De volta pra casa

40 18 17
                                    

Passei a viagem toda sem trocar uma palavra com meu tio Paul, irmão de  meu pai. Ele falava alguns assuntos aleatórios, tentando me animar mas eu o ignorava. 
Eu estava cansado, só queria poder acordar desse pesadelo e voltar pra minha vida de antes.

—Chegamos!

Tio Paul disse ao desligar o carro. Abriu a porta e saiu indo em seguida até  o porta-malas. Pegou minha única mochila enquanto eu fiquei ali por alguns segundos tentando aceitar a situação. Respirei fundo,abri a porta do carro e sai também.
Olhei para o bairro que não havia mudado nada desde minha última vinda aqui, a mais ou menos um ano.

Os mesmos vizinhos, a mesma senhora  fofoqueira na varanda, a mesma placa de trânsito com marca de tiro ou seja lá o que for aquilo,a mesma caixa de correio com defeito...

Logo a porta da casa se abriu, Rebeca veio  em nossa direção. Em seguida  um pequeno cachorro labrador a seguiu.

—Meu filho... ela disse me abraçando

Seus olhos estavam vermelhos revelando que havia chorado a pouco tempo. Me abraçou forte e por alguns minutos me permiti sentir seu abraço mas logo a afastei. Me abaixei e peguei o pequeno animal no colo.

—Ele é seu, ela disse―Ganhei da Susan que possui uma ninhada, achei que fosse gostar.

Sorrio para ela mas minhas palavras não saíram. Ela nos convidou para entrar mas meu tio se negou pois ainda tinha um compromisso a noite.

—Josh,as suas coisas chegarão amanhã  okay? A transportadora me avisou hoje cedo. Eu vou indo então, tenho uma reunião logo a noite, ele disse olhando no relógio.
—Eu vou deixar vocês a sós para se despedirem com calma,

Rebeca saiu e nos deixando a sós.

—Eu não quero ficar aqui tio, aqui não é  minha casa, nunca foi.

—Josh...nós já conversamos sobre isso.
No momento eu não posso fazer nada, o juiz determinou que você ficasse com ela por um ano, até você completar pelo menos seus 18 anos. Eu te amo, mas não há mais nada que possa ser feito. 

Fecho meus olhos tentando conter minha revolta

—Okay...
—Vou indo, prometo te mandar mensagem e te ligar todos os dias. Eu te amo meu menino, você é minha única família agora.

Nos despedimos, ele me entregou a mochila, coloquei o cachorro no chão e saiu em seguida. Fiquei parado até que ele virasse a esquina e sumir das minhas vistas. Me virei e minha mãe estava na porta, suspirei e fui até ela entrando a seguir dentro de casa.

A casa estava do mesmo jeito de sempre, silenciosa e organizada. Tudo limpo e arejado. Ela me levou ao meu quarto que sofreu uma mudança. Móveis novos,um quadro de skate na cabeceira, uma estante com livros e uma escrivaninha.

—Gostou?O que achou? Se você quiser mudar algo, faça pois é seu esse quarto. Todo seu.
—Não,respondi―está legal. Obrigado, agradeci.
—Que bom que você gostou. Então eu vou deixar você se trocar, preparei um bolo de chocolate pra nós, aquele que você sempre gostou, com cobertura de brigadeiro branco.

Sorrio para ela que tentava me animar,
me sentei na cama, ela saiu me deixando sozinho. 

Sinto um vazio dentro de mim, uma tristeza que jamais poderia explicar em palavras. Um sentimento de revolta e injustiça não poder escolher o próprio destino, ter que conviver por pelo menos um ano com uma "desconhecida", pois é o que minha mãe é pra mim. Eu nunca tive muito convívio com ela, não sabemos muitas coisas um do outro. Sei que ela está se esforçando pra se adaptar também a tudo isso, mas é muito difícil pra mim.
Meu pai era meu melhor amigo. Éramos não  somente pai e filho. Ele sabia todos meus segredos, éramos confidentes mas ele se foi naquela manhã sem nem ao menos dizer um último adeus.

Luna Onde histórias criam vida. Descubra agora