Luna

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Seus olhos eram curvilíneos, em tons esverdeados,
seu nariz pequenino e com leve arrebitamento.
Sua boca bem desenhada lembrando uma pequena maçã vermelha. Algumas pintinhas pelo rosto, cabelos negros e pele bem branca, quase pálida. Bem magra,pescoço fino destacando uma gargantilha em barbante preto com uma cifra como pingente.
Um aroma doce e infantil invadiu minhas narinas,
ah que cheiro bom.

O mundo pareceu paralisar, girando em câmera lenta ao me deparar cara a cara com a garota.

―Oi? Você deve ser o Josh? ela interrompe o silêncio.
Fico nervoso ao ouvir sua voz rouca, mas logo respondo,

―Sim, e você é?

―Me chamo Luna, trabalho com sua mãe no colégio em meio período.

A garota de cabelos negros e pele pálida sorria ao estender sua mão a mim, fico sem ação, ela em seguida recolhe a mesma, fica sem jeito e envergonhada,
ao mesmo tempo que sinto remorso pelo meus bons modos ou pela falta dele.

Ela se abaixa colocando o pequeno cachorro no chão que sai em direção a cozinha,

―Sim, respondo com a voz embargada—Você precisa de algo? pergunto,

―Sua mãe me pediu para buscar seu cachorro no pet e fazer algumas compras pra ela, você pode me ajudar a retirar do carro?

bufo revirando os olhos com seu  pedido mas concordo,

Sim,confesso, meus bons modos estão bem ausentes

―Okay!

Me dirijo ao carro com ela e a ajudo com as sacolas. Entramos em casa e colocamos em cima do balcão em madeira na cozinha 

—Trouxe tudo que estava na lista. Sua mãe disse que você adora chocolate.

―Rebeca disse isso? Pergunto com desdenho, ela me olha surpresa com o fato de eu chamar minha mãe pelo nome

—Sim, me pediu para trazer sorvete de chocolate, algumas trufas e barras de chocolate. Pediu também...

―Acabou? Eu estou um pouco ocupado agora.

A garota me olha constrangida e assustada me entregando a última sacola de compras,

―Certo, eu então vou indo então,me desculpe te incomodar.

Fico em silêncio e o sentimento de culpa me domina.
Ela se dirige até o carro saindo em seguida.Vou até a porta para fechar e vejo algo brilhante caído na escada.
Abaixo e percebo que ela deixou cair seu cordão.
Corro até o portão então vejo o carro virar a esquina e sumir de vista.

Entro em casa com o colar em mãos o coloco na mesa, guardo as compras, e vou pro meu quarto, o pequeno peludo me segue em cada canto. Faço um carinho nele o ajudando a subir na cama.

Pego meu livro e volto a página que eu estava lendo.

Não consigo me concentrar,

Aquele olhar doce e assustado me vem à mente.
A minha grosseria com ela me faz sentir culpa,

―Poxa Josh,a garota só estava sendo educada!
Sua besta! digo,

Volto novamente a cozinha na intenção de pegar algo para comer. Passo meus olhos sobre a mesa e percebo o cordão da garota.

Pego delicadamente e percebo que precisa de concerto, o fecho se soltou do cordão.

Me dirijo a gaveta da cozinha e por sorte encontro um pequeno alicate. Me sento e consigo concertar o pequeno cordão, me fazendo sentir um pouco menos culpado pela minha grosseria.

Levemente sinto a fragrância que senti quando ela veio a pouco, sorrio  involuntariamente.

―Luna... que nome peculiar,

Guardo o cordão no bolso e vou a geladeira. Pego o leite e preparo um achocolatado, coloco alguns biscoitos em um prato e volto para o quarto.

Sozinho novamente consigo me concentrar em minha leitura. O pequeno cachorro dorme na beirada da cama em sono pesado. Logo termino meu capítulo e escuto uma mensagem chegar em meu celular.

Meu tio avisando que a transportadora está a caminho, tiveram um pequeno problema com o caminhão, mas logo de manhã estarão aqui. Fico feliz pois minhas coisas estão todas naquele caminhão, as coisas do meu pai, seus livros e cadernos, anotações e fotos, só decidi doar a maioria das roupas deles e sapatos, o restante quero guardar, poder ter um pouco de meu pai comigo é reconfortante.

Logo após responder a mensagem de meu tio, sinto um vazio dentro de mim, vem a realidade da minha vida em mente, sei que parece egoísta da minha parte
mas é assim que me sinto.

Abro o aplicativo de mensagens do meu celular e releio pela milésima vez a última mensagem do do meu pai

Josh, coloca a lasanha pronta no microondas e arruma a mesa.

―Você está onde pai?

―No trânsito, mas vou passar na padaria antes, acabou o pão.

―Okay.

―Você quer algo ?

―Bolo de chocolate?hehe

―De novo?meu Deus, você só come isso...Está bem eu levo.

―Valeu pai, te amo!

―Bajulador, também te amo filho,logo eu tô chegando, abriu o sinal.

E essas foram nossas últimas mensagem.

Em seguida um caminhão avançou o sinal  e o tirou de mim.

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