade que viria com a minha confissão.

ㅡ Você encontrou com ele?

ㅡ Ele trabalha no escritório. ㅡ Eu finalmente levanto o olhar e me deparo com Liz com os olhos atentos e aflitos.

ㅡ E você não me contou isso? Já faz mais de um mês que você trabalha lá.

ㅡ Eu sei. Eu não tive tempo de te contar. ㅡ Eu desvio o olhar e me sento em um dos bancos da cozinha.

Liz suspira, parecendo procurar alguma coisa para me dizer. Ela se senta ao meu lado e apoia a mão em minha coxa.

ㅡ O que ele fez? Ele tentou alguma coisa? ㅡ Percebo a cautela em sua voz e tento não transparecer o quanto isso me abala.

ㅡ Ele deu algumas indiretas, algumas investidas. Mas ㅡ eu dou uma longa pausa ㅡ as coisas saíram um pouco do controle e acabamos nos beijando.

ㅡ Meu Deus! ㅡ Ela suspira chocada. ㅡ E?

ㅡ E ele me masturbou na sala do meu chefe.

ㅡ Puta que pariu, Hannah! ㅡ Ela leva a mão até a testa. ㅡ Eu esperava que você me falasse o que sentiu, e não que terminou dessa forma. Ele te masturbou na sua sala?

ㅡ Sim. ㅡ Confirmo em forma de murmúrio. ㅡ E como sempre, eu gozei em questão de minutos.

ㅡ Eu não sei nem o que dizer. ㅡ Ela acaricia minha coxa. ㅡ Sinceramente! Eu só tenho medo de onde isso vai parar. Sei como você ficou depois que as coisas terminaram e não quero que você sofra de novo.

ㅡ Eu sei. ㅡ Digo suspirando. ㅡ Eu também não quero passar por tudo isso de novo. Eu não consigo ficar perto dele, Liz. Parece que todo o meu corpo dói, porque faço um esforço tremendo para esconder tudo o que eu realmente sinto.

Ela me olha com carinho e ajeita uma mecha de cabelo que insiste em cair no meu rosto.

ㅡ E o que pretende fazer? Evitá-lo?

ㅡ Não. Isso é impossível. ㅡ Esfrego os dedos de forma nervosa. ㅡ Eu vou pedir demissão no estágio. Eu não consigo vê-lo todos os dias, eu não consigo ter a presença dele no mesmo ambiente. Eu sei que esse estágio é uma oportunidade única, mas eu só comecei porque ele me daria experiência em outra área. Eu nem quero atuar na área penal de qualquer forma. Eu tento segurar as pontas com a mesada que meus pais me dão, até conseguir um outro estágio.

ㅡ Tudo bem. Eu te apoio no que precisar. Além do mais, você já está se formando e esse estágio não vai fazer tanta diferença.

Eu concordo com a cabeça e me despeço de Liz, indo para o meu quarto. Tomo um banho demorado, tirando todos os vestígios que Louis causou em meu corpo e me deito na cama, esperando com ansiedade pelo nascer do sol.

...

Chego ao escritório mais cedo e vou direto para o RH. Invento que consegui um emprego formal para anunciar a minha desistência do estágio. A mulher loira me sorri em condescendência e acerta comigo os dias trabalhados. Apesar de achar que não receberia muito, o salário desse estágio é um dos melhores, então recebo uma quantia razoável, que dará para pagar a parte das minhas despesas em casa no próximo mês. Sorrio, assino os papéis e saio da sala dela.

Vou até a minha antiga sala e comunico a Malcom o motivo da minha saída. Ele parece desapontado por perder a estagiária, mas me abraça me desejando coisas boas. Eu agradeço do fundo do meu coração, pois sei que aprendi muito com a experiência e paciência dele.

Pego o restante das minhas coisas pessoais que deixei na sala e me despeço mais uma vez, agradecendo Malcom por tudo. Ele me cede um sorriso gentil e me diz que se eu quiser voltar, as portas estarão sempre abertas.

Caminho para o corredor e me despeço de Daisy, avisando que estava saindo do estágio. Ela me abraça e me deseja praticamente o mesmo que Malcom, e sem olhar para trás eu saio do escritório.

Chego em casa e me jogo no sofá. Há muito tempo não tenho uma manhã livre. Antigamente era por causa da faculdade, que eu transferi para a noite, pois a maioria dos estágios eram de manhã, e agora era por causa do estágio, mas não tenho mais que preocupar com isso. Assisto alguns programas na TV até perceber que já são onze horas. Me levanto e preparo um almoço rápido. Faço um arroz e uma lasanha pronta e levo até o sofá para que eu possa terminar de assistir as baboseiras que passam na tela.

Acabo de comer, colocando o prato de lado, e começo a cochilar quando ouço batidas na porta. Me levanto sonolenta e abro, sem antes olhar no olho mágico.

Me deparo com Louis, com um terno azul marinho que contrasta com seus olhos. Seu cenho franzido e seu semblante nada amigável analisam meu rosto. Ele hesita e então abre a boca.

ㅡ Por que pediu demissão do estágio, Hannah? Ou achou que ninguém iria me contar?

SUBTOM - L.TOnde histórias criam vida. Descubra agora