Sobre provas, ódio, dominação global e crocs

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Todo mundo sabe que universitários são uns fodidos. É tão natural como a luz do Sol.

O negócio é que existe um período chamado "semana de provas", onde até os mais bundudos dos estudantes ficam retos como uma tábua de tanto tomar naquele lugar.

Eu estava entre esses desgraçados.

Com energético correndo nas veias ao invés de sangue e minha dieta baseando-se em meu próprio ódio, tentava entender o que Augusto queria para a prova no dia seguinte.

Por alguma razão, Solace decidiu que sentar-se ao meu lado para estudar para seus próprios exames era uma boa ideia. Tinha duas latas de energético ao seu lado, um computador mostrando quinze imagens de tecidos humanos praticamente idênticos e duas bolsas debaixo dos olhos para carregar o peso de ser estudante de medicina.

— Eu devia largar tudo e vender miçanga na praia. — ponderou, tomando mais um gole de energético.

— Eu podia ser assassino de aluguel. É só me irritar e tu já 'ta bem enterrado há sete palmos da superfície. — segui a brincadeira, relendo o mesmo parágrafo pela nona vez seguida.

— Eu vivo te irritando e continuo vivo.

— Ainda, Solace. Ainda.

     O mencionado riu e vi-me incapaz de segurar um sorrisinho.

— Me sinto especial.

— Realmente, tu tem um lugar especial na minha lista negra.

Aw. Eu 'to no primeiro lugar?

— Não. O Augusto que ', seguido pela Umbridge de HP e pela criança que eu não lembro o nome que estudou comigo na quarta série e roubou o meu último bolinho de chocolate. — enumerei com seriedade — Daí vem você.

— Eu diria que me sinto menos especial por isso, mas também quer dizer que ' não me odeia tanto assim.

     Levantei uma sobrancelha, perplexo, sem no entanto dizer algo. Trocamos olhares – céu azul contra terra batida – por longos segundos.

     Solace suspirou. Esticou a coluna – que estralou – ao coçar a nuca e explicar:

— Eu sei que eu não sou ... fácil de lidar. — escolheu bem as palavras — Eu posso te "obrigar" a ficar por perto, mas não a gostar de ficar por perto. É ... menos mal saber que ' não me odeie por completo.

     Meu queixo foi ao chão – quase (quase!) literalmente falando.

     É. Eu não fazia questão de fingir amar a companhia do Will, mas não é como se eu odiasse a companhia dele.

     Will é teimoso, irritante, nerd, injustamente bonito e mais uma lista de coisas que torram com a minha paciência diariamente ...

     ... Mas ele se importa. Ele, por mais que me custe a admitir, cuida de mim. Assim como a Bianca cuidava.

     E isso assusta.

     Tantos anos sem ela fizeram com que aprendesse a me virar sozinho. Ter alguém checando se você comeu, se está com frio, se seu dia foi ruim ou bom todos os dias trás um caminhão de mudanças.

     Claro que eu tinha o Jason, a Reyna e até Percy e Annabeth, mas nenhum deles se esforçou como Will para estar sempre lá, sempre exigindo que eu cuidasse de mim e me obrigando a tirar pelo menos um cochilo no trem depois de madrugar terminando trabalhos.

É mais fácil sair pela tangente e fingir não gostar disso tudo.

Só que esses anos de solidão fizeram com que eu também esquecesse que as pessoas ao meu redor sentem coisas específicas dependendo do que eu faço e digo.

E o mané aqui decidiu ser babaca com o Will de propósito p'ra ver se ele ia embora e o mal amado não foi, e isso tem consequências.

Quis bater de cara com a parede. Repetidamente. Por horas a fio.

Mandei o que pude do meu orgulho para a puta que pariu e forcei-me a falar:

— Se eu realmente não quisesse você por perto, eu teria chamado a polícia ou o caralho a quatro. — falei, e saiu mil vezes pior do que deveria, então tentei concertar — E, de qualquer forma, os irmãos do meio irritantes precisam se unir p'ra dominar o mundo.

É, eu não sentei na graxa: pulei numa piscina de graxa. Parabéns, Nicolas di Angelo.

Solace soltou um bufo que caracterizava o início de sua risada.

— Vamos ter uniformes iguais dos clones de Star Wars no nosso exército?

"Ok, talvez a piscina de graxa fosse infantil"

— Que tal fantasias de dementadores?

— Por que só um se tem os dois? — seu sorriso brincalhão chegou às orbes cor-de-céu cansadas — E vamos colocar a música tema do Império no quartel general!

— E nossos guarda-costas vão se vestir como espartanos gostosos.

— E vamos tornar os crocs um item estiloso!

— Isso é humanamente impossível, Senhor Irritante ...

Recebi um discurso sobre como padrões de beleza são relativos com a duração de trinta minutos por parte de Solace – e, estranhamente, nunca me senti tão à vontade com ele.

Primeira escolha [Solangelo]Onde histórias criam vida. Descubra agora