Sobre belos olhos cor-do-céu

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     Quem via-me caminhar pela rua a caminho do metrô pensaria que o conteúdo em meu copo térmico típico de cafeteria era café puro, forte e sem açúcar.

     Acontece que eu acho coisas amargas um horror, então era só cappuccino com canela e creme.

     Ao sentar no banco, soltei um longo suspiro e fechei os olhos.

     Coisas a fazer no dia: (1) pegar o trem para a faculdade, (2) ter aulas que dão vontade de colocar as horas de sono em dia, (3) tentar pelo menos organizar os trabalhos e lições de casa da semana, (4) comer alguma coisa para apenas não desmaiar de inanição, (5) cuidar da Hazel, (6) não dar hambúrgueres à Hazel para a Perséfone não arrancar o meu couro.

     Abri os olhos novamente, tomando um gole generoso de minha bebida. Soltei um "hmmm" inconsciente por sua doçura e calor.

     Uns minutos depois, percebi que alguém encarava-me. Tentei ignorar, mas quem quer que fosse, continuava encarando-me.

     "Eu não pareço tão zumbi, hoje!"

     Olhei ao meu redor, procurando a dita pessoa.

     A última coisa que esperava era encontrar um par de orbes tão azuis que o céu em dias ensolarados de verão teria inveja.

Quase engasguei com minha própria saliva. Eu ser capaz de enxergar olhos dessa cor significava apenas uma coisa: a pessoa dona de tais orbes era uma de minhas almas gêmeas.

Uma pequena parte de meu cérebro pensava em como a pessoa devia achar meus olhos castanho-escuros entediantes.

     A pessoa em questão tinha a pele bronzeada num tom cobre (de dar inveja) salpicada por sardas fofas. Seu cabelo bem loiro formava cachinhos tão delicados quanto os dum anjo. Usava uma camiseta preta com pontos brancos feito estrelas com os dizeres "may the force be with you".

     Parecia ser um homem da minha idade, mas tirar conclusões sem nem falar com a pessoa é errado, então quem sabe?

     Minha alma gêmea levantou-se, vindo até mim. Meus batimentos cardíacos aceleravam a cada passo dado pela pessoa.

     Parou em minha frente, analisando-me melhor antes de dizer:

— Quer dizer que o destino fez a alma gêmea de um estudante de medicina um cara que parece desconhecer o conceito de "saúde"?

     Ele (acho que esses são seus pronomes) falou pouco, mas já tirou-me do sério.

Como é que é!?

— Sem ofender ... se bem que acho que já ofendi ... bom, ' é mais pálido que papel e tão magro que sai voando na primeira brisa. Quer que eu pense o que!?

— Não é porque você é a minha alma gêmea que pode ficar falando assim comigo!

— Eu já falei: sou estudante de medicina, Lorde das Trevas Trevosas. Mesmo que não seja coisa de alma gêmea, é coisa de médico!

     Havia um banco vago ao meu lado, e ele sentou-se sobre ele.

— Que foi!?

— Vou do seu lado. Capaz de ' desmaiar de inanição no meio do caminho. Aliás, anota meu número aí e me dá o seu.

P'ra que!? Te ter me enchendo o saco 24 horas por dia!?

— Vai logo, Lorde das Trevas. Ordens Médicas.

     Bufei, salvando seu contato como "Senhor Irritante" e mandando mensagem para ele salvar o meu número.

— A propósito: Meu nome é Willian Solace, mas pode me chamar de Will.

— ... Nico di Angelo.

Uuh. Combina contigo. Mas vou continuar te chamando de Lorde das Trevas.

— Fica quieto, Senhor Irritante.

— Alá. O sujo falando do mal lavado!

Cala a boca.

     O Universo só podia estar de brincadeira comigo.

Primeira escolha [Solangelo]Onde histórias criam vida. Descubra agora