Capítulo Quatorze

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Billie Grande Eilish

Dizer que Alie era uma lástima caçando é um enorme elogio sem fundamento algum.

Ela era terrível mesmo.

Estava toda suja e descabelada.

Com a roupa rasgada e aparentemente, ainda com sede. O que era um enorme problema para aquele momento. Tenho certeza de que quando Claudia colocasse os olhos nela, teriam um infarto, se isso é possível. Eu mesma, que nunca fui ligada com moda estava transtornada com o que via.

Eu sabia que minha filha merecia uma bronca, mas por hora fiquei tocada quando ela finalmente conseguiu um cervo grande o suficiente para ao menos aliviar à dor que ela sentia. Ariana riu tanto do jeito desastrado da filha que preferiu me deixar sozinha com ela ou acabaria atrapalhando mais do que estava. Mesmo tendo que ficar longe de Ariana, concordei.

Alice precisava de espaço.

Porém precisava principalmente de umas boas palmadas pra aprender à não brincar com ninguém. Quando o grande animal estava sem uma gota de sangue, com o pescoço quebrado e uma das patas dianteiras arrancadas para fora do corpo - por causa do uso excessivo de força desnecessária -, Alice removeu os dedos do bicho. Imagino que ela tenha segurado tão forte entre seus ombros e cabeça que seus dedos tenham perfurado a carne do mesmo.

Ela realmente estava uma nojeira.

Tanto que seus cabelos loiros estavam cheios de terra e sangue, bastante grudento, pra ser sincera. Eu queria poder saber o que ela estava pensando, mas Ariana assim que havia entendido que suas barreiras mentais haviam caído por terra com a transformação e que eu sabia demais, fez questão de bloquear a mente da nossa ex humaninha novamente.

Eu não sabia explicar se ficava aliviada ou desesperada com isso.

Suspirei e então, Alice me encarou.

Ela parecia perdida.

- Algum problema? - Perguntei por perguntar, eu sabia que havia um problema.

E um dos grandes.

- Parece que eu não estou... Satisfeita. - Ela me encarou, seus olhos estavam muitos vermelhos. - É como se todo esse sangue, não tivesse sido insuficiente!

Achei estranho.

- Você matou seis animais de grande porte, Lice. - Lembrei o óbvio caminhando para perto dela.

Ela fez uma careta.

- Eu não tinha notado. - Ela pareceu sem graça.

Senti falta do seu rosto corando. Ou dos seus olhos azuis brilhantes.

- Vamos pra casa... - Disse sem mais, nem menos.

- E-eu sei que você me ouviu... - Ela começou, encarei seus olhos e tentei encontrar os azuis que um dia foram semelhante aos meus, em alguns momentos já que os meus mudavam de cor por causa do sol, me perguntei o que eu havia feito de errado em sua criação. Alice carregava sobre suas costas um peso que ela mesmo sabia que era doloroso demais, os olhos vermelhos rubros só escondiam toda a pureza que parecia perdida dentro dela. - Eu queria dizer que...

- Filha, eu ouvi muita coisa enquanto você estava fora. - Disse firme. - Você não precisa pedir desculpas à mim, mas sim à Luna que de tudo é a mais assustada.

- Assustada? - Ela perguntou e pareceu incrédula. - Assustada sou eu que não consigo entender o que está acontecendo comigo, eu não pedi pra...

- Era isso ou perderíamos você. - Deixei que ela entendesse meu medo. - Eu jamais permitiria que você fosse embora de nossas vidas...

Ela desviou o olhar e eu entendi que aquela era uma de suas reações humanas sempre que iria chorar. Eu sabia que Ariana e eu estávamos escondendo coisas dela e de Luna, mas eram essenciais para a sobrevivência de todos. Nós tínhamos uma noção do que estava acontecendo, mas não poderíamos manter elas por perto, por hora.

A Primeira Eterna - Um Conto À Parte.Onde histórias criam vida. Descubra agora