O vazio

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Já se passaram quinze dias desde que os meus pais morreram. É tão silenciosa a nave que às vezes queria gritar e sair daqui o mais rápido possível.

Ainda tem bastante comida, dá para mais alguns dias, mas quando acabar, terei que procurar.

Talvez seja perigoso, mas é para minha própria sobrevivência.

Não sei se irei durar muito tempo com essa nave, ouço alguns estalos da asa e a corrente se arrastando pelo metal da nave. Isso me assusta, apesar de estar sozinha.

E não consigo mais dormir, tenho pesadelos toda vez que tento.

É tão frio aqui em cima.

É tão vazio.

É tão... Assustador.

Os meus pesadelos sempre são os mesmos. Em uma hora estou com eles… Até que tudo começa a escurecer e eles desaparecem e eu começo a cair. Há uma água no final da queda que me sufoca aos poucos, tento subir, mas não consigo. São minutos angustiantes, até que fecho os olhos lentamente enquanto afundo sobre a água, e quando eu os cerro finalmente, apenas pedindo para que aquela dor acabasse, sinto o chão e acordo sobressalta do meu pesadelo, eu estava toda suada como sempre acontecia.

É tão horrível, sinto medo de dormir e não acordar nunca mais...

Não tem nada para fazer na nave, fico observando a paisagem do vazio. Um dia eu fui tentar achar algo, além de um pouco mais de comida e acabo achando um caderno com um lápis.

Comecei a escrever como estão indo os meus dias na nave; Sempre é a mesma coisa.

Fico imaginando se alguém conseguiu escapar de lá, não acho que todos tenham realmente morrido. Espero profundamente que não.

Tenho saudades das flores, aqui não tem nada, além de botões. Eu queria ter alguém para conversar, às vezes converso sozinha, até que... Não é tão ruim.

Sinto falta de minha cama, o chão é muito gelado e duro.

Desenho algumas coisas para poder me acalmar, já que a ideia de dormir e nunca mais acordar não é um pensamento tão legal...

Eu gosto bastante de mariposas, eu amava procurar elas e pegar para colocar nos pontinhos, junto com o meu pai. Sempre que terminávamos de pegar as mariposas, eu e ele soltávamos elas perto do lago e observávamos as outras que haviam por ali.

Até que observar o espaço não é tão ruim, ele é tão encantador quanto as mariposas.

Minha mãe gostava bastante das montanhas. Ela me ajudava a desenhar, eu amava desenhar junto ela. Achei um desenho dela aqui na nave também, tentei fazer um parecido, não ficou tão legal.

Na parede da nave, há um lugar onde posso colocar os desenhos, então arranquei a página do caderno e o coloquei perto do dela...

Sinto saudades do sorriso dela, era tão bonito. Sempre que ela me acordava eu sentia uma sensação de conforto… A voz dela era tão suave, eu me sentia protegida. O sorriso do meu pai era engraçado, ele parecia uma criança quando me acordava, pulava em cima de mim e sempre me fazia rir. O abraço dele era tão quentinho...

Essa lembrança me deixa feliz e, ao mesmo tempo, triste só de pensar que nunca mais terei eles de volta.

Algum dia me vingarei daqueles que mataram meus pais e meu povo.

Por que eles fizeram aquilo?

O nosso reino não era o melhor, mas eu amava... Sinto tanta falta.

Não sei se consigo… Eu não conseguir salvar meus próprios pais, como eu vou salvar a mim mesma? Todo dia me culpo por isso, sinto que não fui o suficiente.

Será também que algum dia eu irei conhecer alguém que me ame como os meus pais me amaram?

Tenho tantas perguntas que nunca terão respostas.

Tenho medo de tudo, até da minha própria sombra, como irei vingar aqueles que foram mortos? Não sei se consigo, será que devo desistir de tudo e deixar a morte me levar?

Daqui a quatro dias será o meu aniversário, irei fazer onze anos. Sei que só sou uma criança, mas talvez eu possa conseguir… Ou não.

Não sou igual as outras crianças, sou inteligente, sei controlar uma nave... Meu pai me ensinou para que se algum dia eu estivesse sozinha em uma.

Pelo visto, isso ajudou bastante. Ele me ensinou a roubar uma, caso eu estivesse em perigo e precisasse urgente de alguma nave.

Ele me ensinou a sobreviver, parece que ele sabia que algum dia iria acontecer isso.

Os meus únicos amigos eram os meus pais, eles que me ensinaram tudo que eu sei.

Eles eram perfeitos.

Sempre tiravam um sorriso meu todos os dias... Era tão incrível.

Toda vez choro quando lembro que eles morreram...

Quanto tempo vai demorar para eu ser igual a eles? Fortes, corajosos, sempre se mantiveram firmes mesmo quando o nosso reino estava em ruínas.

Talvez Odin não gostou da ideia de um pouco do nosso povo terem ido para Asgard, egoísta.

Meu pai nunca gostou dele, sempre falava que ele era um mentiroso egoísta. Talvez aquele exército de soldados e guerreiros eram dele.

O nosso não conseguiu...

Espero algum dia sair dessa nave, ainda não sei quanto tempo irá durar. Tomará que ter aprendido a roubar uma nave me ajude.

Não é tão difícil, você só tem que ir por baixo, mexer em alguns fios para quê a porta se abra, mas tem que tomar cuidado, se você fizer algo de errado a nave não voará ou irá explodir... Ainda não sei porque criaram um modo de destruição.

Uso a mesma roupa deste que entrei na nave, é bem nojento. Não há outra roupa então não posso reclamar... Mas continua sendo nojento.

Bom... Eu vou tentar dormir, mesmo com um certo medo, mas escrever ajuda a relaxar e esquecer tudo que aconteceu, e minha mão está doendo, acho que vou parar por hoje.

Espero que os próximos dias sejam diferentes. Espero que tudo volte ao normal e eu prometo não desistir de nada... E vingar aqueles que foram mortos.

Até a próxima.

Continua...

A recompensaOnde histórias criam vida. Descubra agora